‘O uso das redes sociais tem de ser pela verdade’

novembro 18, 2022

Jarbas Homem de Mello fala da expectativa pela chegada do primeiro filho, da parceria com Claudia Raia e do preconceito por ser bailarino

Jarbas Homem de Melo tinha 14 anos quando “Radio Gaga” tomou as paradas de sucesso por aqui e no mundo. A canção foi a porta de entrada do adolescente no universo do Queen, que passou a ser parte da trilha sonora da sua vida. Agora um homem maduro, o artista tem oportunidade de revisitar essa paixão em “Jarbas Homem de Mello canta Queen”, que apresenta em São Paulo e que pretende trazer ao Rio em 2023. Jarbas terá, aos 53,  seu primeiro filho, fruto do relacionamento com a atriz Claudia Raia. A gravidez, anunciada no fim de setembro numa rede social, pegou o casal de surpresa e coroa um plano que acabava adiado. “Essa vontade era acalentada há dez anos”, explica ele nesta entrevista, por telefone, ao NEW MAG. A seguir, o artista fala de como recebeu a notícia, do uso das redes sociais, da parceria com Claudia e da autoestima, que o protegeu do preconceito por ser bailarino, ofício abraçado por ele tardiamente. Acendam os refletores, pois Jarbas Home de Mello vem aí.

Você será pai do seu primeiro filho aos 53 anos. De bate-pronto: qual foi o primeiro sentimento que te ocorreu assim que recebeu a notícia?

Medo. Fiquei em pânico (risos). Os olhos ficaram arregalados assim que recebi a notícia. Muitas coisas passaram pela minha cabeça e experimentei uma mistura de sensações e muita felicidade.

A vontade de ser pai sempre te acompanhou?

Sempre. A Claudia tentou a inseminação, ano passado, e não aconteceu. Essa vontade era acalentada por nós há dez anos, mas sempre pintava um musical, um papel numa novela, e o planos era adiado.

Vários artistas usam as redes sociais para comunicados. Muito se fala dos benefícios gerados como monetização e promoção de marcas. Como encontrar o meio termo entre o uso comercial e o privado?

O uso das redes sociais tem de ser pautado pela verdade, tanto para o uso pessoal quanto para o promocional. Não sou aquele tipo de pessoa que fica postando o seu dia a dia. OK quanto a quem faz. Tudo o que coloco nas redes sociais é verdadeiro. O barato é a pessoa poder mostrar quem ela é. Não me sentiria à vontade de recomendar um produto no qual não acredito. Seria como fazer uma propaganda de TV num espaço que não é o da TV. A função ali não é essa.

No show em  homenagem ao Queen, você contou com a direção de Ciro Barcelos e figurinos de Claudio Tovar, remanescentes do Dzi Croquetes. Você era bebê no início dos anos 1970. O que te levou a ter no projeto esses dois profissionais?

Meu interesse pelos Dzi Croquettes é antigo. Tenho uma amiga, a Maria do Carmo Soares, atriz e professora de teatro, que, nos anos 1970, assistiu aos espetáculos deles e seguia eles nas viagens que faziam. Ela chegou a ir a Paris com eles! Muitas das histórias que eu sei me foram contadas por ela. Soma-se a isso o fato de a Claudia ter sido pupila do Lennie Dale e também ter me contado muita coisa. Como a homenagem ao Freddie tem a ver com a questão da contracultura, achei pertinente trazer o Ciro e o Tovar, que têm ainda acesa essa proposta pós-tropicalista que era uma das marcas do grupo.

Num país como o nosso, tão cheio de preconceitos, qual foi a maior briga travada a partir do momento em que você viu que ser bailarino era um caminho sem volta?

A minha relação com a dança começou tarde. Sou gaúcho e sabia aquelas danças folclóricas, mas a minha relação mesmo com a dança começou quando eu tinha uns 20 anos…

Então você não foi um Billy Elliot?

Adoraria, mas não rolou (risos). Acho que a principal luta que se trava quando um homem decide ser bailarino é contra o machismo da sociedade. E isso se dá até hoje. O que segurou a minha barra foi a minha autoestima. Sempre liguei o botão do “foda-se” quando foi preciso e nunca dei muita bola para o preconceito.

O Rio Grande do Sul sempre foi conservador ao mesmo tempo em que nos deu grandes personalidades como Leonel Brizola e Caio Fernando Abreu. Esse pensamento mais conservador está mais latente ou sempre existiu?

Sempre foi assim. O gaúcho precisou, por muito tempo, defender as fronteiras contra os países vizinhos, o que gerou a pecha de que o gaúcho é brigão, de que todo gaúcho é macho. Por ser o último estado brasileiro, bem ao sul do país, as coisas demoravam a chegar ao Rio Grande do Sul. Tanto que, por isso, era muito comum os jovens de famílias abastadas irem estudar na Europa. Iam e voltavam cheios de boas maneiras. Vem daí a fama de que o homem que nasce em Pelotas é afeminado.

Você teve oportunidade de viver no palco o grande Charles Chaplin. O que é mais difícil em personificar um personagem real?

Tive muito medo por causa da comparação. No mundo, o Carlitos é mais replicado do que o Mickey Mouse! Em relação a ele, pude criá-lo a partir dos filmes, que assisti milhares de vezes. Foi um trabalho de trazer aquele corpo para o meu corpo. Em relação ao Chaplin, tive mais liberdade para criá-lo e o resultado foi um personagem bem humano.

Em entrevista ao NEW MAG, a Claudia disse que você é um ótimo diretor de ator. Pensa em enveredar mais pela direção?

Sim, eu tenho dirigido e esse é um caminho natural. Acabei de dirigir o “Tô louca, mas não tô sozinha” (no Teatro Itália Bandeirantes, em São Paulo). Gosto de dirigir pelo viés do ator. Esse foi o caminho na direção que fiz da Claudia. Botei ela para subir e descer escadas várias vezes durante o espetáculo e isso gerou uma piada interna. Durante as apresentações, volta e meia ela reclamava e eu dizia que o público adora vê-la descendo escada e que  daríamos esse presente para o público.

Qual trabalho gostaria de fazer no teatro?

Gostaria de fazer um Shakespeare, que nunca fiz. Algo bem clássico. Um “Macbeth”, quem sabe?

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