Foi como Heloísa Teixeira que a professora e ensaísta Heloísa Buarque de Hollanda tomou posse na Academia Brasileira de Letras. O uso do sobrenome de família no lugar do que a tornou conhecida, tomado do seu ex-marido, é uma iniciativa com a qual a nova imortal homenageia a mãe. O novo nome estava inscrito no diploma, recebido por ela, na noite da última sexta-feira (28), em cerimônia no Peti Trianon, sede da instituição, no Centro do Rio de Janeiro.
A nova acadêmica passa a ocupar a cadeira de número 30, anteriormente ocupada por Nélida Piñon (1937-2022), a quem Heloísa dedicou boa parte de seu discurso. A escritora recebeu, como antecipado por NEW MAG, o colar e o diploma, respectivamente, das mãos de Rosiska Darcy de Oliveira e de Fernanda Montenegro, sendo saudada em seguida por Ana Maria Machado.
Heloísa iniciou seu discurso chamando atenção para o fato de, ao longo da História, o número de mulheres na Casa de Machado de Assis ser ainda pouco expressivo se comparado ao dos homens. Ela destacou cada uma das mulheres que a antecederam, numa lista iniciada por Rachel de Queiroz (1910-2003), a primeira mulher a ingressar na instituição, seguida por Dinah Silveira de Queiroz (1911-1982), culminando, mais recentemente, em Cleonice Berardineli (1916-2023) e na própria Rosiska, “a primeira feminista a ingressar na Casa”.
– Ler poesia é minha brecha para entrar no mundo (…). Uma leitura que me deixa sempre um gosto de quero mais – salientou, nominando João Cabral de Melo Neto (1920-1999) como o responsável pelo alumbramento que levou-a à poesia, através da qual descobriu e revelou poetas a partir dos anos 1970 e nas décadas seguintes.
A nova imortal lembrou da má aceitação da antologia “26 poetas hoje”, organizada por ela em 1976 e que revelou talentos como Chacal e Waly Salomão (1943-2003). Heloísa destacou o fato de que, na ocasião, aquela reunião ter sido tachada de má literatura:
– Fico honrada de reencontrar nesta casa alguns daqueles poetas marginais: Antonio Carlos Secchin, Geraldo Carneiro e, uma coletânea depois, Antonio Cícero. É um sinal de que, o que produziram é, de fato, literatura.
Ana Maria Machado fez, na sua fala, um apanhado das diferentes áreas nas quais a nova confrade atuou, destacando que cada uma delas não é suficiente para defini-la:
– Ela é, antes de tudo, uma estrela, ainda que não exatamente uma estrela midiática. É o que poderíamos chamar de uma constelação.
Sim, uma estrela que em breve estará na telona. A cerimônia foi registrada para um documentário que está sendo preparado sobre a escritora. Heloísa nasceu para brilhar e jogar luz sobre o novo, tenha ela o nome Teixeira ou Buarque de Hollanda.
Crédito das imagens: Richam Samir / ABL