‘A cultura faz desabrochar no ser humano suas qualidades’

fevereiro 17, 2022

Carlos Alberto Serpa fala da importância do Prêmio Cesgranrio de Teatro, que volta este ano, e da forma como o poder público precisa ver os realizadores artísticos

Em muitas culturas civilizadas, o trabalho do professor é tão respeitado quanto o de um chefe de estado. O empresário Carlos Alberto Serpa é chamado por seus subordinados e por muitos de seus amigos de professor, profissão que exerceu por anos. Presidente da Fundação Cesgranrio, criada por ele em 1971, Serpa é um ferrenho defensor da educação como meio de aprimorar a sociedade. E vê na Cultura outra peça-chave para isso. Tanto que reativou a Academia Brasileira de Cultura e realiza os prêmios Cesgranrio de Dança e de Teatro. Este último é hoje referência no segmento que representa e volta com tudo este ano, após a interrupção das atividades teatrais em razão da pandemia. Prestes a completar 80 anos, sabe que, nos terrenos da Educação e da Cultura, há muito ainda a semear. “O que posso prometer é que nunca pararei de semear”, revela ele à NEW MAG nesta entrevista.

Como realizador cultural, como o senhor vê a forma como a classe artística é tratada pelo poder público? 

O poder público precisa mapear e compreender melhor as estruturas que mantém uma sociedade saudável. Quando o fizer, perceberá que a cultura é um pilar capaz de manter de pé a saúde emocional e mental da sociedade. A forma como a classe artística é tratada pelo poder público está ligada à compreensão que ele tem sobre a contribuição da indústria criativa para a sociedade, seja economicamente ou emocionalmente.  É preciso primeiramente que a cultura e, particularmente, o fazer artístico sejam valorizados em todo o seu potencial. É importante que os diversos profissionais envolvidos sejam percebidos e respeitados como parte importantíssima dessa engrenagem. A cultura faz desabrochar no ser humano suas qualidades intrínsecas.

A Academia Brasileira de Cultura, recém-criada pelo senhor, terá uma agenda como a da Academia Brasileira de Letras?

Naturalmente.  A Academia Brasileira de Cultura veio integrar importantes nomes da cena cultural brasileira num processo de articulação importante para o desenvolvimento de projetos que estimulem o fazer artístico nas mais diversas áreas e camadas da sociedade. Ainda estamos vivendo o processo de estruturação de nossos trabalhos, estudando os objetivos mais prementes e a metodologia de trabalho mais eficaz. Em breve poderemos divulgar nossa agenda e compromissos para com a cultura.

O Prêmio Cesgranrio de Teatro é hoje referência entre as premiações desse segmento. Qual o segredo desse sucesso?

Não há segredo. Há apenas uma vontade de reconhecer o valor da classe teatral e de querer recompensá-la por seu esforço em continuar abrindo as cortinas. Foi com essa premissa que reuni excelentes profissionais na área da cultura para criar um prêmio teatral no Rio de Janeiro. Não um prêmio, mas uma referência, como você mencionou. Entendemos que era preciso dialogar com vários ofícios do teatro, contemplando-os em pelo menos doze categorias. Constituímos um conceituado júri e estipulamos, para cada uma das categorias, o maior prêmio da cena teatral brasileira: R$ 25 mil. A partir disso, produzimos as cerimônias de premiação, referências também no Brasil. O formato de nossas cerimônias sempre trouxe inovações, integração entre várias correntes teatrais e abriu espaço a demandas da classe artística. Também homenageamos grandes nomes, como Fernanda Montenegro, Ruth de Souza (1921-2019), Nathalia Timberg, Milton Gonçalves e Antônio Fagundes. Tudo isso com o intuito de salvaguardar a memória dessa classe.  Esses esforços culminaram na valorização sem precedentes do teatro brasileiro.

O Prêmio Cesgranrio de Dança chegará à sua segunda edição num país onde há ainda pouca oferta de espetáculos de dança. Até que ponto a premiação pretende mudar esse quadro?

As premiações evidenciam a arte em questão. É importante que haja essa movimentação que os prêmios provocam  para que a sociedade atente a valorizar suas artes. Muitas pessoas usufruem, mas não valorizam. As premiações também dão notoriedade aos artistas e a seus projetos, o que é importante dentro da indústria criativa. Pensando assim, a Cesgranrio criou o Prêmio Cesgranrio de Dança, que acabou interrompido temporariamente pela pandemia. A dança é uma das expressões mais antigas da humanidade e não pode ser relegada à falta de estímulos. Surpreendemo-nos quando vimos que não havia um prêmio nessa área no Rio de Janeiro. Nossa intenção é a de reverter esse cenário e criar uma vitrine para os profissionais desse setor. Que sejam vistos e reconhecidos pelas mídias, pelo poder público e pela sociedade em geral.

O senhor atua em diferentes frentes ligadas à educação e à Cultura. O que mais podemos esperar do professor Serpa?

Estou prestes a completar 80 anos e trabalho hoje para a consolidação do legado que quero deixar à sociedade em torno da educação e da cultura. Tento despertar tantos quanto posso para a importância das artes dentro do processo de constituição de uma sociedade equilibrada. É uma tarefa complexa e sei que estou apenas semeando. O que posso prometer é que nunca pararei de semear. É esse o meu compromisso. O Centro Cultural Cesgranrio é hoje um dos mais atuantes no país e isso, por si só, me enche de satisfação. Porém, com a satisfação vem a cobrança por aprimoramento. As carências na área da cultura não nos permitem descansar e quem me conhece sabe: não ouso descansar!

Crédito da imagem: reprodução

 

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