‘O artista deve ser prestigiado quando tem talento’

novembro 11, 2022

Liège Monteiro e Luiz Fernando Coutinho falam dos eventos e dos artistas com que trabalham

Há pessoas que adoram fazer listas. Lista é um item imprescindível no trabalho de Liège Monteiro e Luiz Fernando Coutinho. O casal é o responsável por abrilhantar com presenças ilustres os eventos para os quais é contratado, que vão de lançamentos de filmes (estrangeiros ou brasileiros), estreias de shows e espetáculos de teatro e dança, além de lançamentos de coleções nos mais importantes eventos de moda. O escritório comandado pela dupla de Relações Públicas – ou RPs como conveniou-se chamá-los — é hoje o mais conceituado do país. Ao longo da trajetória, eles viram de tudo e viveram situações inacreditáveis. Alguns desses episódios são reavivados no livro “Bastidores” (Litteris Editora), cujas noites de autógrafos agitaram São Paulo e o Rio de Janeiro. Essa dupla dinâmica dos eventos conta, nesta entrevista ao NEW MAG, novas situações – deliciosas e delicadas – vividas por eles e lembram com carinho de personalidades como o príncipe Albert, de Mônaco, e a cantora Gal Costa (1945-2022), com quem trabalharam e – o melhor – privaram da amizade. Sim, prestígio é algo para poucos e Liège Monteiro e Luiz Fernando Coutinho têm de sobra.

Vocês trabalharam com Gal Costa em alguns shows da artista. O que vocês tiveram o privilégio de conhecer na Gal que levarão na memória? 

Liège: Gal é única. Era uma grande amiga. Foi muito difícil ontem (quarta-feira), quando recebemos a notícia de que ela tinha ido. Fiquei impactada como estou até agora. Tínhamos pedido a permissão para usarmos a imagem dela no livro, e ela prontamente autorizou.  Convidamos para o lançamento em São Paulo, onde ela estava morando, e ela respondeu com beijos e corações. Seis dias depois, vem essa notícia. Fiz vários dos shows dela e fui a outros tantos. Éramos de fato muito chegadas… É uma voz única que se vai.

Luiz Fernando: Das muitas lembranças da Gal, recordo uma vez em que estávamos a trabalho em Salvador, Bahia, onde, ela estava morando na época.  Ela morou, inclusive, no mesmo prédio onde mora a Ivete Sangalo, e Gal nos convidou para conhecermos seu apartamento. A lembrança que fica é a da doçura dela. Ela era muito generosa e especial. Trabalhar com ela sempre foi um enorme prazer.

O Antonio Banderas ficou louco pela voz de uma convidada numa festa… Luiz, qual a situação mais inusitada vivida num evento? 

Com situações inusitadas a gente lida o tempo todo. Poderia falar em relação aos penetras. Uma vez, estávamos fazendo um show na praia, aberto ao público e onde havia um espaço para convidados. Uma menina chegou dizendo-se sobrinha da Xuxa. Ela era loura, tinha olhos azuis e se apresentou como tendo o sobrenome Meneghel. Acontece que ela estava com lentes de contato e o louro dela era pintado. Desconfiei e pedi a carteira de identidade. “Ah, esqueci!”, foi a reação dela que, em um minuto, desapareceu da nossa frente.

Christian Louboutin, criador de calçados icônicos, foi barrado num evento porque o segurança achou inapropriado o… sapato usado por ele (risos). Liège, que outro convidado fez valer o ditado: casa de ferreiro, espeto de pau?

O Louboutin é uma pessoa fantástica, um gênio! Lembro de um evento que fizemos em Mônaco onde todas as mulheres presentes, não somente as da realeza, mas as demais, como a do Felipe Massa, pediam para serem apresentadas a ele. O episódio sobre o qual falamos no livro aconteceu no Brasil. Ele estava vestido a rigor e usou sapatos criados por ele e nos quais tinham tachas. O segurança não sabia quem era o Louboutin, achou o sapato muito esportivo e o barrou. Obviamente que tudo se resolveu, mas foi algo inusitado: o Senhor dos Sapatos foi barrado por usar um dos seus próprios sapatos (risos).

Liege, é muito bonito o episódio narrado sobre o Cazuza no livro… Em que outra situação você precisou ser severa com um amigo?

Isso é algo que, às vezes, acontece. À noite, as pessoas bebem e, eventualmente, passam do ponto. Acontece que amigo meu é para ser bem tratado, então eu tomo cuidado e sou um pouco severa com isso. Não quero ver amigo meu mal, quero vê-los muito bem. Esse tipo de situação acontece, e a gente, gentilmente, dá um jeito de ajudá-los.

Luiz, Agildo Ribeiro mudava de endereço constantemente. Luan Santana muda o número do celular. Qual outro exemplo de inconstância vocês vivenciaram com um artista? 

Como o Agildo nunca vi! Ele se mudava de três em três meses. Era uma maluquice dele, dita por ele próprio. Isso faz parte da nossa rotina o tempo todo. Mudanças de telefone e de e-mail fazem com que a gente atualize os nossos contatos o tempo todo. Durante a pandemia, muita gente se mudou. Foram para casas de campo ou de praia. Agora, por exemplo, o que observo é que há uma recente mudança de pessoas de diferentes áreas para São Paulo. Há também muita gente que se mudou para Lisboa e outras tantas morando em Miami. Imagino que essas cidades ofereçam mais oportunidades, mas o fato é que isso faz parte da nossa rotina de trabalho.

Liege, sem pestanejar: o que Fidel Castro tinha de aristocrático e o que o príncipe Albert tem de mais simples? 

Esses dois personagens são bem diferentes, mas são exemplos de chefes de estado. O Fidel tinha uma peculiaridade: ninguém nunca conseguiu encontrá-lo, ele é que encontrava o grupo do qual eu fazia parte. Ele é quem decidia se encontrava ou não as pessoas. Em relação ao príncipe Albert, ele tem de manter uma postura de chefe de estado. Ele é muito simples e gentil, mas, diante do público, tem de manter essa postura. Na ocasião em que jantamos, em Santa Teresa, ele estava à paisana: usava uma camisa florida como um típico estrangeiro. Mas é claro que, em Mônaco, ele não pode se vestir assim.

Luiz, devolvo a você a pergunta feita no livro: quem são os novos Caetano, Rita, Ben Jor, Gal e Gil?

Na verdade, fui mal acostumado. Tive e tenho a oportunidade de trabalhar com gênios. Mais do que pessoas talentosas, posso dizer que tenho oportunidade de trabalhar com gênios. Quando você faz shows, como os que já fizemos, de Paul McCartney, Eric Clapton, Elton John e Sade, você fica com o gosto muito apurado e filtra o que vai ouvir, por estar habituado a um padrão artístico muito bom. Das novas gerações, gosto muito do Bryan Behr, que ouço muito. Gosto também da Maria Gadú , da Ana Cañas que está cantando músicas lindas do Belchior… Tem muita gente bacana. O que acho, na verdade, é que os grandes veículos não dão muito espaço para esses artistas e acabam privilegiando outros que, na minha visão, têm menos talento. Fazem uma música mais comercial e, por isso, mais descartável. Quando o artista é bom, sua música é eternizada. Você pega todo o repertório da Gal, por exemplo, e as músicas são para sempre. A Amy Winehouse morreu há muito tempo e sua música está aí, presente. A música boa é eterna. A gente precisa abrir espaço para essa gente boa que está chegando. Liège e eu abrimos nos nossos eventos. O artista deve ser prestigiado quando tem talento.

Crédito da imagem: Pino Gomes

MAIS LIDAS

Posts recentes

Pedras buriladas

Importantes nomes das artes e do saber prestigiam mostra de Maria-Carmen Perlingeiro no Rio de Janeiro

Merecida homenagem

Personalidades prestigiam inauguração de logradouro com o nome do arquiteto André Piva no Rio de Janeiro

O futuro é agora

Estácio inaugura HUB voltado a aproximar os estudantes do mercado de trabalho em campus do Rio de Janeiro