‘Quando tiver de ir, gostaria de estar no palco’

junho 15, 2022

Luciano Szafir fala da luta contra a covid, da defesa dos estomizados, da volta à TV e do amor pelo teatro

A vida de Luciano Szafir mudou em julho de 2021. Na ocasião, o ator e empresário teve alta após lutar bravamente, durante mais de um mês, contra a covid-19. O uso obrigatório da bolsa de colostomia (retirada no último dia 11), levou-o a abraçar a defesa por mais qualidade de vida dos estomizados. O apetrecho foi corajosamente exibido num desfile da São Paulo Fashion Week e, desde então, o ator não parou de debater a questão. As mudanças na sua rotina vão além do ativismo. O artista descobriu o prazer de entrevistar, e a nova faceta é a tônica do “Casa Szafir”, gravado na sua casa, em Campinas, onde vive atualmente e, por ora, exibido em São Paulo pelo SBT. As novas empreitadas são tocadas com entusiasmo sem que abandone o prazer do teatro. O ator vai estrelar um musical em 2023 e prepara a adaptação de um texto inédito no Brasil, como revela nesta entrevista ao NEW MAG, em que fala também do orgulho de Sasha, sua filha com a apresentadora Xuxa Meneghel, e da experiência de expor a intimidade familiar no reality “Os Szafir”, exibido pelo E!.

Qual foi o momento mais preocupante no enfrentamento à Covid-19?

Há uma questão nessa doença que é o todo. A primeira questão é a dificuldade para respirar. Houve outros episódios como a arritmia (cardíaca), mas o maior medo foi o de ser entubado, até que isso precisou acontecer. Houve a questão da falta de ar e de você sentir o tubo entrando. Muitos dos episódios aconteceram comigo acordado e tudo foi muito difícil.

Quantos dias você permaneceu entubado?

Fiquei entre dois e quatro dias. Digo isso porque alguns médicos disseram que foram dois dias e outros, quatro dias. Mas a sensação é a de que fui entubado 29 vezes, pois ela afeta a sua consciência. A sensação era de que eu abria os olhos e as cenas se repetiam. Houve um momento em que acordei e vi minha irmã (Priscila) no quarto, dizendo “Oi. Vim de Portugal te ver”. Essa cena se repetiu muitas vezes na minha cabeça. Abria os olhos e minha irmã estava diante de mim falando que tinha vindo de Portugal etc. Houve um momento em que me levantei, quebrei a cama e fiquei com o braço de ferro da cama na mão. Toda essa situação foi bem difícil.

Você abraçou a campanha por mais visibilidade para os estomizados na sociedade. Em que momento resolveu abraçar essa causa?

Houve um momento em que comecei a receber mensagens de pessoas que estavam enfrentando aquela situação e chamou minha atenção o fato de todas apresentarem baixa  autoestima. Uma pessoa me relatou sobre a dificuldade de se despir para seu companheiro em razão do uso da bolsa. Outra se perguntava se algum dia voltaria a se relacionar. Nunca conheci alguém que tivesse sido estomizado porque simplesmente as pessoas que passam por esse procedimento não falam sobre isso. A questão de adaptar os banheiros públicos foi porque, algumas vezes, precisei higienizar a bolsa quando estava em aeroportos. Para a higienização é necessário, por exemplo, um espelho, pois você pode se sujar e não perceber. Então, tem toda uma questão que vai além da adaptação dos banheiros. Quero pleitear o acesso a mais bolsas pelo SUS. Temos uma batalha pela frente. A situação não é de todo ruim, mas pode ficar muito melhor.

Você apresenta no SBT de São Paulo o “Casa Szafir”. Como está sendo essa descoberta do Luciano entrevistador?

Estou adorando. As gravações são aqui em casa e já recebi convidados como (o novelista) Aguinaldo Silva e a (atriz) Sílvia Pfeifer, que são pessoas que admiro. No começo, ficava nervoso, mas fui encontrando o tom. Gosto de saber curiosidades sobre as pessoas e perguntar também aquilo que o público tem curiosidade de saber. Tenho uma equipe maravilhosa e estou tendo a oportunidade de ser dirigido pelo Herval Rossano Jr. Temos ainda a participação do Eduardo Martini, que faz minha empregada e que se mete em tudo, trazendo comicidade ao projeto. A entrevista está acontecendo e ele entra no meio, por exemplo. Então, é um programa com dois polos: tem um lado sério e outro, divertido. O programa é regional, mas é feito com qualidade nacional. Estou me divertindo muito. É um começo. Vamos ver no que vai dar.

A sua rotina em família foi exposta no reality show Os Zsafir. Como foi tomar essa decisão de se expor?

Foi tranquilo. Minha mãe (Beth Szafir) queria muito fazer. É um reality em que eles acompanham momentos da minha rotina. Um dia eles acompanharam o ensaio da peça, no outro, me acordavam e assim foi sendo feito. Se eu tivesse que ficar confinado numa casa eu não me adequaria. Admiro quem tenha esse tipo de disposição, mas essa coragem eu não tenho. Então, tudo foi sendo feito em razão da minha agenda e da disposição dos participantes. E, em razão disso, algumas gravações precisaram ser remanejadas. Tudo foi feito de forma tranquila. As pessoas podem ver que somos uma família normal, com suas qualidades e seus defeitos.

Sua filha, Sasha, descobriu-se na moda e, de certa forma, segue os teus passos e os da mãe. Como vê essa opção feita por ela?

Não a vejo exatamente seguindo meus passos porque sou ator. São outros tempos. Ela acabou se encontrando como estilista, o que faz toda a diferença. Ela tem todo um barato de desenhar a roupa, pensar no tecido e no corte. Ela já criou roupas para as amigas e muitas das roupas que ela usa nas fotos foram feitas por ela. Então, ela acabou indo além: é estilista, modelo e influencer. Já trabalhamos juntos (no filme “Xuxa em O fantástico mistério de Feiurinha”), mas interpretar não é a praia dela. Pode ser que, algum dia, ela queira seguir esse caminho. Eu a acho uma pessoa linda e maravilhosa. Tenho muito orgulho dela e, por isso, sou suspeito para falar.

Você recentemente trabalhou com o Luccas Neto, um fenômeno entre as crianças. Como foi essa experiência?

As filmagens aconteceram num momento em que a pandemia ainda estava no ápice. Éramos testados o tempo todo e tínhamos de trocar as máscaras de três em três horas. Apesar de toda essa tensão, o clima foi muito prazeroso. O Luccas é muito brincalhão. Ele é nos bastidores aquele palhaço que a gente vê nos filmes. Ele acaba incluindo muitos cacos nas cenas, o que nos dá a liberdade de improvisar também. Por outro lado, ele está atento a tudo ao redor. O clima é de brincadeira, mas uma brincadeira séria. Ele é muito dedicado e merece cada centímetro do sucesso que tem.

E a sua relação com o teatro como anda?

Amo o teatro. Quando tiver de ir embora, gostaria de estar no palco. O teatro é o meu vício. Estou lendo um texto em francês para dois atores e inédito no Brasil. É um texto antigo que vai precisar ser atualizado. Tenho já outra peça pronta e um musical para o ano que vem. Poder fazer teatro significa uma renovação na minha alma. Não quero parar de atuar e vou conciliar isso com os meus demais trabalhos.

Crédito da imagem: Rodrigo Marconatto

 

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