‘Chego aos 50 com menos ansiedade’

abril 12, 2024

Maria Fernanda Cândido fala do trabalho no filme “A paixão segundo G.H.”, relembra a amizade com Raul Cortez e comenta sobre completar meio século de vida

Nas telas, nos palcos ou até mesmo nas passarelas, Maria Fernanda Cândido sempre mostra seu dom para a arte. Considerada uma das grandes atrizes de sua geração, teve seu talento reconhecido nacionalmente ao participar da novela “Terra nostra” como a inesquecível  Paola. Antes disso, já havia atiçado a curiosidade do público ao transformar-se em fogo, água e pedras na abertura da novela “A indomada” — adjetivo que, por sinal, lhe cai muito bem. Afinal, a atriz não se colocou apenas na caixinha da televisão e voou para o cinema — no Brasil e no exterior. Em 2019, participou do filme italiano “O traidor” e, dois anos depois, foi uma das estrelas de “Animais fantásticos: Os segredos de Dumbledore”, longa da franquia Harry Potter. Aliás, pode-se dizer que Maria Fernanda é especialista em produções criadas a partir de livros: ela atuou nas séries “Capitu”, inspirada em “Dom Casmurro”, de Machado de Assis (1839-1908), em “Correio feminino”, de Clarice Lispector (1920-1977), em cujo universo ela volta, como protagonista de “A paixão segundo G.H.”. O longa, que estreou na última quinta-feira (11) nos cinemas, é um dos assuntos desta entrevista ao NEW MAG. Ela também fala da retomada da parceria com o diretor Luiz Fernando Carvalho, recorda a amizade com Raul Cortez (1932-2006) e também da chegada aos  50 anos — a serem completados em maio.

“A paixão segundo G.H.” é apontado como um dos livros mais densos de Clarice Lispector. O que norteou a construção da tua G.H., de quem só conhecemos as iniciais?

Sim, nós só conhecemos as iniciais G.H. e, segundo a opinião de muitos estudiosos, elas significam gênero humano. Talvez fosse melhor falar do que norteou a desconstrução, a despersonalização dessa mulher, que foi a própria obra de Clarice Lispector. Nós não tínhamos um roteiro nas mãos. O livro foi o nosso guia. 

Como foi retomar a parceria com Luiz Fernando Carvalho, que te dirigiu em “Capitu”, fora do âmbito da TV?

A nossa parceria acontece há mais de 20 anos, desde a novela “Esperança” em 2002, ano em que o Luiz Fernando me presentou com o livro “A paixão segundo G.H.”. Tenho esse exemplar assinado por ele até hoje. Acredito que na época ele nem sonhava em fazer esse filme e muito menos que iria me convidar a fazer a personagem principal. Li o livro quando eu tinha 28 anos e foi muito impactante. Depois disso, seguimos fazendo vários projetos, que sempre estiveram na fronteira do audiovisual com o cinema e a literatura. Fizemos adaptações de obras de Machado de Assis, Milton Hatoum e até da própria Clarice. Em 2008, ele me convidou para “A paixão segundo G.H.”. Confesso que levei um susto e, ao mesmo tempo, me senti muito agraciada por ter me chamado para o trabalho. Nessa altura tínhamos acabado de fazer “Capitu”. Mais alguns anos se passaram e, em 2017, ele me liga e fala “e aí, está pronta?”, e disse “claro”. Começamos a preparação para as filmagens, o laboratório que durou um ano num galpão em São Paulo. É uma dinâmica que acontece em todos os trabalhos do Luiz. Essa relação de confiança e de interlocução artística vem se construindo ao longo desses 20 anos. Talvez todo esse tempo tenha servido como uma grande preparação para esse filme. Somos uma grande família. 

Você atuou recentemente em “Vermelho Monet”. O que tem te motivado a estar mais presente no cinema? 

O cinema é minha grande paixão. Essa é minha motivação. É o que mais amo fazer. Tenho tido a sorte de ser convidada para projetos maravilhosos ultimamente.

Você teve oportunidade de estrear na TV sob as bênçãos de Raul Cortez, um de nossos maiores atores. Qual ensinamento trazido por ele você leva a seus novos trabalhos?

Tive a grande sorte de ter trabalhado e ter tido uma grande amizade com o Raul Cortez. Ele me ensinou muitas coisas e uma das que poderia citar é o rigor com o qual ele trabalhava. O Raul era extremamente disciplinado e rigoroso. Um grande estudioso dos seus papéis e de todos os seus trabalhos. Paralelamente, ele também era um ator de grande liberdade, audacioso e corajoso para experimentar e criar. Isso ficou para mim de maneira muito forte. Sinto ainda a presença do Raul em muitos momentos. É como se ele estivesse ao meu lado. Foi alguém muito importante e muito marcante na minha vida. 

No próximo mês você completa meio século de vida. Com que sentimento chega aos 50 anos?

Chego aos 50 anos com menos ansiedade, mais atenção para os meus processos, menos preocupações com resultados e erros. Chego com a sensação de que posso olhar para trás e ver que tenho uma trajetória da qual me orgulho bastante. 

Crédito da imagem: reprodução / Internet

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