‘Ainda tenho esperança de esse pesadelo acabar’

março 5, 2022

Mulher do jogador Fabrício Alvarenga, Aline Vittorazzo conta o que sua família viveu ao deixar a Ucrânia rumo à Polônia

Uma mulher carrega seu bebê e tenta, na medida do possível, protegê-lo da multidão ao redor. Como ela, todos ali desejam cruzar o portão na fronteira entre a Ucrânia e a Polônia. Eis que a mulher é brutalmente empurrada por um homem. Seu propósito é o de alcançar o objetivo comum a todos ali. Essa cena ficou (e ficará na certa para sempre) na memória da pedagoga brasileira Aline Vittorazzo. Ela e o marido, o jogador de futebol Fabrício Alvarenga, pegaram o filho de um ano e a cachorrinha de estimação e deixaram, na última semana,  a casa onde viviam em Lviv, no Oeste da Ucrânia. O objetivo da família era chegar à Polônia, onde se encontram. Boa parte do percurso foi feito a pé. Já na fronteira, ficaram um dia inteiro de pé, no afã de cruzar o tal portão. Exaustos, buscaram um hotel. Em vão. O jeito foi ficar ao relento, entregues às baixas temperaturas do inverno no Leste Europeu. Ao NEW MAG, Aline conta como foram esses momentos, que precederam a chegada da família em solo polonês.

Qual foi o pensamento mais constante durante a saída da Ucrânia e o deslocamento à Polônia? 

Meu pensando estava ligado ao desespero de sair do meio daquela multidão na fronteira e passarmos para a Polônia o quanto antes! A cada momento eram  mais pessoas chegando na fronteira e todos ficavam ali, se acumulando. Em comum, a vontade de sair do país também e se salvarem.

Houve algum momento em que temeu pelas vidas de vocês? 

O desespero de sair dali era grande. Era uma multidão buscando passar pela fronteira a todo custo, passando literalmente por cima das pessoas, numa total falta de respeito às mulheres, às mães e a seus bebês e crianças. Isso me chocou muito. Ficamos um dia inteiro de pé, esperando para termos acesso ao portão da fronteira. A multidão crescia, e a espera foi um completo insucesso. Decidimos buscar um hotel ou local seguro para ficarmos.  O que  também  foi impossível pois tudo estava mega lotado. Nosso  abrigo foi a rua  mesmo.

Qual a situação mais desumana vista durante a travessia? E qual a mais comovente? 

A situação mais desumana foi ver homens passando e empurrando mulheres com crianças no colo para chegarem na frente ao portão da fronteira. A mais comovente foi ver, no meio da multidão, uma mãe exausta, sentada sobre sua mala, com seu bebê sendo alimentado no peito. Essa imagem me marcou muito.

Tem notícias dos amigos de vocês que tentavam cruzar a fronteira? Como eles estão?

Há uma equipe, que chamamos de  Frente Brazuca, que está dando socorro e todo o apoio aos brasileiros que precisam atravessar a fronteira. Eles também oferecem alimentos e abrigo. Todos os nossos amigos foram salvos por esse grupo solidário.

Um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) vai à Polônia resgatar os brasileiros que aí se encontram. Vocês têm planos de voltar ao Brasil?

Não voltaremos ao Brasil. Meu marido vai precisar fazer uma cirurgia no joelho devido a um acidente ocorrido durante um treinamento na Turquia. A cirurgia será aqui mesmo, na Polônia, e a recuperação pós-cirúrgica também.

Passada a recuperação do Fabrício, pretendem voltar ao Brasil?

Não sei se voltaremos ao Brasil. Ainda tenho esperança de esse pesadelo acabar e podermos voltar a nossa casa em Lviv.

 

 

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