‘Desejo levar nossa música para o exterior’

abril 26, 2024

Luiz Calainho fala das duas décadas do Noites Cariocas, do boom de festivais no Rio de Janeiro, opina sobre Madonna e quer juntar Caetano e Djavan no palco

Danado é um adjetivo que vem muito bem a calhar quando se trata de Luiz André Calainho. Apaixonado por arte, ele é, aos 56 anos, um dos realizadores culturais mais pró-ativos do país. O tino para o entretenimento manifestou-se cedo, quando ele e um colega de colégio passaram a oferecer equipamento de som às festas dos demais colegas. Após passar por empresas como a Brahma e a Sony Music (onde chegou à vice-presidência), consolidou-se no ramo do entretenimento. Através da Aventura, ele e Aniela Jordan produzem há 16 anos musicais que em nada deixam a desejar às estrangeiras. O TIM Music Noites Cariocas, que realiza juntamente com Alexandre Accioly, chegou à sua 20ª edição (o evento vai até sábado, 27, no Pão de Açúcar), consolidando-se como um dos festivais mais longevos do país. Através da sua holding, Calainho apita ainda nas gestões de rádios e casas de espetáculos como as sucursais do Blue Note do Rio e de São Paulo. “No pós-pandemia houve uma profusão de festivais, uma espécie de bolha”, opina ele, em entrevista ao NEW MAG, sobre a oferta de grandes festivais no Rio de Janeiro. No bate-papo, ele faz um balanço sobre as duas décadas do Noites Cariocas, opina sobre o show de Madonna em Copacabana e revela planos de juntar Djavan e Caetano Veloso numa edição do Noites. Ele é ou não é danado?

O novo Noites Cariocas, agora com patrocínio da TIM, completa 20 anos. Qual balanço você faz dessas duas décadas de existência?

Falando genericamente, sobre essas duas décadas o balanço é excepcional. Tivemos o Noites Cariocas na década de 80, que foi encerrado no final dos anos 80. Ai eu e Alexadre Acciolly no início dos anos 2000 adquirimos  os direitos da marca do Nelson Motta, e realizamos nossa primeira edição em 2004. Então, são 20 anos com a nossa produção, com resultados espetaculares. O Noites faz parte da história da música brasileira, com muitos gêneros: do pop ao samba,  do rock ao romântico. Ao longo desse tempo, passaram por lá artistas, novos talentos que estavam começando, a despontar. Citando alguns exemplos mais recentes, recebemos Duda Beat, Urias, a Agnes Nunes, o cantor L7nnon, isso apenas nos últimos dois anos. Então o nosso balanço é espetacular. O TIM Music Noites Cariocas é uma verdadeira jornada pela excelência da música brasileira.

Em edição recente vocês juntaram Baby e Pepeu novamente. Quais artistas gostaria de ver juntos numa edição do projeto?

Juntar Baby e Pepeu no palco foi histórico. Eles não tocavam juntos havia muito tempo. Nessa temporada atual  também unimos o Ritchie com o Guilherme Arantes, um espetáculo também. Temos alguns sonhos ainda, algumas ideias de conseguir, quem sabe um dia,  juntar Titãs com Barão Vermelho; Caetano com Djavan. São sonhos nossos, que a gente sabe que pode acontecer.

Qual a lembrança mais marcante que você traz da edição do Noites Cariocas, realizada nos anos 1980 pelo Nelson Motta e pelo Dom Pepe?

A energia. Eu devia ter, na época, 17, 18 anos, e a coisa mais marcante que tenho na minha alma é a energia daquele lugar, das pessoas chegando, né? A cena pop rock brasileira surgindo, então, para mim, a energia do evento sempre foi o mais marcante. Era uma vibe, dos artistas associados ao público ali nos anos 80, uma coisa absolutamente mágica, diria até que espiritual.

O Rio voltou a receber grandes festivais de música. A cidade está de fato preparada para acolher tantos eventos?

Sim, a gente de fato está recebendo muitos festivais. E a visão que tenho é a de que, no pós-pandemia, houve uma profusão de festivais, uma espécie de bolha. Mas entendo que, à medida em que o tempo vai passando, isso vá se depurado. Muitos produtores que não tinham experiência resolveram fazer festivais, então você teve ali literalmente, na minha visão, uma bolha. E acho que isso vai começar a se dissipar. Vão permanecendo os mais longevos, os mais preparados, com mais experiência. E o TIM Music Noites Cariocas está nesse grupo, afinal de contas é o festival mais longevo da história do país. O Noites Cariocas é de 1980, tem 44 anos, e o segundo mais antigo é o Rock In Rio, que é de 1985. Então é isso: há um processo de depuração, mas o TIM Music Noites Cariocas seguirá por mais 40 anos, mais quatro décadas, com absoluta certeza.

Madonna no Rio. Como realizador cultural, qual sua expectativa para um evento de tão grande porte?

Esse evento vai ser de uma visibilidade imensa para o Rio de Janeiro. Uma visibilidade imensa para nossa capacidade de realizar megaeventos, como é inclusive o caso do Rock In Rio, ou eventos muito singulares e únicos, como é o caso do Noites Cariocas. Então, acredito que será de uma visibilidade enorme. A Madona encerrando a Celebration Tour aqui vai ser histórico, será o maior show da carreira dela, não tenho nenhuma dúvida.

O consumo de música cresce nas plataformas, sem que os artistas sejam remunerados de forma justa. Como ex-executivo de gravadora, como vê esse pleito?

Acho que há uma discussão entre as gravadoras e os artistas de fato, esse assunto está em curso. Vejo que qualquer pleito que procure equilibrar os resultados seja  favorável. Com o início das plataformas, houve ali um momento de acomodação, e acho que estamos vivendo um segundo momento de acomodação. Então acredito e confio que todo mundo vai chegar em um acordo positivo, de forma honesta e justa.

Você atuou no marketing da Brahma na virada para os anos 1990 e viu de perto os camarotes serem transformados em espaços de lazer para além das escolas de samba. Hoje, se fala que quem vai aos camarotes dá as costas aos desfiles. Como vê essa questão?

Acho que cada caso é um caso, né? A pessoa que vai à Avenida e dá as costas para o desfile está desperdiçando uma oportunidade única de ver o maior show da Terra. Conheço bastante do assunto, trabalho há anos no negócio da indústria da música e do entretenimento. Acho que tem casos e casos. Tem pessoas que não dão as costas e assistem ao espetáculo. Para aqueles que dão as costas, sugiro que não deem, pois estarão perdendo um som, uma festa espetacular.

Te faço a mesma pergunta feita à Aniela: qual personagem brasileiro merece ter a vida contada num musical?

Bom, muitos personagens brasileiros merecem ter a vida contada num musical, muitos. Temos ai uma amplitude de possibilidades múltipla, e eu não focaria em ninguém, pois existem muitas possibilidades e, sem dúvidas, a gente vai ter oportunidade na Aventura de celebrar muitos deles, como já celebramos Chacrinha, Ayrton Senna e Elis Regina. Então, certamente ainda vamos celebrar muitos artistas e muitas pessoas que foram importantes para a trajetória do nosso país, mas não conseguiria focar em um determinado artista.

Qual o desafio que falta você encarar?

Desejo muito levar nossa música brasileira para o exterior, de uma maneira estruturada e bem pensada. Não tenho dúvidas de que irei fazer isso, de uma maneira importante, bem planejada e estruturada, com a grandiosidade que a nossa música brasileira merece.

Crédito da imagem: divulgação

 

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