‘Como trabalharam para acabar com a cultura’

outubro 14, 2022

O prefeito Eduardo Paes fala de desafios, da valorização da cultura e do plano de retomar o desenvolvimento do Rio de Janeiro

Eduardo Paes tem uma característica que o difere de outros ex-prefeitos do Rio de Janeiro: seu amor pela cidade é genuíno – e a população, discorde dele ou não, sabe disso. Eduardo mantém a rotina puxada de quando assumiu, em janeiro de 2009, a prefeitura naquele que foi seu primeiro mandato. Ele acorda com as galinhas e pode muito bem entrar pela noite trabalhando para, no dia seguinte, novamente  iniciar a labuta no raiar do dia. Nos tempos de pujança, revitalizou áreas da Zona Norte, do Centro (um dos seus xodós) e a Zona Portuária, esta última um feito inimaginável até a derrubada da Perimetral. Hoje no seu terceiro mandato, iniciado após a desastrada gestão do seu antecessor, as preocupações são outras. Equilibradas as contas públicas, dar à população a dignidade de outrora e retomar o desenvolvimento da cidade são apenas duas das suas metas. Vascaíno roxo e portelense apaixonado, Eduardo valoriza nossas manifestações culturais. Tanto que, no âmbito do cinema, apoiou a volta do Festival do Rio, um dos mais importantes da América Latina. “Sempre soube separar meus gostos pessoais dos meus deveres institucionais”, conta ele ao NEW MAG, em entrevista que tratou também de saúde pública, mobilidade urbana e de iniciativas de combate à fome.

Qual é o seu maior desafio neste terceiro mandato como prefeito do Rio de Janeiro?

Sem dúvida, recuperar e retomar o desenvolvimento da cidade. A gestão anterior não só destruiu como deixou de fazer com que o Rio continuasse a evoluir. Assumi em 2021, com duas folhas salariais em atraso: a de dezembro e a do 13º. Tínhamos fornecedores sem receber, e as finanças num caos. Em seis meses, colocamos a casa em ordem, os salários em dia e ainda pagamos antecipadamente, no meio do ano, a metade do 13º de 2021. Mas tem duas grandes coisas que ainda me angustiam: com muito trabalho, conseguimos vencer os obstáculos, assumimos a operação do BRT, compramos 291 novos veículos e, ainda em outubro, vamos comprar mais 270. No próximo ano, o carioca voltará a ter o BRT com toda a infraestrutura recuperada. E o segundo tema que me aflige é a Saúde. Nos meus oito anos de mandato, saímos de 3,5% de cobertura de atenção básica para 70%, quando a gestão que me sucedeu regrediu para 40%. Estou feliz porque acabamos de inaugurar o Super Centro Carioca de Saúde, que vai nos permitir oferecer aos cariocas consultas com especialistas, realização de exames, além de ter um grande centro oftalmológico. Uma estrutura que vai nos ajudar a acabar de vez com a fila do Sisreg até 2024.

O atual presidente do país, Jair Bolsonaro, afirmou recentemente que não existe ‘fome pra valer’ no Brasil. Em abril desde ano, a Prefeitura do Rio lançou o programa Prato Feito Carioca, política pública voltada a garantir alimentação com qualidade à população em situação de insegurança alimentar. O combate à fome é uma prioridade do seu governo?

Mais do que prioridade, é uma obrigação. É incrível que, depois de o país sair do mapa da fome, tenha voltado. Isso é um verdadeiro desastre não só humano, mas também de política pública e econômica. O que procuramos fazer foi criar um programa que combatesse a fome em duas frentes. Uma foi a de oferecer um vale-refeição para os trabalhadores informais. O cartão foi a maneira que a Prefeitura encontrou para garantir a refeição de quem está na informalidade. A outra iniciativa foi a de olhar, principalmente, para aquelas pessoas que sequer têm uma fonte de renda e, para elas,  criamos as Cozinhas Cariocas Comunitárias. Procuramos identificar as pessoas que mais precisavam da nossa ajuda, quem está com dificuldade de emprego e de alimentação. As pessoas são cadastradas e recebem uma refeição por dia nas cozinhas comunitárias na sua comunidade, em seus bairros. Esse programa começou em junho e, até este mês,  já distribuiu 257 mil refeições.

O Carnaval carioca, Patrimônio Cultural Imaterial do Rio de Janeiro, movimenta R$ 4 bilhões na economia da cidade, segundo o relatório Carnaval de Dados. No entanto há setores conservadores que querem acabar com o carnaval. Por que o Carnaval é tão importante para a cidade?

É fato que o meu antecessor trabalhou incansavelmente para desmoralizar o Carnaval, por causa de seus interesses pessoais. Sempre apoiei o Carnaval não porque amo a Portela, as escolas, o samba. Sempre soube separar meus gostos pessoais dos meus deveres institucionais como prefeito. O Carnaval é uma manifestação cultural fantástica e que também tem um impacto econômico importantíssimo na cidade em setores como comércio, hotelaria, turismo, na geração de empregos. E o carnaval tem a ver com a nossa identidade, com o jeito de ser do carioca, uma marca que exportamos para outros lugares do Brasil e do mundo.

Na gestão anterior, de Marcelo Crivella, a Prefeitura havia tirado o patrocínio do Festival do Rio, o maior festival de cinema da América Latina. Hoje, a Prefeitura é patrocinadora master do evento. Qual é a importância do Festival para a cidade?

É triste ver como os agentes políticos deste país trabalharam tanto nos últimos anos para acabar com a cultura nacional. E a missão de gestores comprometidos com políticas públicas voltadas para o bem estar e o desenvolvimento da população é a de fazer com que a Cultura retome, de uma maneira geral, o seu protagonismo. A pluralidade de nossa Cultura é uma característica da nossa cidade. Reassumir o protagonismo mundial do Rio nesta área foi um compromisso meu. E o Festival do Rio é um desses pilares do nosso renascimento cultural. Além de outros investimentos que já fizemos para a recuperação do nosso setor audiovisual.

Se você tivesse um amigo de fora que viesse passar um fim de semana no Rio, o que você gostaria de apresentar a ele?

Se ele estivesse pela primeira vez no Rio, o sábado seria dedicado a um tour pelos bares e rodas de samba da cidade, da Zona Sul à Zona Oeste, passando pelo Centro e Zona Norte. Depois dessa maratona, no domingo, o programa obrigatório de todo turista: Cristo Redentor, Pão de Açúcar e uma rápida passada no Maracanã, porque jogo mesmo ele vai ver é o do meu Vascão, no histórico estádio de São Januário, o mais charmoso do Rio.

Crédito da imagem: Leo Martins

MAIS LIDAS

Posts recentes

Adeus ao mestre

Exposição em homenagem a Ziraldo registra aumento de visitantes no dia seguinte à morte do cartunista

Árvore frutífera

Personalidades prestigiam lançamento de livro do multiartista Rodrigo França no Rio de Janeiro