‘Quero um país com crianças na escola’

fevereiro 17, 2023

Zeca Pagodinho fala dos elos com a Grande Rio, da qual é enredo, e do que espera para o país

O samba e o futebol são paixões nacionais. O mesmo pode ser dito sobre Zeca Pagodinho. Neste ano em que o Carnaval volta a acontecer em fevereiro, seguindo a tradição interrompida pela pandemia, a festa tem um motivo a mais para ser inesquecível para o cantor: Zeca é enredo da Acadêmicos do Grande Rio, tradicional escola de Duque de Caxias, na Baixada fluminense. Ao longo de cinco anos, o convite vinha sendo feito a ele que, no ano passado, acatou a proposta. Zeca tem um tempo que é dele – e é assim desde antes da fama. Jessé Gomes da Silva Filho frequentava o Cacique de Ramos quando, em fins dos anos 1970, suas composições chamaram atenção de Beth Carvalho (1946-2019), uma das maiores cantoras que este país conheceu. Pelas mãos de Beth – não à toa chamada de Madrinha do Samba – Zeca estreou como cantor, no início dos anos 1980, iniciando uma carreira que faz dele um dos artistas mais queridos do país. “Do estúdio fui para o palco, de onde não saí mais”, reconhece ele nesta entrevista por telefone ao NEW MAG.  Sucinto nas respostas, Zeca falou da forma como consome música (mantendo-se fiel aos LPs) e do que espera para o país no novo mandato – o terceiro – do presidente Lula.

Como recebeu a notícia de ser enredo da Grande Rio no Carnaval deste ano?

Há cinco anos venho sendo convidado para enredo da escola e, no ano passado, resolvi aceitar. Sou amigo do Jayder (Soares, presidente de honra da escola), do Helinho (Oliveira, também presidente de honra da escola) e de outros tantos que fazem parte da agremiação e isso contou muito para eu aceitar finalmente o convite.

Você está voltando aos palcos e reencontrando seu público após o isolamento imposto pela pandemia. O que foi mais difícil de suportar durante o confinamento?

Muita coisa. Fiquei sem poder ver meu neto pequeno, por exemplo. Minha filha pegou covid e tivemos de nos afastar. Ela tinha de ir à janela para eu poder vê-la e só podia ser dessa forma. Foi um tempo em que tudo foi para um lugar muito ruim e foi difícil lidar com tudo aquilo.

Qual o aprendizado trazido pela pandemia?

Não sei se é possível falar sobre isso. Acho cedo para destacar um aprendizado.

Cartola e Dona Zica foram pioneiros em ter, nos anos 1960, o Zicartola, que unia música à boa gastronomia. Você resgatou essa proposta e, de lá para cá, outros nomes do samba como Alcione e Mumuzinho, aderiram a esse filão. Como vê o fato de mais artistas do samba empreenderem de casas de samba?

No caso do Bar do Zeca, é importante dizer que essa iniciativa não é minha, mas do (empresário) Paulo Pacheco (do Grupo BFW). A ideia é dele. Ele quer abrir, inclusive, em Portugal e está lá vendo essa possibilidade. Acho bacana o fato de um artista ter uma casa de samba. Já estive na da Alcione e achei o lugar muito legal.

Beth Carvalho foi um nome importantíssimo na sua trajetória artística. Qual a recordação mais viva das vezes em que vocês estiveram juntos?

Uma das principais iniciativas da Beth foi a de me botar para cantar. Eu era um cara que só queria saber de compor até o dia em que ela virou e disse: “Você vai cantar comigo”. Do estúdio fui para o palco, de onde não saí mais. E devo isso à Beth.

Já assistiu ao documentário feito sobre ela (“Andança – Os encontros e as memórias de Beth Carvalho, de Pedro Bronz)?

Assisti e gostei muito.

A forma de se consumir música mudou e continua mudando. Você é ligado em streaming? Até que ponto você ficou tecnológico e até que ponto continua analógico?

Não sei o que são essas coisas. Tenho ainda meus LPs e minha vitrola para ouvi-los. Tenho muita coisa comigo. Quanto a consumir música pelo streaming, esquece! Não tenho nem instagram. Aliás, tenho, mas nem sou eu que mexo.

O samba tem revelado talentos. Qual jovem compositor merece a sua atenção?

Tem um bocado de gente bacana surgindo no meio do samba. Assim de cabeça, cito o Arlindinho (Arlindo Neto), o Diogo Nogueira, de quem gosto muito… O lance é que se eu mencionar uns e não falar de outros, isso vai causar uma ciumeira danada. Então, prefiro não citar muito.

Agora que a Cultura volta a ser tratada com dignidade como você vê o Brasil nos próximos quatro anos?

Quero um país com crianças na escola. Quero um país com educação e emprego. Uma educação primária de qualidade deveria ser a preocupação de todo político. Com educação e emprego é possível o país ir adiante e voltar a ser o país que já conhecemos.

Crédito da imagem: Guto Campos

 

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