Talentos sem cerimônia

abril 7, 2023

Beth Goulart vive Simone de Beauvoir em obra-prima de Mauro Rasi que volta aos palcos 35 anos após sua estreia

Era o ano de 1989 quando estreou, no Teatro Anchieta, em São Paulo, uma peça que entraria para a História do Teatro Brasileiro. Escrita pelo então jovem promissor Mauro Rasi (1949-2003), “A cerimônia do adeus” trazia, sob a direção do já brilhante Ulysses Cruz, um elenco de sete atores encabeçado simplesmente por Cleyde Yáconis (1923-2013) e Antonio Abujamra (1932-2015). A encenação foi merecidamente contemplada com o Prêmio Mambembi e permanece na memória daqueles que a assistiram.

Pois as novas gerações terão agora oportunidade de conhecer essa obra-prima do teatro brasileiro. “A cerimônia do adeus” volta a ser dirigida pelo mesmo Ulysses Cruz e retorna ao Anchieta 35 anos após sua estreia, numa realização do Sesc São Paulo. O novo elenco é também de tirar o fôlego e traz Beth Goulart e Eucir de Souza nos papéis de Simone de Beauvoir (1908-1986) e Jean-Paul Sartre (1905-1980), vividos originalmente por Cleyde e Abujamra, num elenco formado ainda por Malu Galli (uma das melhores atrizes de sua geração), Lucas Lentini, Olívia Araújo, Rafael de Bona e Fernando Moscardi. A estreia é neste sábado (08), no Teatro Anchieta, no Sesc Consolação, em São Paulo, numa parceria entre  FLO Arts, de Fioravante Almeida, Ulysses Cruz Arte e Entretenimento e LC Produções.

“A cerimônia do adeus” é o título do livro no qual Beauvoir narra os últimos momentos de Sartre, com quem foi casada e ao lado de quem revolucionou o pensamento e o comportamento humanos. No texto, o jovem Juliano, alter ego de Rasi interpretado agora por Lentini, dialoga imaginariamente com os dois autores existencialistas reavaliando a sociedade provinciana em que vive, suas relações familiares e a relação com a própria sexualidade num resultado bem-humorado e comovente.

– “A cerimônia do adeus” é considerada por muitos críticos a mais importante comédia de Mauro Rasi, porque, passados quase 35 anos de sua estreia, ela ainda soa original, moderna e necessária – salienta Cruz que chama atenção para uma das marcas do autor: – Este rito de passagem do jovem Juliano – alter ego de Rasi – para a idade da razão é um caleidoscópio de frases hilárias que ousadamente misturam erudito com popular, marca indelével do autor.

Por falar em caleidoscópio, os talentos reunidos na nova montagem extrapolam as limitações do palco. A ficha técnica traz ainda Leonardo Bertholini, dividindo-se entre a direção de movimento e a assistência de direção, e Nicolas Caratori na iluminação. Abujamra deixou seu DNA na nova montagem: a trilha sonora é assinada por André Abujamra, músico e compositor surgido nos anos 1990 no antológico duo Os Mulheres Negras.

A junção de tantos talentos atesta que a nova montagem tem tudo para conquistar as novas gerações e emocionar aqueles que assistiram à primeira encenação. A essa cerimônia ninguém pode faltar.

Crédito das imagens: Lenise Pinheiro

Beth e Ecir reavivam com Beauvoir e Sartre as memórias de Cleyde Yáconis e Antonio Abujamra
Lucas Lentini é Juliano, alter ego de Rasi que dialoga com os escritores existencialistas
Malu Galli, uma das melhores atrizes de sua geração, reforça o elenco

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