Johnny Massaro completou 33 anos no fim de janeiro. Aquela famosa idade que, quando é citada, alguém sempre retruca: “A idade de Cristo”. E se Jesus deixou sua grande obra com pouco mais de três décadas de vida, o ator conta nesta entrevista ao NEW MAG que a crise dos 30 veio quando percebeu que havia conquistado o que queria, mas não planejara o restante do caminho, o que tenta fazer agora. Considerado um dos melhores atores de sua geração, ele é daqueles artistas que transitam do drama à comédia em veículos como cinema, teatro, streaming e TV. Atuando desde os 12 anos (na novela “Floribella”, da Band), não lhe falta trabalho. Aliás, Johnny atualmente está em cartaz com “Visitando o Sr. Green”, em São Paulo. No palco, que considera o lugar mágico e primordial do seu ofício, ele foi dirigido por Guilherme Piva e contracena com Elias Andreato no famoso texto de Jeff Baron. Com toda a sensibilidade, Johnny abre-se em relação a inseguranças, riscos e delícias de novos e recentes trabalhos. Como galã sensual, por exemplo, estrelou o recente clipe de Marina Sena, e revela sobre a sua relação com a imagem: “Isso acaba consumindo muito do meu tempo e da minha energia. Não é um lugar natural para mim”. Pois que não falte lugar na arte para Johnny.
Você está de volta ao teatro depois de alguns anos. Qual é a importância de também estar no palco para um ator que se consolidou na TV e no cinema?
Acho interessante a ideia de que me consolidei em alguma área. Me sinto ainda um aprendiz. Entendo que exista uma imagem que as pessoas constroem da gente, assim como também construo delas. Mas, internamente, são tantas as inseguranças. Vivemos um tempo em que vender a imagem de felicidade e perfeição parece valer mais do que qualquer outra coisa. Isso é exaustivo, para dizer o mínimo. Então, o palco, neste momento, é um respiro na loucura. Uma oportunidade de ser mais real, mais carne e osso, suor e lágrima. De estar ali, corpo presente, compartilhando o mesmo tempo e espaço com outros. Não falo apenas do Elias (Andreato, parceiro de cena), mas de cada um que sai de casa para nos assistir. É a mais pura verdade quando dizem que o teatro é onde o ofício da atuação acontece de fato. Porque, depois do terceiro sinal, não há mais nada além do que se desenrola entre os atores.
A peça foi encenada pelo grande Paulo Autran no ano 2000. Como é esta responsabilidade de revisitar este texto no Brasil, ainda mais ao lado do Elias, diretor daquela montagem?
Responsabilidade por ser uma remontagem, não. Mas por estar ao lado do Elias, um artista forjado nos palcos, sim. Nenhuma obra de arte existe por si só. Ela depende de alguém que, antes de materializá-la, a imaginou. E este caminho é longo. Por isso, há que se ter responsabilidade, afinal, ninguém pediu para aquilo existir. E, uma vez que exista, a obra interfere no mundo que nos forma, ao mesmo tempo que também o formata. Essa pergunta, eu sempre me faço: Por que colocar isso no mundo, por que dedicar meu corpo e o meu tempo à determinada obra?
Você é visto como um dos melhores atores de sua geração. Quais são as suas aspirações artísticas para os próximos 10, 20 ou 30 anos? Pretende buscar um posto de principal ator brasileiro?
Olha, é claro que existe um ego que fica martelando: “Seja o melhor, seja o melhor. Você está ficando para trás. Fulano está fazendo isso, e Sicrano aquilo”. Mas, sinceramente, tento silenciar essa voz assim que ela surge. Melhor para quê? Para quem? Hoje, entendo que preciso ser o melhor para mim, e que cada oportunidade encontra aquele a quem ela foi destinada. Se alguém faz determinado papel em determinado trabalho, essa é a única realidade que existe, certo? Não adianta me lamentar ou sofrer por algo que não depende de mim. O que depende de mim, sim, é fazer o melhor que posso com as oportunidades que chegam. Cada um tem seu caminho, e vejo tanta beleza nisso. Mas, é claro, quero ter cada vez mais espaço, discernimento e boa saúde para realizar meu trabalho, seja como ator, como diretor, no Brasil ou lá fora. Isso tudo vai acontecer, do jeito e no tempo que tiver que ser.
Acaba de completar 33 anos. Chegou a esta idade como gostaria ou imaginava? Viveu a crise dos 30?
Confesso que cheguei aos 30 exatamente com essa sensação de que acho que cheguei aonde eu queria chegar, uau! A crise veio quando percebi que, depois disso, eu não tinha planejado muita coisa. Agora, estou neste momento de entender o que quero, mas com menos ansiedade e mais generosidade comigo. Sinto que já compreendi algumas coisas e que posso ter calma para continuar me descobrindo, sem precisar provar tanto. A passagem do tempo é algo que realmente me fascina. Brinco dizendo que, talvez daqui a 30 anos, eu interprete o Sr. Green.
Você gravou um filme baseado em um livro do Valter Hugo Mãe, “O filho de mil homens”, que ainda será lançado. Qual a importância de levar grandes autores para o audiovisual?
Sou super fã do Valter. Quando li o primeiro livro dele, devorei mais três na sequência. “O filho de mil homens” foi um deles. Quando soube que o Dani Rezende (roteirista e diretor) ia adaptá-lo para o cinema, mandei uma mensagem: “Nesse set, sirvo até cafezinho”. De fato, no último dia de filmagem, servi cafezinho, sem açúcar, para ele. Sinto que a literatura e o cinema são linguagens irmãs, embora a primeira seja uma experiência muito mais individual do que a segunda, tanto na concepção quanto no consumo. Ainda assim, são irmãs. Lembro de um conselho de um diretor russo, cujo nome não me recordo, que dizia: “Se quer ser um bom diretor, leia bons livros”. Porque é isso, né? Cada leitor constrói as imagens e a fluência que o livro propõe, criando dentro de si uma espécie de filme particular.
Há algum livro que gostaria que fosse adaptado e desejaria trabalhar?
Com certeza, muitos! Nesse momento, o primeiro que me vem à cabeça é “Sergio Y. vai à América”, do Alexandre Vidal Porto. Bem, fica aí a dica…
Você e Fernanda Torres interpretaram mãe e filho na série “Filhos da pátria”. Como vê este momento tão incrível e emocionante para ela e para a cultura brasileira?
Já era absolutamente fascinado pelo trabalho da Fernanda. Esse fascínio se multiplicou ao infinito quando trabalhamos juntos. Lembro de uma entrevista dela no “Roda viva” em que disse: “Eu tento trabalhar em lugares onde não fique mal-humorada”. É exatamente isso, trabalhar com ela é muito prazeroso. Tenho muitos momentos preciosos guardados na memória, a maioria hilários, dessas duas temporadas. Dia desses trocamos mensagens. Além de parabenizá-la, claro, eu precisava contar que fui a um bloco de carnaval em sua homenagem. Na Tijuca (Zona Norte do Rio de Janeiro), aliás, onde ela foi criada e eu também.
É o momento de aproveitar esta visibilidade para defender a cultura e o cinema brasileiros?
Não trocaria ser brasileiro por nada neste mundo. Nossa cultura é deslumbrantemente rica, ainda que, saibamos, tenhamos nossas mazelas e fraturas. Sinto que este é um momento muito oportuno para nos lembrarmos disso. Especialmente após o último governo (do ex-presidente Jair Bolsonaro) e com a volta de Trump ao poder. Sinto falta de políticas públicas cada vez mais consistentes e, sobretudo, constantes. Porque matéria-prima, talento e demanda, isso temos para dar e vender, literalmente.
Assim como ela, você é um ator que ficou muito conhecido por trabalhos na comédia, mas também mergulha no drama. Como faz para o público e a classe lhe verem apto aos dois lados?
Preferir o conhecido ao desconhecido é uma estratégia de sobrevivência. Buscamos aquilo que parece mais seguro. Para que correr riscos, não é? No entanto, quando se trata do trabalho dos artistas, sinto que assumir riscos é fundamental para a qualidade da entrega e, consequentemente, para uma conexão mais genuína com o público. Se em determinados momentos caminho mais por um gênero do que por outro, isso acontece, primeiro, por uma característica da minha personalidade; segundo, porque alguém me dá essa oportunidade; e, terceiro, porque percebo que a vida é tão trágica quanto cômica, e vice-e-versa. Na verdade, gosto da ideia de ser um provocador de emoções. Se será um riso, uma lágrima, um silêncio ou uma conversa de botequim, aí já não depende só de mim…
Você estrelou o novo clipe de “Numa ilha”, de Marina Sena, que contou com cenas sensuais de vocês. Quais são os desafios para este tipo de trabalho?
Um dos maiores desafios é essa questão da imagem. Vira e mexe, me pego pensando que tenho que estar bonito. Preciso confessar, isso acaba consumindo muito do meu tempo e energia. É uma preocupação inglória e fadada à frustração, porque o tempo passa e há toda uma ideia que atrela beleza à juventude. No clipe da Marina, de quem sou realmente fã, essa era uma das minhas maiores preocupações. Eu sabia que, de certa forma, essa era minha função ali, ser sexy, bonito e gostoso. Esse não é um lugar natural para mim, embora o aceite. Mas, junto com tudo isso, vinha o pensamento de que admiro muito essa mulher. Eu assistiria a esse clipe de qualquer forma. Que loucura fazer parte disso e dessa trajetória.
Hoje com mais de 20 anos de carreira, acha que lida de maneira diferente com as notícias sobre celebridades, já que seu novo relacionamento virou pauta em alguns sites há pouco tempo?
Já passei por muitas fases em relação a como lido com a fama. Hoje, me sinto em um lugar imensamente mais confortável. Embora trabalhe com TV desde os 12, a fama não veio de supetão. Foi algo que cresceu aos poucos, junto comigo. Tive tempo para ir entendendo, desentendendo, entendendo de novo, até chegar ao ponto em que estou agora. Hoje, percebo que a fama não só faz parte, mas também pode ser revertida em prol do trabalho, que, no fim das contas, é o que verdadeiramente me interessa.
Créditos: Danilo Perelló (texto) e Gui Paganini (imagem)