‘Adoro todas as canções que Gil fez pra mim’

março 6, 2022

A empresária Flora Gil fala sobre vida, carreira, família e do trabalho ao lado do marido, Gilberto Gil

Ela tinha 18 anos quando conheceu Gilberto Gil em Salvador, na saída de um show da cantora Baby do Brasil (na época, ainda assinava como Baby Consuelo). De lá pra cá, nunca mais se separaram. Hoje, Flora Gil é diretora da Gege Produções Artísticas, responsável pela carreira do marido e a primeira empresária a conseguir reunir todos os direitos autorais da obra de um músico do porte de Gil no Brasil. Em conversa com o New Mag, Flora fala sobre família, carreira, política e como se sente sendo musa de um dos maiores compositores da MPB (Gil dedicou diversas músicas à amada, entre elas, “Flora”, do disco Luar (A Gente Precisa Ver Luar), de 1981, e “Mar de Copacabana”, do disco Extra, lançado em 1983).

Você tem uma família muito grande: são muitos filhos, filhos de consideração e netos. Em julho estreia no Amazon Prime Video a série documental que retrata a intimidade da família Gil. O que o público pode esperar desta produção?

Realmente eu tenho uma família grande, com muitos filhos. São sete, com os filhos de consideração – nem são de consideração, às vezes eu acho até que são filhos mesmo, de coração, apesar de não terem nascido da minha barriga. Mas é um amor muito grande que eu tenho por eles, pela Nara, pela Marília, pela Preta e pela Maria. Eu tenho o Bem, a Bela e o José. Tinha o Pedro, filho da Sandra [Gadelha]. Infelizmente, em 1990, aconteceu essa tragédia do Pedro sofrer um acidente de carro. Mas originalmente o Gil teve oito filhos, dois com a Belina [Moreira], três com a Sandra e três comigo. A gente está fazendo uma série para a Amazon. Já filmamos a primeira temporada, que deve ir ao ar no comecinho do segundo semestre, ali perto dos 80 anos do Gil, mas infelizmente não posso dar muitos detalhes, acho que a Amazon quer caprichar na comunicação. E provavelmente a gente deve gravar uma segunda temporada.

Este ano você completa 40 anos à frente da Gege Produções Artísticas. Dizem que onde se ganha o pão não se come a carne, mas essa regra não vale pra você porque você e Gil têm um bom relacionamento tanto pessoal, quanto profissional. Qual é o segredo?

Cheguei na Gege com 20 anos e fui aprendendo como a organização funcionava. Fui convivendo com a arte, com a obra, contratos, viagens e shows. Me aproximei de advogados, contadores, empresários e com a turma da gravadora onde Gil mantinha contrato, naquela época ele estava deixando a gravadora Universal e indo para a Warner com André Midani na presidência. Esses profissionais da área certamente têm digital na formação do meu conhecimento. Percebi minha aptidão na área das artes, cultura, música e principalmente o direito do criador [direito autoral]. Tenho um relacionamento pessoal e profissional com o Gil evidentemente muito bom. O fato da gente trabalhar juntos não interfere em nosso relacionamento pessoal. Temos um escritório com uma equipe de pessoas que confiamos. São profissionais competentes em suas áreas. Maria Gil, filha de Gil, trabalha conosco diariamente e se ocupa de produção juntamente com a Fafá Giordano, minha irmã. A gente gosta dessa mistura. Trabalhar com filhos, netos, irmãos e amigos nos faz bem. Nossa equipe é focada, firme e bastante interessada quando o assunto é pré-produção, produção, estrada, viagens, montagens, gravações etc. O backstage dos trabalhos sempre é muito gostoso.

Como empresária cultural, qual é a sua avaliação do atual Governo?

A avaliação do governo se mistura com a da pandemia. Um desastre. O atual governo federal é amargo, não gosta e não liga para a cultura. É triste para os artistas, para os que trabalham, vivem e sobrevivem da música, do teatro, da dança, do palco, da cultura popular em geral. É um governo muito desrespeitoso.

A Bela Gil, sua filha, é chef de cozinha e prepara receitas saudáveis como moqueca de jaca verde e churrasco de melancia. Você segue esta dieta ou aprecia também a cozinha tradicional?

Logo quando Bela sinalizou que seguiria mesmo a vida na dedicação da saúde, bem-estar, cuidado com o corpo, mente e meio ambiente, eu estava chegando perto da menopausa. Por volta dos 50 e poucos anos. Bela foi importantíssima pra minha nova fase da vida adulta. Ela me ensinou alguns segredos simples, como me afastar drasticamente do açúcar. Me fez perceber que, a partir da menopausa, a gente segue para a segunda metade da vida e que, assim, quanto mais cuidado e dedicação, melhor envelhecimento. Eu tento manter uma linha mais natural, menos calórica e mais saudável. Porém, viajo muito trabalhando com Gil em tours e muitas vezes a comida não é aquela que você deveria estar comendo após um show. Mas consegui, nesses anos, equilibrar as escolhas no prato, mesmo que as mais deliciosas e saborosas comidas estivessem à mesa. Como boa italiana que sou, gosto de pão e vinho e esse sim é meu maior desafio. Outro dia fui ao restaurante de Bela em SP, Camélia Ododó, que fica na Vila Madalena. Fomos Gil e eu almoçar pra poder vê-la em SP. Pra minha surpresa, ela e o marido João Paulo capricharam na adega do restaurante [risos].

Você já ganhou lindas músicas compostas por Gil. Como é ser musa inspiradora do seu marido?

Eu adoro todas as canções que Gil fez pra mim. São muitas e são lindas. Não tenho essa história de ser musa. Escuto aquelas músicas que todo mundo está ali cantando junto e penso quieta: essa música foi feita para mim! Isso me dá mais amor, mais respeito por ele, mais admiração e é claro que fico feliz. Quem não ficaria?

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