Adeus ao mestre

abril 25, 2024

Carlos Leonam ajudou a revolucionar o colunismo no país e foi mestre de Ricardo Boechat e de Anna Ramalho

O Jornal O Globo teve como uma de suas normas, ali entre os anos 1960 e 80, a de dar nomes de personagens fictícios às colunas publicadas nas suas páginas. Assim nasceram colunas como “Perla Sigaud” e “Linhas cruzadas”, entre outras. E Charles Swann, o personagem da série de livros “Em busca do tempo perdido”, de Marcel Proust (1871-1922), foi o nome escolhido para uma coluna que o matutino passou a publicar a partir dos anos 1970.

Com o nome traduzido para Carlos Swann, a coluna tinha como propósito falar de tudo um pouco – de política à cultura, de negócios à vida social carioca. Dois jornalistas foram escalados para a missão: Fernando Zerlotini (1931-2013), o Zerlô, e Carlos Leonam, que faleceu nesta quinta-feira (25), aos 84 anos.

O colunismo era uma arte jornalística muito descritiva, que narrava em minúcias eventos – na grande parte sociais, daí o epíteto “social”. O colunismo moderno, que viraria uma norma a partir dos anos 1980, deve-se a nomes como Nelson Motta, Zózimo Barrozo do Amaral (1947-1997) e, claro, à dupla por trás do Swann: Zerlô-Leonam.

Eram tempos analógicos, em que as notícias eram apuradas pelo telefone ou in loco, nos próprios eventos, e redigidas a máquina. Os hoje também saudosos Ricardo Boechat (1952-2019) e Anna Maria Ramalho (1949-2022) foram repórteres da dupla e, tempos depois, trilharam com brilhantismo seus caminhos no colunismo, com Boechat editando o Swann, nos anos 1980.

Eram tempos em que o jornalismo exigia amor à camisa. Às sextas-feiras, nos dias do chamado Pescoção, eram fechadas duas edições: a de sábado e a de domingo, e adiantada ainda a de segunda (a ser atualizada pelo plantonista no domingo). Os profissionais saíam da redação, muitas vezes, depois de duas da manhã, esticando nos bares da moda ou voltando, exaustos,  às suas casas. Eram tempos de amor ao ofício – e de maestria.

Leonam estava internado em decorrência de uma pneumonia bacteriana na Casa de Saúde São José, Zona Sul do Rio de Janeiro, onde estava desde o último dia 13. Ao chegar lá no andar de cima, ele certamente será recebido por Zerlô, Boechat e pela Ramalhete, seus amigos e antigos companheiros de Swann.

A resenha será longa, assuntos não faltam. E a conversa será cheia de sarcasmo, picardia e muita, muita  inteligência. Eram marcas do quarteto. Eram marcas indeléveis de Leonam.

Zózimo Barrozo do Amaral e Carlos Leonam: dupla que ajudou a instaurar o colunismo moderno

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