‘Walter é um excelente diretor de ator’

fevereiro 27, 2025

Charles Fricks fala do orgulho por atuar em ‘Ainda estou aqui’ e da resiliência em integrar uma companhia perseverante há mais de 30 anos

Em “Ainda estou aqui”, Charles Fricks interpreta Fernando Gasparian (1930-2006), intelectual e o criador da editora Paz e Terra, além de amigo próximo do casal Rubens e Eunice Paiva, interpretados por Selton Mello e Fernanda Torres. O ator assistiu recentemente ao longa, agora com algum distanciamento desde que o filme foi lançado, no fim de 2024,no Festival do Rio. E, na sala escura, Charles foi tomado por um sentimento de orgulho por fazer parte do projeto, indicado em três categorias ao Oscar, cuja cerimônia acontece neste domingo (02 de março).

– Assistindo agora, me veio uma sensação de orgulho dos meus colegas, de cada um deles que estão ali. O Walter (Salles) é, além de um grande cineasta, um excelente diretor de ator e isso fica  evidente na tela, na forma como cada ator lida com os silêncios, por menor que seja a sua participação no filme – elogia Charles que, no teste para o longa, interpretou um militar, como recorda a seguir: – No teste,eu era um militar que interrogava a filha adolescente da Eunice. Não havia texto pré-decorado e trabalhamos, por isso, mais as intenções do que as falas.

Nessa ida recente ao cinema, Charles assistiu  ao filme pela terceira vez. Pode ser pouco se comparado às vezes em que Selton e Fernanda assistiram, mas não em se tratando do ator, que engata um trabalho no outro nos últimos anos. As filmagens de “Ainda estou aqui” foram conciliadas, por exemplo, com as gravações de “Terra e paixão”, na qual ele interpretou Ademir La Selva, o irmão mais moço do personagem de Tony Ramos.

Findas as filmagens, as gravações da novela foram conciliados com os preparativos de “A palavra que resta”, espetáculo da Cia Atores de Laura, grupo no qual o ator ingressou há 32 anos. A montagem, que volta à Casa de Cultura Laura Alvim, no Rio de Janeiro, logo após o Carnaval, é uma adaptação do romance homônimo de Stênio Gardel. A encenação marca também o reencontro de Charles com a cantriz Valéria Barcelos, sua colega em “Terra e paixão”. Foi dele, aliás, a indicação para a artista integrar a companhia.

–  Quando decidimos que trabalharíamos no livro, veio a questão de termos uma atriz trans e, na hora, me veio o nome da Valéria. Indiquei ao Daniel (Hertz, diretor do espetáculo), que, após acompanhar a novela, disse que tínhamos a atriz. Tanto que a Valéria nem fez teste. Ela é muito divertida e talentosa pra car@l** – elogia o colega.

A agenda de Charles não é moleza, e ele credita essa mudança a dois trabalhos distintos e recentes no teatro: “As artimanhas de Scapino”, apresentado juntamente com a Atores de Laura, e ao solo “O filho eterno”, adaptado do livro homônimo de Cristóvão Tezza. Se os trabalhos tiveram linguagens e resultados distintos, um fato manteve-se incólume: a forma como o ator constrói os tipos que interpreta .

–  O que é a imagem afinal? É aquilo que outro vê e, claro, o que também quero mostrar. No teatro não me vejo, mas me sinto. E construo para cada papel um tipo físico diferente, que implica numa maneira diferente de andar e de me posicionar. É assim com o Raimundo e com o Cícero, personagens que interpreto na peça – exemplifica o ator, destacando ainda: –  Essa construção também se dá na TV e no cinema.

Charles tinha 20 anos quando deixou o Espírito Santo, seu estado natal, para fazer teatro no Rio de Janeiro. E, na virada de 1993 para 94, ingressou na Atores de Laura. A companhia precisava de um ator para a temporada de “Cartão de embarque” em São Paulo, e lá foi ele. A dedicação ao grupo implica ainda na gestão de um teatro: o Miguel Falabella, no Norte Shopping. Lidar com temperamentos tão diferentes há mais de três décadas exige escuta e empatia. Não à toa Charles compara a relação com um casamento por ambos envolverem um comportamento altruísta:

–  Uma companhia demanda muita dedicação e energia. Quando se têm 20 anos, há aquela vontade de realizar as coisas a qualquer custo. Quando se tem 50 anos, as coisas mudam (risos). Muitos ali têm família e filhos para sustentar, e a gente passa a ponderar e a se questionar mais. Nem tudo é um mar de rosas, mas a gente se ama acima de tudo – arremata o ator.

E isso fica evidente a cada vez que a companhia está em cartaz. E sempre que o ator está nas telas, tenham elas o tamanho que tiverem.

Créditos: Christovam de Chavalier (texto) e Guto Costa (imagem)

Cia Atores de Laura: resiliência e perseverança há mais de três décadas

 

 

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