‘Minha vida foi em função daquilo que faço’

abril 24, 2022

Sidney Magal fala da parceria de 42 anos com a mulher, critica o politicamente correto e revela que será enredo no Carnaval

No LP de estreia de Sidney Magal, lançado em 1977 pela Polydor, há no lado B uma faixa que se revelaria premonitória: “No futuro, no presente”. Sidney Magalhães adorava bossa nova, mas sua bela estampa e seu 1,93 m de altura levaram o poeta Vinicius de Moraes (1913-1980) a aconselhá-lo a tentar algo mais pop. O mesmo álbum de estreia também trazia “O meu sangue ferve por você” e, na virada da década, o sangue dos brasileiros ferveu na temperatura do canto de Magal, sex symbol  que tinha as roupas rasgadas pelas fãs num arrebatamento só comparado ao público de Cauby Peixoto (1931-2016). Magal passeou pela disco music, canção romântica, lambada e, aproveitando as boas oportunidades, atuou em novelas e em musicais. Tudo somado, esteve no futuro e no presente de gerações de brasileiros, justo como a tal faixa preconizou. Aos 71 anos e 45 anos de carreira, terá sua vida contada no cinema (num longa e num documentário), terá seu acervo exibido numa exposição e será enredo de escola de samba, como revela em entrevista ao NEW MAG. O bate-papo foi minutos antes de, na última sexta (22) se apresentar na Casa Bloco, onde viu a plateia – lotada de jovens – sorrir e cantar, dançando sem parar. E não seria diferente em se tratando de Sidney Magal.

Sua carreira vem atravessando gerações, desde a década de 1970. Hoje é possível ver seus shows cheios de jovens que vibram e cantam suas músicas. Como é isso para você, de continuar na playlist desses novos jovens depois de 45 anos de carreira?

Sem dúvida é muito gratificante. Nos anos 1970, as crianças me imitavam muito, a maneira de me vestir, os trejeitos, o cabelo, a roupa. Essa geração cresceu. Eles são os formadores de opinião de hoje, de 30, 40, 50 anos, que aprenderam a curtir o meu trabalho. Quando chegou a época da lambada, que foi uma nova coqueluche, com música minha em abertura de novela, veio outra geração que deu segmento, e assim foi. Você acerta de vez em quando com um disco, com uma música, mas às vezes não. Passei alguns anos sem um grande sucesso em disco, mas aí eu dou uma fugida, vou fazer cinema, vou fazer teatro, novela, alguma coisa em que a minha imagem fique preservada. Mas eu acho que o mais importante de tudo não é só o repertório, mas o comportamento que você tem com relação a seu público. Você tem que ter uma idolatria, a mesma que eles têm por você, um respeito muito grande e acho que isso as pessoas reconheceram em mim. Acho que, por isso, eles mantêm toda essa admiração, porque minha vida sempre foi em função daquilo que faço. Acho que o segredo é esse.

Falando em segredo, você sempre foi um românico, cantando o amor e com um casamento de 42 anos. Qual o segredo para a longevidade do seu relacionamento?

O segredo é o mesmo que eu mantenho com o público: respeito, muito amor e dedicação. Vem aí um filme, um longa metragem para o ano que vem, “O meu sangue ferve por você”, contando a nossa história de amor que foi fulminante, foi maravilhosa e é maravilhosa até hoje. Isso é um exemplo para as pessoas, para elas acreditarem mais nelas mesmas e sacarem quando aparece uma grande oportunidade de ser feliz. Eu aproveitei a minha e estou concretizando isso até hoje. Acreditei, levei a sério, e as coisas estão acontecendo de uma forma maravilhosa. É isso, mas, acima de tudo, respeito, é você saber que está ao lado de uma pessoa, nem acima, nem abaixo dela, mas literalmente ao lado, lutando junto por uma vida melhor. Tenho três filhos maravilhosos e sou muito feliz como homem. Isso ajuda o Sidney Magal a ser um grande artista.

Por falar no filme, o que você está achando dessa homenagem e até que ponto está interferindo no roteiro?

Eu costumo interferir muito pouco nas coisas que fazem para me homenagear, porque elas têm que ser, literalmente, cheia da emoção das pessoas que estão me homenageando. O elenco do filme, por exemplo, todo mundo está muito envolvido e apaixonado pela história, pelas músicas, pelas coisas que estão acontecendo. Eu levo uma vida pessoal maravilhosa que reflete na minha carreira, e eu acredito que é isso que o cinema vai mostrar. Estava aqui pensando na história do filme para falar um pouco mais e me perdi na resposta (risos).

Certa vez, você declarou que seu sucesso nos anos 1970 veio muito da exposição de uma personalidade masculina com uma personalidade feminina. Como você vê hoje essa intolerância com relação à liberdade de expressão do amor e da sexualidade das pessoas?

É muito difícil você esperar que o ser humano seja igual, porque temos impressões digitais diferentes. Contar com o pensamento e com a vontade de cada ser humano é muito delicado, sempre. Eu sou uma pessoa de uma época de carreira onde o artista não se expressava politicamente, em público, porque o artista tem uma força muito grande para influenciar as pessoas e é preciso um cuidado muito grande. Essa coisa de ser muito aberto, muito explícito e politicamente correto é muito perigoso porque nem todo mundo é correto, nem a política é correta, então ser politicamente correto já é uma coisa esquisita (risos). Acho que isso tudo são fases para que muita coisa melhore, mas é preciso ter muito cuidado porque é um perigo de, no meio do caminho, pessoas ficarem excessivas, cobrarem muito mais do que na verdade é necessário. Precisamos levar o mundo de forma mais leve, de uma forma melhor para não haver tanto atrito entre pessoas e gerações.

Além de músico, você também tem uma carreira de ator que começou tardiamente, mas que volta e meia aparece. O que vem agora, algum projeto novo com música ou TV, além do filme que está sendo feito?

Eu costumo dizer que projeto meu nunca vai existir porque não sou arquiteto. As pessoas fazem planos e projetos para mim, e eu os aceito de braços abertos. Além do filme e do musical, tem o documentário, que é o “Me chama que eu vou”. Cada coisa minha tem o nome de uma das minhas músicas (risos), e o documentário já está para ser liberado para a Globo Filmes. Além disso, tem uma exposição que será feita em São Paulo no segundo semestre deste ano com figurinos, meu guarda-roupas de anos e anos, com filmes, novelas, tudo o que eu já fiz até hoje. São ideias de outras pessoas que estão surgindo e me deixando muito feliz. Já me chamaram até para ser enredo de escola de samba daqui a alguns anos! Eu disse: calma, gente! Ainda temos tempo!

Crédito da imagem: Divulgação

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