O verbo atuar tem também na língua inglesa o significado de brincar (to play). E Letícia Colin e Michel Melamed não somente brincam como estão totalmente à vontade em “Um filme argentino”, peça escrita e dirigida por ele e na qual os atores, casados há oito anos, contracenam pela primeira vez. “Um filme argentino” é teatro com ares de cinema num resultado que é pura farra, no sentido de ser uma diversão tanto para a plateia quanto para os comediantes.
A peça estreou no último fim de semana no Teatro Adolfo Bloch, na Glória, Centro do Rio de Janeiro, e ganhou, na noite da última terça-feira (05), sessão especial à classe teatral, muito bem representada na ocasião. A noite foi simplesmente prestigiada por Regina Casé e por Sophie Charlotte, que interpretaram mãe e a irmã da personagem de Letícia em “Todas as flores”, a novela-sensação de 2023. E lá estavam também Maitê Proença, Bárbara Paz, o casal Emílio Dantas e Fabíula Nascimento e a cantora e compositora Maria Gadú, entre muitos outros.
A peça trata da separação de um casal (Claudio e Claudia) e é ambientada em grande parte na portaria de um prédio em estilo art decó, onde Claudia (Letícia) passa a viver. Há uma sequência em que os moradores do prédio, interpretados por eles, saem para trabalhar e os dois atores têm pouquíssimo tempo para as trocas de roupa, executadas no melhor estilo “O mistério de Irma Vap”, comédia mítica estrelada por Marco Nanini e Ney Latorraca.
E a alusão não é por acaso. Da mesma forma que Ney e Nanini divertiam-se muito (e ficaram mais de dez anos em cartaz), Letícia e Michel brincam muito em cena. E isso fica evidente em muitos momentos, nos cacos e nos parêntesis abertos por ele, autor e diretor, nas pouquíssimas vezes em que ela errou o texto. Teatro é assim e, como reza aquele célebre bordão, quem sabe faz ao vivo – e eles o fazem. E muito bem.
Crédito das imagens: Cristina Granato