‘Continuo sofrendo preconceito’

agosto 25, 2023

Regina Casé fala dos pedidos para voltar a mostrar a periferia na TV, do orgulho da filha e dos preconceitos sofridos

Regina Casé deixou sua marca no teatro e na TV. Multifacetada, transita com maestria entre a atuação, a direção e a condução de um bom bate-papo. Desde o início da carreira, no grupo “Asdrúbal trouxe o trombone”, até interpretar sua primeira vilã na novela “Todas as flores”, que estreia na TV Globo no dia 4 de setembro, ela sempre chamou atenção por seu talento e carisma. Não à toa, tem uma legião de fãs pelo país. Programas como “Brasil legal”, “Muvuca” e “Central da periferia” mostraram um Brasil que podia se (re)conhecer na tela. Isso sem falar de personagens icônicas como a Tina Pepper de “Cambalacho” e, mais recentemente, a Dona Lurdes de “Amor de Mãe”. Em entrevista ao NEW MAG, Regina relembrou o programa “Um pé de quê?”, pioneiro sobre a flora no país, e falou sobre maternidade e ainda sobre preconceitos que vive até hoje, como o etarismo. 

Você apresentou o programa “Um pé de quê?”, que tinha como foco a flora brasileira. O que mudou na sua percepção de Meio Ambiente depois do programa?

Esse programa é minha vida inteira. Foram mais de 20 anos apresentando-o. Até hoje meu marido continua numa luta incansável pela Floresta Amazônica e pela Mata Atlântica. Atualmente, vejo que tem mais gente preocupada com o Meio Ambiente. Naquela época, parecia que a gente estava fazendo uma loucura, o Meio Ambiente era visto como um lugar remoto. Eu até brincava que era um lugar lá longe, depois da Amazônia (risos). 

A Dona Lurdes de “Amor de mãe” e a Zoé de “Todas as flores” foram personagens completamente diferentes: uma mãe com quem o Brasil se identificou e uma vilã que amamos odiar. Como foi para você interpretar personagens tão diferentes? 

Isso é o que todo ator quer, poder mostrar esse lado completamente diferente. Foi uma oportunidade incrível e aconteceu logo em seguida de uma a outra. Para mim, foi um desafio, sempre interpretei personagens simpáticas, com as quais me identificava, como a Dona Lurdes, como a Val do “Que horas ela volta?”, e a dona Darlene do filme “Eu, tu, eles”. Em comum, elas eram mulheres lutadoras e nordestinas. Mudar para Zoé foi bem difícil, mas foi um trabalho muito legal.

Sua filha Benedita atualmente comanda o videocast “PCD POD”. Como é para você ver sua filha seguindo seus passos diante das câmeras?

É muito emocionante. Ali dimensiono o tamanho do preconceito que não era nem externo. Eu e a Benedita jamais imaginávamos que ela poderia apresentar um programa no YouTube. Isso podia até ser considerado capacitismo da nossa parte, algo que a gente hoje em dia luta muito contra. 

Seu filho Roque recentemente completou 10 anos. Como é para você lidar, mais uma vez, com um filho que está entrando na adolescência?

É mais difícil. Nunca fui mãe de menino adolescente, só de menina. Estou morrendo de medo dessa fase. 

A “TV Pirata”, da qual você fez parte, entrou para a história da televisão brasileira. Quais lembranças você guarda dessa época? Como era sua relação com o elenco?

As lembranças são ótimas. Imagina, era o melhor camarim do mundo. Fiz parte de um elenco que tinha Marco Nanini, Débora Bloch, Luiz Fernando Guimarães, Diogo Vilela e Claudia Raia. Até hoje nós somos muito amigos. 

Você revelou diversos talentos nos seus programas vindos principalmente das periferias. Sente vontade de voltar a fazer um programa como foi o “Esquenta”?

Não só sinto vontade como todo mundo pede. Está uma onda que só se fala disso nas minhas redes sociais. O tempo todo pedem a volta do programa.

O lema do “Esquenta” era “xô, preconceito”. Você sofreu algum tipo de preconceito na sua vida?

Sofri muitos e continuo sofrendo. Em vários lugares que vou perguntam “o que essa mulher velha está fazendo aqui?”. Ou “o que uma mulher dessa idade está fazendo no baile funk, no pagode?”. No “Esquenta” mesmo, só porque meu programa tinha pessoas do funk, do samba e majoritariamente  pessoas pretas, falavam que “a Regina só anda com bandido”. É horrível. 

Crédito da imagem: divulgação / TV Globo

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