‘Dora, Lucas e Zé são meus parceiros de vida’

maio 12, 2023

Julia Mestre, do Bala Desejo, fala sobre o álbum solo, empoderamento e a vivência em grupo

Julia Mestre tinha 16 anos quando viu-se encantada pelas palavras. Pouco depois de vencer um concurso de poesia na escola, começou a tocar violão e, em 2017, lançava o EP “Desencanto”. O trabalho de Julia ganhou projeção nacional a partir do Bala Desejo, formado por Dora Morelenbaum, Lucas Nunes, Zé Ibarra e por ela. O grupo se reuniu, resolveu morar junto e projetou-se no período mais agudo da pandemia, através de lives, muitas delas com a cantora Teresa Cristina. Com a volta dos shows, o grupocaiu na estrada e ganhou o mundo. Agora, a cantora retoma a carreira solo concomitantemente ao trabalho com a banda e, nesta sexta (12), estreia a turnê “Arrepiada”, nome do seu segundo álbum solo. “Muitas das minhas canções vêm de uma vontade que o público feminino se identifique com elas”, confessa ela, por telefone, nesta  entrevista ao NEW MAG. Ela fala também sobre o novo momento, empoderamento feminino, as parcerias musicais e a relação com os integrantes do Bala.

A sua nova turnê começa nesta sexta-feira  em Goiânia. Como estão as expectativas para cair na estrada com um trabalho solo? 

É um misto de animação e curiosidade. Mesmo ensaiando muito, a gente sempre tem aquilo que faz dentro do estúdio, mas o que vai acontecer de verdade só vamos ver no palco, na troca com o público. Essa é a primeira curiosidade: como esse show vai se transformar a partir do encontro com a plateia? Lancei “Arrepiada” no dia 12 de abril e quero ver a recepção dos fãs às letras e às canções.

Suas músicas falam sobre insegurança, superação e desejo. Como é para você lidar com o machismo ainda vigente na sociedade?

Isso é um processo, muitas das minhas canções vêm dessa revolta interna e de uma vontade que o público feminino se identifique com elas.  O próprio nome “Arrepiada”é sobre essa vontade de mudança e de querer ver mulheres unidas nesse processo. A minha forma de responder é trazendo mais mulheres para a banda, para a equipe técnica e para produção. É um pequeno efeito borboleta que, mais adiante, pode se somar a algo maior.

Você tem formação em Artes Cênicas pela UniRio. Pretende em algum momento conciliar a vertente musical com a interpretação?

São grandes paixões. A escola que tive com o teatro me ajuda muito no palco como cantora. Fiz uma promessa para mim mesma: é a música à que vou me dedicar, por ela que consigo levar minha mensagem através das letras que escrevo. Sinto-me mais conectada a isso no momento. De qualquer forma, amo vestir personagens. Em cada projeto que eu vivo, você vai ver personas diferentes no palco. A Julia do Bala Desejo tem, por exemplo, outro movimento de corpo e outra postura de cena. A Julia em carreira solo tem outra energia, que dá até um choque no público. Isso com certeza vem do teatro, de personagens que habitam uma só pessoa.

O Bala ganhou um Grammy e é hoje um fenômeno. Lidar com esse sucesso chega a ser aflitivo ou você tira de letra?

Existem muitos jeitos de lidar. Tive a sorte de estar em um projeto onde a gente teve muito alcance. E estava lá com grandes amigos meus: a Dora, o Lucas e o Zé são meus parceiros de vida, a gente se conhece bastante. De certo modo, me vi muito protegida por eles. Estávamos passando por grandes conquistas juntos. Quando se está em companhia, as coisas passam de um jeito muito mais leve do que se estivesse sozinha. É muito bom poder viver em grupo essa virada de carreira e de visibilidade.

Recentemente o Bala gravou com o Rubel. Com quais outros companheiros de geração você gostaria de desenvolver uma parceria?

No disco “Arrepiada” realizei o sonho de gravar com a cantora portuguesa Maro, que admiro muito. Temos uma faixa juntas. Além dela, também fiz a composição de “Chuva de caju”, escrita juntamente com a Ana Caetano, da dupla Anavitória. Há muito tempo queria fazer um trabalho com ela. Também tive a sorte de encontrar a Duda Beat no processo de produção do álbum. Ela escutou o disco antes de ser lançado e me ajudou muito, sempre me incentivando.

A banda vai fazer uma turnê internacional. O que é mais divertido no convívio em grupo? 

O grande barato da estrada é ver as muitas facetas de cada um. Vivemos de forma muito intensa as dores e as delícias. É muito cansativo, dormimos muito pouco, por isso precisamos estar muito confortáveis e trazer leveza para esses momentos que nem sempre são legais. Sempre procuramos estar num modo de diversão um com o outro e encontrar alegria nesses momentos. Mesmo cansados, na hora do show, a energia toda vem. Quando estamos no palco, lembramos que viajamos por conta da música que fazemos. É muito emocionante pensar que a nossa música fez a gente parar no Japão. Somos muito gratos por isso, por ter essa resposta tão bacana do público.

Crédito da imagem: Elisa Maciel

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