‘Sempre fui artista’

agosto 5, 2022

Oskar Metsavaht fala sobre parceria com Thiago Soares, inovação, sustentabilidade e o que fez da Osklen referência

Oskar Metsavaht já foi médico e, como tal, teve no corpo humano seu objeto de estudo e, no bem estar, sua atenção. Há muito que ele largou a medicina, mas não desviou o olhar do corpo e do bem estar. E uma prova disso é a Osklen, grife criada por ele e que, hoje, 30 anos depois, é reconhecida internacionalmente. A marca de moda é sinônimo de elegância, sofisticação e… sustentabilidade, pilar que ele, ambientalista antenado, faz questão de preservar. Irrequieto, a moda é uma de suas interfaces, como ele classifica. A arte é outra delas. A vasta experiência com produção de imagem não faz com que o empresário deite nos louros. Ao lado do superbailarino Thiago Soares, ele realizou “Vermelho Quimera”, curta no qual o amor e o desejo são alguns dos temas esmiuçados pela dupla. “Gosto de dizer que o Thiago ‘desenha’ com sua coreografia uma tela, e que a ‘pinto’ com meu olhar”, define ele assim a parceria nesta entrevista ao NEW MAG.

Você e o Thiago Soares são amigos de longa data e estão promovendo “Vermelho Quimera”, curta assinado por vocês. Como foi trabalhar com o Thiago neste projeto?

Apesar de sermos amigos há muito tempo e já termos trabalhado juntos (Oskar assinou a direção de arte de “Be marche: Noites de Berlioz”, coreografado por Thiago em 2019),  podemos dizer que, a cada nova criação, sempre existe um pouco de “primeira vez”. A estética da dança, do gesto e do corpo humano me inspiraram sempre. Por mais que tenha diversas experiências com produção de imagem, que tenha inspiração e referências, cada projeto é sempre novo. “Vermelho Quimera” nos trouxe esse desafio de falar sobre uma relação de amor e, ao mesmo tempo, de receio e de desejo. O Thiago tem essa questão técnica da dança e das possibilidades do corpo, e eu tenho uma questão mais visual, como esse movimento será percebido pelo olhar. Gosto de dizer que o Thiago “desenha” com sua coreografia uma tela, e que a “pinto” com meu olhar. E o nosso quadro é o resultado disso. A gente se completa muito trabalhando.

Você começou como médico e, já exercendo a profissão, resolveu se jogar no seu sonho que valeu a pena. Você teria coragem de trocar hoje uma profissão vista como estável para tentar um projeto pessoal?

Não sei se falaria em sonho, mas, sim, num grande projeto que entendi que podia ser de grande sucesso. Naquele momento, criei e produzi peças que não encontrava no mercado, com características que queria. Foquei muito no estilo, na qualidade, na matéria prima. E também não acho que a Osklen é projeto pessoal. É um projeto criado por mim, totalmente autoral. Na verdade, toda a trajetória começou com uma visão de mercado que gerou impactos em toda a cadeia produtiva. Criando desejo pelo estilo e inovação que propunha, então o consumo, no foco de como pensar a moda e em como respeitar o planeta ao mesmo tempo. Quanto às transições profissionais, são interfaces minhas, como gosto de dizer. Sempre fui artista, um esteta, que, como médico, estudou por 18 anos o corpo humano e observou e cuidou do ser humano. Esta interface me enriqueceu culturalmente e espiritualmente. A moda é mais uma interface minha. Ciência e Arte me instrumentam nas minhas criações.

Com mais de 30 anos no mercado, como você definiria a moda que a Osklen faz hoje em dia? Uma pessoa que hoje procure a grife, o que ela vai encontrar?

Oferecemos estilo e design às pessoas que querem fazer parte de uma cadeia sustentável social e ambiental transparente e importante. Aliado à originalidade de uma marca autoral, genuinamente brasileira e com qualidade e reconhecimento internacional. Oferecemos um estilo que estimula as pessoas a refletirem e a dialogarem sobre temas urgentes em relação ao meio ambiente e a sociedade,  sempre buscando uma ação. Não queremos obrigar alguém a fazer nada, mas queremos que todos queiram fazer algo pelo planeta e pelo futuro.

Você é reconhecido por seu espírito inquieto, sempre buscando a inovação. O que você planeja trazer de novo para marca nos próximos anos?

Quando pensamos na Osklen, existem dois passos muito importantes e que buscamos sempre que caminhem em sinergia: o primeiro é o estilo, a forma, o design, como cada peça será usada. O segundo, totalmente adequado ao primeiro, é a história da matéria prima. Não só a matéria como ela chega a nossas mãos, mas todo o caminho percorrido e seu impacto na cadeia de produção da moda. Para mim, estar sempre inovando é estar sempre focando nesses dois momentos. A criação aliada à busca de matérias que surpreendam, e que tenha esse respeito à natureza que tanto prezamos.

E no exterior, o que mais desperta interesse do público na Osklen?

No exterior, somos fortemente reconhecidos por nosso estilo e originalidade que expressam a cultura brasileira de uma forma universal e única. E por todo o trabalho dedicado às questões de sustentabilidade ligadas ao segmento da moda. Somos reconhecidos como pioneiros nesse trabalho sério, que busca influenciar todas as etapas da cadeia produtiva.

No papel de ativista ambiental, como você enxerga a atual política que o país vem adotando em relação ao meio ambiente?

Percebo como um momento curto e transitório. Continuamos nossos projetos socioambientais tanto na Amazônia quanto em outras regiões do Brasil. Participo, através do Instituto-E, de  várias conferências no Brasil e no exterior levando minha visão, conceitos e nossas práticas ao longo desses 30 anos. Inspirando designers, empresários e instituições neste belo e importante caminho da economia verde do século XXI.

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