‘A forma de estudar mudou’

fevereiro 20, 2022

Claudia Romano, presidente do Instituto Yduqs, fala sobre a aliança entre tecnologia e aprendizagem e do que levou a Estácio a ser um caso de sucesso

Era 1970 quando o advogado João Uchôa criou, no Rio Comprido, Zona Norte do Rio de Janeiro, uma instituição voltada a inserir no ensino superior pessoas financeiramente impossibilitadas e trabalhadores em jornada integral. Ele não imaginava que, 50 anos depois, o tal curso ganharia status universitário e chegaria a 25 estados e ao Distrito Federal. São mais de 700 mil alunos país afora e a Universidade Estácio de Sá é hoje um case de sucesso. Parte dele vem do olhar empreendedor de uma mulher, Claudia Romano. Vice-reitora de Cultura, ela preside agora o Instituto Yduqs, voltado a ações de Desenvolvimento Social à universidade e às suas mais de 30 instituições parceiras. E há muito ainda a realizar. Com a pandemia, o ensino remoto ganhou força, mas a qualidade, aposta ela, virá “do fortalecimento do professor aliado ao uso inteligente do ensino digital”, como conta à NEW MAG a seguir.

Ao longo dos anos, a Estácio cresceu, ganhou mais mercado, abriu novos campi e chegou a um patamar de qualidade no ensino. Foi difícil trilhar esse caminho?

A Estácio começou tendo como público-alvo a classe assalariada, em geral, pais em jornada integral de trabalho. Em idos de 1970, o foco já era nas classes C e D, hoje centro das atenções do empresariado e do governo.  A Estácio conquistou o status de universidade em 1988; expandiu-se pelo estado em 1996; iniciou presença em âmbito nacional em 1998; abriu capital em 2007 e, em 2008, passou a ser gerida por uma private equity (quando investidores aportam capital em empresas com potencial). Quem diria que uma instituição que começou em um pequeno imóvel, na Zona Norte do Rio, teria mais de 90 unidades espalhadas em 25 estados e no Distrito Federal?  Muitas das unidades estão em áreas próximas dos alunos, principalmente dos que trabalham. Em 2009, começamos com cursos à distância, experiência que culminaria no novo modelo de ensino. A Estácio é pioneira e um dos maiores players de ensino digital. Todas as instituições do grupo são reconhecidas pelo MEC com elevados conceitos de qualidade. Hoje, são mais de 700 mil alunos.

Recentemente, Anitta e Juliette estrelaram a nova campanha da Estácio. Como você avalia a conexão entre um produto, no caso uma instituição de ensino, e figuras midiáticas dessa projeção?

Nossa nova campanha de captação agora tem Juliette e Anitta juntas, pela primeira vez na publicidade. É uma dupla de brilho, com trajetória de sucesso e protagonismo nas suas carreiras. São duas mulheres fortes, que alcançaram o topo batalhando, estudando e trabalhando. São a cara dos estudantes que batalham para crescer na profissão. Além disso, elas possuem uma história de parceria e acolhimento, assim como os professores acolhem  nossos alunos. Estamos trazendo a força dessas duas mulheres para a nossa marca.

 Você ocupa um cargo de liderança. Como mulher, qual foi o obstáculo mais difícil de transpor na sua trajetória?

Nas lutas diárias e, por meio de gestos concretos de sororidade, estamos conseguindo potencializar vozes femininas e mudar a história das mulheres, que um dia pensaram em desistir dos seus sonhos. É um movimento sem volta, capaz de mudar a vida de quem foi deixada à própria sorte para viver lutas que não eram suas.  Há alguns anos, vimos as mulheres começarem a despontar no mercado de trabalho em funções predominantemente masculinas. No caso da Estácio, do total dos nossos alunos, mais da metade são mulheres. Muitas são as primeiras da família a ingressar num curso superior. Queremos também que cada vez mais mulheres cheguem a cargos de liderança e, hoje, isso só é possível através da educação. Na nossa organização, mais da metade dos cargos de chefia são ocupados por mulheres.

E o que mudou na empresa durante a sua gestão?

Há quase 20 anos, implementamos o Programa de Responsabilidade Social “Educar para Transformar”, atuando em frentes, como esporte, cultura, sustentabilidade, cidadania e  empreendedorismo. No esporte, por exemplo, temos mais de mil atletas e paratletas formados e outros quase mil com bolsas de estudo. Desenvolvemos um programa de Alfabetização e Letramento de Jovens e Adultos, que já alfabetizou mais de 500 pessoas. E recentemente criamos o Instituto Yduqs, do qual sou a presidente, que vai acolher nossas instituições de ensino e promover mais desenvolvimento social. Temos mais de 30 instituições parceiras que beneficiam crianças e jovens em vulnerabilidade em todo o país. A empregabilidade dos alunos também é uma prioridade e trabalhamos diariamente em parcerias para que deem o primeiro passo. Um dos nossos objetivos é estimular o empreendedorismo e intraempreendedorismo, criando soluções de renda e emprego para os alunos. Na área de Relações Governamentais montamos uma estrutura de relacionamentos com diversas instâncias do poder público, como o MEC, o CNE, o Inep, o FNDE e a Capes.

O jovem hoje é muito familiarizado com a tecnologia, mídias sociais etc. Como você vê essa mudança de perfil dos novos e futuros estudantes e como isso pode ser usado a favor da educação?

O mundo hoje é digital. As crianças já nascem conectadas e crescem inseridas na tecnologia. Consequentemente, a forma de estudar mudou. Vivemos em uma sociedade cada vez mais digital e conectada, que deseja novos formatos e meios interativos de obter conhecimento. Temos uma vertical de produção de conteúdo educacional, com uma equipe multidisciplinar, onde produzimos conteúdo em todos os formatos: vídeos, podcasts, infográficos interativos, games, entre outros. Em pouco tempo, este novo espaço de aprendizagem já demonstrou um aumento no tempo de estudo, que é duas vezes superior em relação aos alunos que não utilizam a plataforma. Hoje, a satisfação desse grupo digital é de 85% com a qualidade e o formato de aprendizagem.

A pandemia trouxe as aulas remotas. Qual o balanço, desafios, percepções e aprendizados que a Estácio tirou dessa pandemia? Você acredita que o futuro do ensino será todo à distância?

O ensino presencial tem uma força grande e continuará sendo uma opção desejada. Pesquisas internas das instituições de ensino revelam que, dependendo do curso e área de conhecimento, a preferência é de até 75% pelo presencial. Outra percepção é que o aluno ficou mais digital. Tal ensino é, de fato, um caminho seguro para ganhos de qualidade e eficiência para o presencial. Com a pandemia, antecipamos investimentos em tecnologia e em planos que já estavam sendo desenvolvidos.  A sala de aula mudou e, a partir da imersão digital, a organização revisitou o seu modelo de ensino. A tecnologia digital, seja na sala de aula física ou virtual, permite que os professores desenvolvam habilidades importantes para trabalhar com os alunos agora e nos próximos anos.  Vimos também que há uma demanda de estudantes que optam pelo modelo mais flexível. Isso nos levou a criar modelos híbridos, que trazem flexibilidade de horário e redução de deslocamentos.  O desafio para as instituições de ensino se dará em duas frentes: na gestão acertada do modelo e na entrega de cada vez mais qualidade, que virá do fortalecimento do professor e do uso inteligente do ensino digital.  Acreditamos que a tecnologia continuará presente e que vai ajudar bastante as novas gerações. Conteúdo e aprendizado vão ultrapassar a barreira da sala de aula.

 

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