‘Eu canto só o que me emociona’

março 18, 2022

Alcione fala, em entrevista, do seu legado na música, relembra os tempos de crooner, destaca novas cantoras e sobre o que a mantém na ativa há 50 anos

Num país como o Brasil, onde são exigidas do artista doses cavalares de perseverança, chegar a 50 anos de carreira é um feito e tanto. E Alcione, considerada pela ONU “A Voz da América Latina”, completou cinco décadas de carreira em 2021. As comemorações precisaram ser adiadas em razão da pandemia e, este ano, a artista tem tirado o atraso levando o vozeirão, uma de suas marcas, aos fãs, dos quais precisou estar afastada nos últimos dois anos.  Logo mais, a cantora sobe ao palco do Ribalta, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, para fazer valer o ofício que abraçou. A noite será aberta por Armandinho e, no palco, Alcione recebe Belo como convidado. E o público pode esperar clássicos como “Estranha loucura”, “Sufoco”, “Meu ébano’, entre outros tantos. Ao longo dos anos, Alcione cantou aquilo que a tocou – e o público não só reconheceu como a consagrou. Prova disso são os 25 discos de ouro e os sete de platina (sendo dois de platina duplo) colecionados por ela. “O público sabe quando o canto vem da alma”, atesta ela nessa entrevista ao NEW MAG, na qual fala do seu legado, destaca novos talentos da música e fala de um novo ramo: as casas noturnas que levam seu nome.

O Bar Alcione começou na Barra e hoje ocupa também um casarão na Zona Sul. O desejo de ter uma casa voltada à música era antigo? 

Eu comecei cantando na noite, uma escola maravilhosa para inúmeros cantores!  E ter um palco para abrigar artistas que necessitam de espaços para mostrar sua arte só poderia  ser um sonho realizado.

Pois sim, você surgiu como crooner, ao lado de talentos como Áurea Martins, Djavan e do saudoso Emílio Santiago. Qual a lembrança mais marcante que você traz dessa época?

Era uma época pródiga em espetáculos e transitávamos pelas noites com nosso canto e sonhos. Respirávamos arte, mas, como todo mundo, tínhamos contas a pagar. As casas noturnas abrigavam talentos que, hoje, fazem parte da história da música brasileira. Foi um tempo de muitas alegrias, conquistas, mas, principalmente, de muita luta, trabalho e grandes encontros. Emílio, Djavan e Áurea foram alguns dos grandes amigos que a vida (e as noites) me proporcionaram.

O teu legado é analisado pelo jornalista Leonardo Bruno no livro “Canto de rainhas”, no qual ele reverencia outras grandes cantoras do samba. Você gostou do resultado? Qual é, no seu entender, sua principal marca na música? 

Fiquei muito lisonjeada pelas citações contidas no livro do Leonardo Bruno, que já tinha feito excelentes matérias comigo na época em que era do jornal Extra. Existem muitas rainhas na música brasileira, e estar junto com esse time de divas é um privilégio. Respondendo à segunda pergunta, cantar o que gosto, o que me emociona é que deve ter sido esse tal diferencial. O público sabe quando o canto vem da alma, do coração, e ele se identifica. É a nossa verdade… Eu canto só o que me emociona!

Você é uma referência para jovens cantoras como Ludmilla e Iza.  Quais os nomes da nova geração merecem o bastão da Alcione? 

Tem tanta gente boa! Lá mesmo, nos bares Alcione, tem uma leva de cantoras incríveis se apresentando ultimamente: Gabby Moura, Flávia Saolli, Andréia Caffé… Há muito talento por aí à espera de uma oportunidade. E grupos jovens também que estão encantando o público, como o Curtindo a Vida.

Em “Boleros” você mergulhou no gênero que nomeia o projeto, lançado em 2017,  e no universo do samba-canção. A que outro estilo musical gostaria de dedicar um trabalho? 

No momento, estou pensando apenas nas comemorações dos meus 50 anos de carreira. Mas gosto de muitos gêneros musicais, do jazz ao samba, do blues ao forró, passando sempre pela canção romântica, tenha ela o rótulo que tiver… Cresci ouvindo de tudo, por isso aprendi a gostar de muitos estilos musicais e nunca quis ficar confinada em nenhum rótulo.

A atriz e cantora Zezé Motta pode dar seu nome à lei que proíbe o cancelamento de homenagens a personalidades negras da nossa Cultura. Como você vê essa iniciativa?

Se vai levar o nome da Zezé deve ser coerente. Mas ainda não tive acesso a essa informação.

Crédito da imagem: Marcos Hermes.

 

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