No meio do rock e do pop, há um termo comumente cunhado quando um gutarrista é uma referência: guitar hero. Em se tratando de Jeff Beck, que morreu na última quarta-feira (11), aos 78 anos, ele foi muito mais do que uma referência: um gênio. Em pouco mais de 50 anos de carreira, ele transitou por diferentes estilos e propostas devido ao knowhow que o fez único– e uma referência para jovens que viriam a enveredar pela música.
Roberto Frejat não sonhava ainda em ser artista quando ouviu “Truth”, do Jeff Beck Group. Lançado originalmente em 1968, o LP marcou a estreia do grupo comandado por Beck, então ex-integrante dos Yardbirds. E, consequentemente, marcou uma legião de jovens. Mais do que isso: foi peça-chave para aquele jovem brasileiro abraçar a guitarra, instrumento que domina como poucos. Frejat falou com NEW MAG sobre o impacto de Beck na sua formação e sobre o legado – ou, melhor dizendo, legados – deixados pelo músico.
– Ele estreia na música juntamente com o Led Zeppelin. Ele e o Jimmy Page (guitarrista do Led) foram vizinhos e tinham estilos parecidos no começo, mas depois seguiram caminhos diferentes. Eu era garoto quando ouvi o “Truth”, e o impacto daquilo foi enorme – rememora Frejat.
Um dos aspectos que sempre fascinaram Frejat foi o da versatilidade do ídolo, que, em mais de 50 anos de carreira, flertou com diferentes estilos permitindo-se variadas experimentações artísticas:
– O legado dele é muito extenso. Ele foi guitarrista em várias situações diferentes. Começou no rock, foi líder de power trio, passeou por estilos como o fusion, foi para o funk, tocando com Steve Wonder e foi pioneiro ao flertar com a música eletrônica, num tempo em que ela era apontada pelos grandes músicos como música para gente que não sabia tocar. E justo o cara que tocava para caramba foi lá e quebrou essa barreira.
Ao mesmo tempo em que foi plural e versátil, Beck foi singular em cada uma das suas buscas artísticas, como salienta Frejat:
– Ninguém fazia nada parecido com o que ele fazia, com uma técnica muito diferente da tradicional. E sempre com buscas surpreendentes como quando ele decidiu fazer música instrumental. Ele nunca ia pelo mais provável. Sua essência era ser improvável. Chega a ser difícil didatizar o seu estilo porque ele era singular.