‘Dois anos brigando pelo título e agora esse desfile maravilhoso!’

abril 26, 2022

Gabriel Haddad e Leonardo Bora, carnavalescos da Grande Rio, falam da emoção pelo campeonato

A Acadêmicos do Grande Rio é a grande campeã do Carnaval 2022. A escola levantou a Marquês de Sapucaí no último sábado (23) com um belíssimo desfile considerado pelos jurados como tecnicamente perfeito. O enredo, desenvolvido com maestria pelos carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora, contou a história de Exu, orixá africano que rege o movimento e a comunicação entre o sagrado e o humano. A Grande Rio já havia sido eleita a melhor escola pelo júri do Estandarte de Ouro, premiação realizada pelos jornais O Globo e Extra, e também faturou os títulos de melhor bateria, a categoria Fernando Pamplona e enredo.

Em entrevista exclusiva ao NEW MAG, Gabriel Haddad e Leonardo Bora falam da emoção de levar para casa o primeiro campeonato da escola, da escolha do enredo, do olhar sustentável para a escolha dos materiais e do prazer de trabalhar com a madrinha de bateria, Paolla Oliveira.

A Grande Rio ficou por muitos anos com a vice-liderança no Carnaval. Qual palavra define o gosto dessa vitória?

Gabriel Haddad: A palavra é “comunidade”! Acho que a união da comunidade da Grande Rio com o nosso trabalho, com tudo aquilo que a gente vem desenvolvendo, com a liberdade que a diretoria da escola tem dado pra gente, que é olhar para a comunidade de Duque de Caxias. Então, a partir desse olhar, desse carinho com a comunidade de Caxias, quando a escola compra aqueles enredos que a gente tem levado para a avenida, os sambas que a gente tem apresentado, o resultado é sempre positivo. Dois anos brigando pelo título e agora esse desfile maravilhoso!

Ao levar à avenida a mitologia de Exu, a escola mergulhou fundo na questão da nossa ancestralidade enquanto nação. Essa escolha foi pontual ou ela pode nortear as propostas para futuros enredos?

Gabriel Haddad: O enredo sobre Exu é um dos mais importantes, uma das mais importantes escolhas que eu e Leo (Leonardo Bora) já fizemos na nossa carreira, que vem se desenvolvendo desde 2012. É um enredo que fala muito contra a intolerância religiosa, que vem afirmar que Exu não é o diabo, que ele só traz felicidade, só traz alegria, como a gente viu na avenida. Abrir os olhos das pessoas para essa visão “exuzíaca” de mundo, que não é só falar sobre Exu, sobre africanidade e ancestralidade, que também faz parte dessa grande cartela de ensinamentos, mas é um outro olhar pro mundo, da relação pessoa-pessoa, e isso acho que é o maior recado desse enredo, além da questão da intolerância religiosa.

Paolla Oliveira iniciou seu reinado em 2020 e, este ano, incendiou a avenida ao personificar a figura da Pombagira. A sugestão de fantasia partiu de vocês, carnavalescos, ou foi uma sugestão da própria Paolla?

Gabriel Haddad: Quando a gente conversa com a Paolla (Oliveira), a gente sugere algumas roupas, apresenta algumas ideias. Este ano apresentamos três ideias, uma delas era uma roupa mais avermelhada e as outras duas eram mais ligadas à questão da noite. Ela gostou mais dessa ideia do vermelho e aí ela trouxe a ideia do figurino representando o fogo e a gargalhada da pombagira, “sou do fogo e gargalhada”, com aquela rosa no pescoço, uma fantasia incrível, linda. Claro, a gente acatou de primeira a sugestão dela. Nosso trabalho é um trabalho coletivo, a gente abraça as pessoas e consegue trazê-las para dentro do desenvolvimento do enredo e a gente não faria diferente com a Paolla, que é uma querida, que conversa sempre com a gente e conseguiu desenvolver esse figurino maravilhoso.

Ao resgatar as figuras dos bate-bolas e das folias de reis, a escola surpreendeu por trazer performances em todas as alas e não somente na comissão de frente. O que influenciou essa opção?

Leonardo Bora: Na verdade, esses personagens, que são profundamente “exuzíacos”, que expressam as facetas brincalhonas de Exu nas folias, as ocupações das ruas, eram parte fundamental do nosso enredo. Nós fizemos questão de incluir eles na narrativa para mostrar essa força que ocupa as ruas, que brinca, esses corpos expansivos, toda a tradição dos palhaços, para que isso também impregnasse todo o desfile de alegria e de vivacidade.

Como aconteceu o seu encontro profissional com o Gabriel Haddad? Como funciona no dia a dia as divisões de tarefas?

Leonardo Bora: O encontro se deu por meio do carnaval virtual, concurso de desenhos que ocorre na internet. É uma parceria longa, nós trabalhamos juntos desde 2012, em dupla desde 2015, e não há uma divisão específica das tarefas, todo mundo faz um pouco de tudo. A única coisa que muda são as técnicas utilizadas: o Gabriel utiliza técnicas digitais e eu, técnicas à moda antiga, com tinta, caneta e papel.

O último carro da escola emocionou ao levar à Sapucaí a importância da reciclagem para o futuro do planeta.  Essa preocupação norteia de fato o pensamento da escola?

Leonardo Bora: Exu é transformação, é circularidade. Exu é uma nova forma de se encarar o mundo, de se pensar o futuro do planeta, do nosso país e de se enxergar vida. Esse pensamento norteou toda a concepção do enredo, toda a prática do barracão e se refletiu nessa última alegoria que, felizmente, encantou a todos e encerrou o desfile de maneira apoteótica.

Com a colaboração de Christovam de Chevalier

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