‘A viola também me escolheu’

outubro 7, 2022

Gabriel Sater fala dos desafios de"Pantanal", do pacto com a mulher, dos conselhos do pai e do encontro musical com João Carlos Martins

Diz o ditado que quem sai aos seus não degenera. E Gabriel Sater é prova disso. Ele seguiu os passos do pai, Almir Satter, na música e na interpretação e poderia ficar à sombra do patriarca, mas não. Aos 40 anos, ele disse a que veio. O Trindade de “Pantanal” foi um dos pontos altos do remake, que chega ao fim neste fim de semana. O personagem foi cobiçado pelo ator desde que soube que a nova versão da novela iria ao ar. O rapaz correu atrás e levou o papel, interpretado com coragem, seguindo uma série de cuidados. A novela chega ao fim, e Gabriel segue firme na música, através da qual pavimentou uma carreira que soma 22 anos. E encara agora uma missão tão desafiadora quanto o papel que o consagrou: apresentar-se com orquestra. O conjunto em questão é a Orquestra Bachiana, regida por João Carlos Martins, ao lado de quem Gabriel gravou “Amor de índio”, canção de Beto Guedes e Ronaldo Bastos, incluída na trilha da novela. O encontro será no show “Do clássico ao Pantanal”, que aporta, domingo (09), no Qualistage. Esse encontro é descrito por Gabriel como a possibilidade de “viver um sonho acordado”, como ele conta, por telefone, nesta entrevista ao NEW MAG.

O Trindade, revivido por você na novela, foi um dos pontos altos do remake. Houve algum receio em aceitar o papel ou foi algo levado de boa?

Batalhei pelo papel desde o primeiro momento em que soube, pela imprensa, que haveria o remake da novela e lá fui eu atrás do teste. Nunca houve um convite. Foi um papel que eu quis mais do que qualquer outro, até pela própria ligação com o meu pai. Claro que haveria o risco de eventuais comparações, mas eu topei o desafio assim mesmo.

As cenas em que você ouvia o Cramunhão eram fortes e muito bem dirigidas. Você buscou algum tipo de proteção na religiosidade para desempenhar o papel?

Sem dúvida alguma. Eu tinha uma sequência de orações que rezava antes dos ensaios e das gravações. Sempre houve esse tipo de preocupação por eu lidar com uma força desconhecida e, por isso, sabia que era importante me proteger, da mesma forma que realizar o trabalho com muita seriedade e respeito àquela força.

Você seguiu os passos do teu pai na música e na interpretação. Qual a dica mais preciosa dada por ele?

Duas coisas que ele me disse foram a de eu, mais do que nunca, deveria manter a minha identidade artística e também a minha verdade artística, sem me deixar levar por modismos ou tendências. O artista pode, ao longo da carreira, perder tempo com situações que não o acrescentam e não há nada mais preciso do que o nosso tempo. Isso é algo que meu pai sempre me falou: não perder tempo com aquilo que a gente não consegue controlar.

Você consegue tocar sua vida profissional preservando a vida pessoal. Esse cuidado é lago que veio do teu pai ou da tua mãe?

Vem de mim mesmo. Ao mesmo tempo em que tenho um lado expansivo, sou muito reservado. Minha mulher (Paula Cunha), por exemplo, não gosta de aparecer e sempre respeitei muito essa escolha dela. Somos casados há 16 anos e temos esse combinado entre nós. Eu relutei, no início, em seguir pela música justamente por querer evitar comparações com meu pai. Tive medo demais das comparações, mas não tive escapatória. A viola também me escolheu.

Como se deu a aproximação com o maestro João Carlos Martins. É uma tremenda responsabilidade tocar com orquestra, não?

Perfeitamente. O trabalho feito com orquestra exige muita responsabilidade e dedicação. E isso é algo que ponho em prática na vida. Tenho três formatos de shows, criados em menos de dois meses, e esses três trabalhos me exigem dedicação e responsabilidade. Minha aproximação com o maestro se deu através de uma live e foi, primeiramente, com a orquestra. A partir desse primeiro encontro surgiu a ideia para gravarmos “Amor de índio”, que acabou entrando para a novela como tema do casal principal da trama. Poder me apresentar ao lado do maestro é um sonho que vivo acordado. É um trabalho que exige responsabilidade, dedicação, mas que é feito também com diversão, que é algo fundamental na vida. Quero que, depois que o maestro voltar de Nova York (ele se apresenta no Carnegie Hall em novembro), nós possamos fazer o registro audiovisual desse nosso encontro.

“Pantanal” chega ao fim. O que mudou na sua vida com a novela?

A experiência única que foi a de viver esse projeto. Ele me enriqueceu como artista e como pessoa. Foi um trabalho que me deu a experiência de conhecer pessoas maravilhosas e, juntos, pudemos desempenhar um trabalho que, desde o início, foi realizado com muito amor. Posso dizer que fiquei ainda mais pantaneiro (risos).

O que vai deixar mais saudade da rotina de gravações?

Sendo um pouco egoísta, a possibilidade de poder evoluir diariamente no meu trabalho. Vou sentir falta também do convívio e do aprendizado que tive por trabalhar com verdadeiros titãs das artes. E isso vale também para os diretores. As gravações começaram quando ainda estávamos na pandemia, e o trabalho do Rogério Gomes foi de grande importância por envolver amor, generosidade e paciência. Depois, ele saiu, mas essas características foram mantidas pelos outros diretores. Eles conseguiram manter a união da equipe com muita serenidade, e isso foi uma lição valiosa para a vida.

Crédito da imagem: Júlia Costa

 

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