Era o ano de 1975 quando Gilberto Gil lançou um LP que marcaria seus ouvintes para sempre. O álbum trazia pérolas como o samba “Pai e mãe”, a toada “Lamento sertanejo” e a reflexiva (como outras tantas do autor) “Retiros espirituais”. O disco em questão é “Refazenda”, que influenciaria gerações de artistas da música firmando-se como um dos mais emblemáticos discos da nossa música.
Gil lançaria, nos anos seguintes, projetos que trariam o prefixo Re nos títulos. São eles: “Refavela” (1977), “Refestança”, registro ao vivo do show feito com Rita Lee (1947-2023), e, por fim, “Realce”, em 1979. Essa fase na discografia do artista levou a jornalista e editora Chris Fuscaldo a realizar minuciosa pesquisa sobre a produção artística e a trajetória de Gil. E o resultado é “Refazenda: o interior floresce na abertura da fase “Re” de Gilberto Gil”, cuja versão impressa sai pela Sesc Edições, dentro da coleção Discos de Música Brasileira, e será lançada na próxima segunda-feira (22), na Livraria da Travessa de Botafogo, Zona Sul do Rio de Janeiro.
“Quando eu fiz o Refazenda, me dedicando aos aspectos da renovação, da reconstituição de um universo etc, aquilo tudo me inspirou nesse sentido de revisita a certos recantos do meu território”, esclarece Gil em um dos depoimentos à pesquisadora, destacando ainda: “Quando eu tive que pensar num movimento seguinte ao Refazenda, aí então esse sentido de revolvimento do terreno me veio à mente”.
E esse revolvimento foi, de fato, profícuo para o artista, com reflexos nos álbuns lançados no fim daquela década como nas décadas seguintes. Tanto que “Refazenda” não somente inaugura uma fase como é visto pela autora como um divisor de águas na discografia de Gil, como ela própria salienta:
– O antes e o depois do exílio e o feito do Refazenda, de ter sido o primeiro trabalho a de fato lhe dar autonomia, transformaram a vida de Gil.
E transformaram também a vida da própria jornalista, que já havia se debruçado sobre as discografias dos Mutantes e da Legião Urbana em projetos anteriores. Chris não poupa esforços e vai fundo nas coisas. Tanto que a pesquisa para o projeto é destacada pelo jornalista Lauro Lisboa Garcia, organizador da coleção, no prefácio da edição: “Chris Fuscaldo (…) amarrou agora seu arado aos torrões estelares do sítio de Gil, com reverência e relevância. Seu relato traz entrevistas com ele e ‘falas de outros tempos’ para recontar a história de um dos discos mais representativos da música brasileira dos anos 1970”.
E Chris acaba por ampliar os territórios dessa (re)fazenda numa obra que, contrariando os versos de “Meditação”, vai muito além do “que era de se esperar”.
Crédito da imagem: Niclas Weber