‘Anitta faz um trabalho incrível’

fevereiro 24, 2023

O estilista Amir Slama fala da parceria com Narcisa Tamborindeguy, dos desafios da carreira e que mudou seu conceito sobre Anitta depois de conhecê-la

A moda praia brasileira é hoje respeitada no segmento e reconhecida internacionalmente. Nem sempre foi assim, e um nome colaborou – e muito – para virar esse jogo: Amir Slama. Quando ele e a mulher, Riva, criaram a Rosa Chá não imaginavam as transformações que provocariam no setor. As principais delas foram a de colocar São Paulo como ponta de lança da moda-praia e a de alçarem aquelas peças para além do ambiente praiano. Amir criou, em 2011, sua grife própria, com seu nome, e iniciou colaborações que ampliam seu público. A mais recente collab, segundo os novos tempos, envolve Narcisa Tamborindeguy e a Pinga, loja de Catharina Johannpeter, filha da musa da nova coleção. Com estamparias alegres e coloridas, as peças foram apresentadas no Belmond Copacabana Palace, em cuja piscina, aliás, Narcisa exercita-se, sempre vestindo maiôs do estilista. Se a cliente é uma estrela como Anitta ou a consumidora da C&A não faz diferença para ele, que trocou o ensino de História pela moda. “Não fujo do princípio daquilo que faço”, conta ao NEW MAG horas antes de lançar a collab no Rio. E talvez esteja aí o segredo que faz dele referência no segmento.

Como surgiu a ideia de homenagear Narcisa e, consequentemente, de assinar uma coleção com ela?

Além de ser minha amiga, a Narcisa usa há muitos anos maiôs meus para nadar todos os dias. Como as peças têm uma estrutura que ela gosta, falei com a filha dela, Catarina, que tem a Pinga (loja em Ipanema), e nós três acabamos fazendo essa collab que resultou nessa coleção. As estampas são todas inspiradas nela, com as roupas um pouco mais folgadas, respeitando o jeitão dela.

Você já criou roupas para estrelas como as cantoras Anitta e Iza. Qual o maior desafio que se impõe na hora de criar algo para uma celebridade?

É um prazer muito grande poder vestir essas pessoas que a gente admira. Não conhecia a Anitta até ter um primeiro contato e fiquei encantado. Tinha uma opinião sobre ela que mudou totalmente depois desse dia. É incrível poder fazer um look para um show, para a capa de um disco ou para uma matéria de revista e é muito gostoso fazer isso. Desde que comecei a assinar como Amir Slama, desenvolvi esse trabalho de fazer sob medida. Independentemente da coleção regular, tenho clientes para os quais faço um trabalho especial. Tenho uma cliente, por exemplo,  que gosta de um tipo de camisa e, quando ela vai viajar, desenvolvo um tipo de estampa e acabo fazendo minicoleções. Com os artistas é um pouco isso. É um trabalho que envolve estamparia, corte, ajuste de modelagem, e eu gosto muito desse processo.

Foi marmelada a Anitta não ter levado o Grammy?

Acho que sim, mas não tem problema. No próximo ela leva. A Anitta faz um trabalho incrível.

Quando a Rosa Chá foi criada, São Paulo passou a ditar regra no segmento moda-praia. Olhando em retrospecto, qual foi o principal desafio dessa empreitada?

O desafio foi o de poder mostrar às pessoas, e incluo aí a proporia imprensa, que a praia não era um privilégio dos cariocas e, sim, uma coisa brasileira. Acho que esse lyfestyle de andar a beira-mar é uma coisa do Brasil. Há essa questão da sensualidade, que é uma coisa muito nossa, e você tem isso do Sul ao Norte-Nordeste. Quando você põe na passarela modelos como uma Gisele (Bündchen) e uma Fernanda Tavares, uma loura e outra morena, uma do Sul e outra do Norte, você vê que elas são brasileiras pelo jeito de andar. Acho o povo brasileiro muito sensual, com uma mistura muito legal, única, da qual saíram um homem  e uma mulher muito particulares.

Você já desenvolveu uma coleção-cápsula com a C&A. O que norteia o teu trabalho na hora de criar algo para a consumidora de classe média?

Faço muitas colaborações, uma delas, por oito anos, para uma grife italiana chamada Yamamay que, só na Itália, tem 60 lojas. Essas colaborações fazem com que estenda o meu trabalho a outros públicos. Não fujo do princípio daquilo que faço, mas consigo, com alguns fornecedores, produzir em maiores volume e quantidade para ter um custo mais compatível e, com isso,  poder atingir mais pessoas. Tenho uma linha de pratos, com a Tok Stok, que faço há muito tempo. A pessoa pode não ter uma peça de roupa minha, mas pode ter um objeto como um prato ou uma roupa de cama, e poder me levar para casa.

Você alçou a roupa de praia para além desse ambiente. Isso foi algo natural ou muito bem planejado?

Desde o início, quando comecei a trabalhar, tinham as marcas de biquíni, feitas pelos biquineiros, como eram chamados, e não havia muito esse conceito de moda-praia. Haviam marcas estabelecidas: a Lenny já estava aí, a Blue Man, outras em São Paulo, mas eram marcas voltadas ao maiô e ao biquíni, num universo que ficava um pouco deslocado do restante. Desde o início, comecei a derivar minhas peças de praia das roupas porque não vejo essa separação entre a pessoa que anda na praia da que se veste no seu dia a dia.

Sua mãe foi uma das milhares de vítimas brasileiras da Covid-19. Vocês trabalharam juntos por longos anos. Qual o principal ensinamento deixado por ela?

Minha mãe, além de ter trabalhado comigo, morou com agente durante dez anos. Minha mãe me ensinou tudo praticamente, e perdê-la foi um processo muito difícil. Sou formado em História, aprendi sobre moda na prática e o que aprendi sobre costura foi com ela. É como diz o ditado, filho de peixe, peixinho é.

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