‘Lido com a sensualidade no âmbito privado’

junho 9, 2023

Mel Lisboa fala sobre o desafio de viver no teatro uma personagem de Stephen King, como lida hoje com a sensualidade e sobre o futuro da TV

Mel Lisboa tinha 19 anos quando estreou na TV. A minissérie “Presença de Anita”, da qual foi  protagonista, fez dela a nova namoradinha do Brasil. A atriz surfou na onda e estrelou ensaios picantes, tendo como ápice o da revista Playboy. Mas ela quis mais, correu atrás e fez por onde. Ao longo de 22 anos de carreira, produziu espetáculos, como a remontagem de “Há vagas para moças de fino trato”, de Alcione Araújo (1945-2012), recriou papéis marcantes como o de Nicole Kidman em “Dogville” e interpretou com maestria mulheres que revolucionaram o pensamento e o comportamento humanos. Uma delas, Rita Lee (1947-2023), no musical “Rita Lee mora ao lado” e, mais recentemente, a escritora russa Helena Blavastky (1831-1891). Mel está de volta aos palcos com “Misery”, adaptação do suspense de Stephen King em cartaz no Tuca, em São Paulo. Cada desafio é encarado por ela com coragem e em sintonia com as propostas em questão. “Sempre haverá o novo olhar, outra interpretação daquele texto e daquela personagem”, conta ela ao NEW MAG, nesta entrevista na qual falou sobre o legado de Rita, como lida com a sensualidade e sobre o futuro da TV.

Você já declarou que fazer “Misery” é uma maratona que adora fazer. O que a Annie traz de mais desafiador neste momento da tua vida e carreira ?

Digo que ‘Misery” é exaustiva por uma questão física. É uma peça longa, com três atores, onde dois deles ficam em cena quase que o tempo todo. É muito texto, muita ação, eu me movimento bastante, então é uma questão física mesmo. Amo o texto, minha personagem, adoro contracenar com meus colegas e sempre me divirto. O desafio mesmo é a complexidade da personagem, que, nesta montagem, ganhou uma camada a mais: ela não é colocada como uma vilã na sua totalidade. Ela tem suas questões psicológicas, atitudes condenáveis, mas é uma pessoa por quem você pode ter certa empatia, a partir da solidão dela. É um papel que acaba causando esse sentimento ambíguo na plateia e isso é um grande desafio.

Você mais uma vez interpretou no Teatro uma mulher que existiu e que foi revolucionária. Qual o maior desafio ao compor uma personagem tão relevante?

No caso da Helena, eram muitos desafios. Não é somente o caso de interpretar a Helena, mas uma atriz que a incorpora, então são muitas as camadas. A Helena que interpreto foi criada por mim, uma vez que não temos referências dela em vídeos ou em áudio. Há ali uma opção por um tipo, um corpo e sua voz. E há uma questão que vem de antes da personagem: na atriz que vira a Helena e o contrário, além da incorporação em si: como fazê-la de forma verossímil.

Você teve a bênção de Rita Lee para vivê-la no teatro. O que no comportamento da Rita chamou mais a tua atenção no tempo em que estiveram próximas?

Acho sinceramente impossível pensar uma característica na Rita que tenha chamado mais a minha atenção. Tudo na Rita chama atenção. É o conjunto da obra que faz ela ser única e alcançar a importância que ela tem no Brasil e no mundo, influenciando tantas pessoas, encorajando tantas mulheres e marcando a vida de tanta gente. Não se trata somente de uma questão artística, mas comportamental. Há muitas coisas na personalidade e na trajetória da Rita que são únicas e marcantes e insubstituíveis. Minha fascinação pela Rita está no todo: na pessoa, na obra e na trajetória.

Você teve oportunidade de viver nos palcos personagens imortalizadas por Renata Sorrah no teatro e por Nicole Kidman no cinema. Quais as preocupações ao recriar essas personagens?

Tive essa sorte de ter personagens muito marcantes, com algumas delas interpretadas por atrizes espetaculares. Sempre há o medo da comparação, mas, por outro lado, há o frescor de uma nova montagem, uma nova linguagem como em “Dogville” ou mesmo em “Misery”.  Sempre haverá a questão do novo olhar, uma outra interpretação daquele texto e daquela personagem. No caso de “Dogville”, era a versão do Zé Henrique de Paula (diretor da montagem) e não o filme do Lars von trier. No caso da Gracie, tinha a referência da Nicole Kidman, mas criei minha personagem juntamente com aquele diretor, que tinha outra proposta para a peça, e com meus colegas de cena, que também tinham suas propostas. E, com isso, naturalmente surge uma personagem diferente.

Logo depois de “Presença de Anita”, você estrelou ensaios sensuais para diferentes publicações e, aos 29 anos, posou para a Playboy. Como lida hoje com a sensualidade?

Sobre isso o que posso dizer é que, hoje, lido muito mais com a minha sensualidade no âmbito privado do que no âmbito público. É isso.

Você é filha de Claudia Lisboa, referência em astrologia. Como é sua relação com os astros? Recorre à astrologia para aceitar um trabalho ou para avaliar as características de uma personagem?

Desde que nasci, vivo num ambiente em que a astrologia é fundamental. Cresci vendo minha mãe dar aulas sobre esse assunto, atendendo os clientes em casa, então esse sempre foi um assunto próximo, ainda que conheça sobre astrologia menos do que as pessoas pensam (risos). Mas sempre peço ajuda à minha mãe, sobre questões sobre os trânsitos (dos planetas), minha revolução solar e me ajudar a tomar decisões tanto relacionadas ao trabalho quanto a questões pessoais.

Você surgiu numa série de TV que, na época, atingiu 30 pontos no ibope, índice difícil de se repetir hoje. Passou pelas TVs aberta e por assinatura e, hoje, atua no streaming. Como vê o futuro da TV?

Minha impressão sobre o futuro da TV é a de que serão necessárias mudanças, e os canais já as estão fazendo, se adequando aos novos tempos e às novas formas de consumo e de repercussão. Percebo hoje que o ibope é menos importante do que a repercussão nas redes sociais. A maneira de produção e de consumo vai mudando, mas não acho que a TV vai acabar.

Crédito da imagem: reprodução (instagram)

 

 

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