‘Meu pai é meu mestre’

agosto 4, 2023

O produtor cultural Luiz Guilherme Niemeyer fala da realização do “Doce Maravilha", da volta do Canecão e do aprendizado com o pai, Luiz Oscar

Luiz Guilherme Niemeyer cresceu no meio de grandes nomes da música – grandes mesmo. Desde cedo, sabia que seguiria os passos do pai, Luiz Oscar Niemeyer, realizador e produtor de eventos que trouxeram ao Brasil shows antológicos como os de Elton John e o histórico dos Rolling Stones em Copacabana. Hoje, pai e filho são sócios na Bonus Track. Nos últimos anos, produziram festivais com  atrações nacionais e internacionais. Agora, eles se preparam para a primeira edição do “Doce maravilha”, que começa no dia 12 de agosto, no Rio de Janeiro. Em entrevista ao NEW MAG, Luiz Guilherme, também conhecido como LG, conta como foi o início da vida profissional (engana-se quem acha que ele foi logo sentando na janela), fala da reforma de um dos templos sagrados da música brasileira, o Canecão, e sobre a relação com Luiz Oscar.

Por quais estágios e áreas de uma produção você já passou até chegar aonde chegou?

Passei por quase todas as áreas de produção. Comecei muito cedo, quando ainda estava no colégio. Eu fazia parte do grêmio estudantil, produzia pequenos eventos para arrecadar fundos e trocar por materiais esportivos. Também promovia ações sociais. A partir disso, as coisas foram tomando dimensões maiores. Comecei a produzir festas, eventos com venda de ingressos e a frequentar o escritório da Planmusic, grande produtora da época. Iniciei bem de baixo, como auxiliar de escritório, fazendo trabalhos básicos como tirar cópia de chave. Fui crescendo aos poucos. Na minha primeira produção internacional, assumi a chefia dos carregadores, depois fui intérprete, fiz produção de palco. Na turnê dos Rolling Stones, fiquei responsável pelo coral que os acompanhava. Tinha toda a produção de backstage, de palco e de ensaio. Toda essa experiência foi muito importante para mim. Pude entender como são todas essas áreas e como é estar nelas. 

Como surgiu a ideia de reativar o abandonado Teatro do Jockey Club, agora Teatro XP?

A ideia surgiu quando eu ainda era jovem. Na época, fazia eventos pequenos no Jockey, como o samba aos domingos na Palafitas, ali bem perto. Lá, descobri o teatro que estava totalmente abandonado há três anos, com as estruturas caindo aos pedaços. Foi quando surgiu a ideia de um projeto para salvar o teatro.  Assinei contrato com o Jockey para ir ao mercado e encontrar uma empresa que, através de naming rights, pudesse bancar a reforma. Meu pai foi um conselheiro, com todo o know-how que  tem, deu os caminhos para fazer isso acontecer. O primeiro lugar onde bati na porta foi o banco XP e fui muito assertivo, logo na primeira consegui o “sim” e o projeto nasceu. Hoje, o teatro já tem quase 8 anos com história e relevância, estando muito bem posicionado na cena teatral carioca. 

As duas edições do Mita contaram com shows internacionais. Você participa diretamente na escolha das atrações?

Participo de todas as escolhas de atrações no Mita, tanto na primeira quanto na segunda edição. É uma construção que passa por muitos fatores. São quatro ou cinco pessoas que opinam na produção do line-up. O pessoal da Mangolab também, o Luiz Oscar, todo mundo tem um pouco de dedo nessa produção, é um trabalho coletivo. O Gorillaz foi, especificamente, uma vontade minha que vinha desde 2018, quando vi o show deles em São Paulo. Achei que caberia no festival. Até que surgiu o e-mail informando que estavam abrindo agenda à América do Sul. Pude realizar esse sonho dourado para a primeira edição do Mita.

Qual foi a inspiração para a criação do festival “Doce maravilha”? E qual é a expectativa para o evento?

A inspiração foi a celebração à música brasileira, onde os artistas também curtissem o evento em si. Tive muito cuidado na construção feita com o Nelson Motta de entender que a concepção veio de trás para frente, dos camarins para o público. Até o processo de escolha das atrações foi diferente. Os artistas puderam opinar, participar dessas escolhas. Muitos foram sugerindo nomes que nem se imaginava. Não chamo o “Doce maravilha” de festival, e sim de festa da música brasileira. Vai ter uma vila privativa com pouca circulação de gente para que os artistas possam confraternizar, principalmente aqueles que quase não se encontram por estarem sempre na  estrada. Vai ter festa para os artistas, para o público e para a gente também. A grande festa é de todos. 

O Canecão, referência nacional da história da música brasileira, está fechado desde 2010. Você, seu pai e a KLEFER, do Kleber Leite, trabalham na reabertura da casa. Qual é a previsão de reabertura? O que o público pode esperar do novo Canecão?

O projeto veio de uma empreitada maior, depois do aprendizado de reformar uma casa abandonada como foi com o Teatro XP. Ficou um gostinho de quero mais. Até brincava que “o próximo passo seria o Canecão”. Surgiu, então, a oportunidade através da licitação. Não posso falar muito ainda sobre o projeto porque está sendo tratado com muito cuidado. O que posso dizer é que o público pode esperar algo à altura da importância que o Canecão tem para a música brasileira.

Você trabalha ao lado do seu pai, Luiz Oscar Niemeyer. Ele é o seu grande mestre profissional? Qual é a maior lição que o Luiz Oscar lhe ensinou?

Meu pai é meu mestre, minha referência sem dúvida alguma, pelo legado que ele tem no entretenimento, na música e na cultura nacional. Hoje, trabalhamos juntos e somos muito complementares. Ele traz toda sua experiência, muito rica, e trago um pouco da jovialidade, da modernidade e da digitalização. A maior lição que ele me ensinou foi manter as coisas as mais discretas possíveis, ser uma pessoa simples, honrar com aquilo que você promete. Ter credibilidade, essa é a palavra em cuja tecla ele sempre bateu. A partir do momento em que você assume um compromisso, é preciso ir até o final. Esse foi, sem dúvida, o maior ensinamento que meu pai me deu esse tempo todo. 

Crédito da imagem: reprodução

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