‘Estamos sendo homenageados em vida’

janeiro 28, 2025

Mauro Mendonça e Rosamaria Murtinho têm seus nomes dados às salas de teatro e são aclamados no Rio de Janeiro

O ano era 1957, e Mauro Mendonça atuava em “Rua São Luís, 27/8º andar”, quando uma atriz do elenco precisou ser substituída por Rosamaria Murtinho. Ao se deparar com a nova colega, Mauro estremeceu. Raul Cortez (1932-2006) testemunhou esse momento e vaticinou: “Mauro vai se casar com essa moça”. Dois anos depois, Mauro e Rosinha sacramentavam uma união que dura 66 anos.

O episódio foi rememorado pela atriz Leona Cavali, a quem coube conduzir, na noite da última segunda-feira (27), numa homenagem merecida e justa  ao casal. Os nomes de Mauro Mendonça e Rosamaria Murtinho batizam agora as duas salas de espetáculo do Teatro Fashion Mall, no Rio de Janeiro, como antecipado aqui.

E a noite reservou uma viagem no tempo ao público presente e aos dois grandes atores, prestigiados por colegas como os veteranos Othon Bastos, Stênio Garcia e Edwin Luisi, convidados pelo casal de empresários e promoters Liège Monteiro e Luiz Fernando Coutinho.

Um nome presente – e que não poderia faltar – foi o de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni. Afinal, partiu dele duas guinadas na vida do casal: as contratações pelas TVs Excelsior, em São Paulo, e Globo.

– Rosamaria Murtinho e Mauro Mendonça foram minha primeira contratação na TV Excelsior. Eles construíram uma trajetória sólida no teatro brasileiro, assim como na TV e no cinema, e merecem essa homenagem – declarou Boni ao NEW MAG.

Todos ali tinham algo de afetuoso a falar do casal. Lucinha Lins e Claudio Tovar atuaram com Mauro na montagem de “Ópera do malandro”, de Chico Buarque, dirigida por Charles Möeller e Claudio Botelho. E coube à cantriz dividir com Mauro os vocais na tocante “Uma canção desnaturada”.

Se as emoções permearam os muitos amigos presentes, elas pautaram também as falas de três dos oradores da noite: Gilmar Araújo, gestor do teatro; Marcus Montenegro, empresário dos atores, e do diretor Mauro Mendonça Filho, um dos três filhos do casal.

O gestor lembrou o dia em que produzira um show naquele teatro e comentara que, “se tivesse nas mãos um equipamento como aquele, tocaria o terror na Cultura no bom sentido”. E, pasmo por realizar tal feito, corroborou seu raciocínio citando Caetano Veloso: “É engraçado a força que as coisas parecem ter quando elas precisam acontecer”.

Já Montenegro leu uma carta na qual passava a limpo a relação com os homenageados, iniciada em Petrópolis (RJ), onde a avó ensinou-lhe a valorizar o trabalho dos atores que viam nas novelas de então. O discurso foi encerrado com um libelo contra o etarismo na indústria do audiovisual:

– O público brasileiro ama os atores veteranos e sabe quem ele escolheu para amar.

A máxima foi corroborada por Mauro Mendonça Filho:

– Na penúltima novela que dirigi, tínhamos no elenco Fernanda Montenegro, Lima Duarte, Nathalia Timberg e, de uma geração seguinte, Marieta Severo e Ana Lúcia Torre. E a audiência crescia a cada aparição desses atores.

A noite contou ainda com show de Lilian Valeska, que elencou clássicos de Tom Jobim (1927-1994), Dolores Duran (1930-1959) e George e Ira Gershwin (1896-1983). Antes, porém,  os atores foram surpreendidos com um vídeo elencando momentos de ambas as carreiras, com mais de sete décadas cada.

– Vi coisas das quais nem me lembrava. De fato, fizemos muito e isso é gratificante. Estou aqui bobão – resumiu Mauro com bom humor.

Rosamria destacou um ponto crucial em se tratando de dois nomes da chamada geração de ouro do nosso teatro:

– Estamos recebendo essas homenagens em vida e isso é muito importante a um artista – destacou, demonstrando ter também fairplay: – Achei que ficaria besta com meu nome dado a um teatro, mas ficar besta não é do meu feitio.

E não é mesmo.

Texto: Christovam de Chevalier e crédito das imagens: Eny Miranda

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