‘Redescoberta importantíssima’

março 22, 2025

Telas desaparecidas de Jorge Guinle Filho são encontradas nos EUA e serão exibidas pela primeira vez no Brasil

Ele nasceu em berço de ouro, numa das mais tradicionais (e respeitadas) famílias brasileiras. Poderia ter enveredado pelo ramo corporativo (seu tio-avô, Otávio, construiu o Copacabana Palace), mas a verve artística falou (bem) mais alto. E fez de Jorge Guinle Filho (1947-1987) não somente um dos principais nomes da chamada Geração 80 como uma referência entre os grandes da pintura brasileira.

Dez telas inéditas do artista foram encontradas nos Estados Unidos e serão reunidas pela primeira vez numa exposição no Brasil. A mostra “Infinito” será inaugurada na galeria Simões de Assis, em São Paulo, onde poderá ser visitada da próxima quinta (27) a 10 de maio.

As telas foram produzidas entre 1985 e 1986, durante estada do artista em Nova York, um ano antes de ele falecer em decorrência de complicações da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids), cuja epidemia grassou vidas entre as décadas de 1980 e 1990, no Brasil e no mundo.

As obras foram pintadas no Kaufman’s Studio que, tempos depois, foi transformado em estúdio de TV e cinema. As telas foram incorporadas pelo proprietário do espaço às suas casas na Flórida e em Los Angeles, Califórnia. A descoberta resulta de um tour de force que envolveu o galerista Waldir Simões, o fotógrafo Marco Rodrigues, viúvo do artista, e a curadora de arte Vanda Klabin, que assina texto com mais de dez páginas especialmente para a mostra.

– Estive por duas vezes nesse estúdios, no Queen’s, em Nova York e cheguei a achar que as telas tivessem sido usadas nos cenários do Muppet’s Show, uma das produções gravadas ali. Já estava quase desistindo quando a galeria localizou as obras nas casas do dono do estúdio – comenta Vanda Klabin.

A relação da galeria e da curadora com a obra de Guinle é antiga. O artista havia exposto, em 1986, dois de seus quadros, “Interior atávico” e “Minotauro”, na galeria Simões de Assis de Curitiba. Já Vanda e o poeta Ronaldo Brito foram os curadores das retrospectivas do artista nos museus de arte moderna de São Paulo, do Rio e no da Bahia.

E, como nada na vida é por acaso, as telas vêm à público num momento em que artistas que tiveram suas vidas ceifadas pela Aids têm seus legados revisitados e suas vocações corroboradas por curadores e estudiosos das artes visuais no país.

– Há esse movimento de se repensar os legados dos artistas que faleceram precocemente, como é o caso do Jorginho, Ele faleceu aos 40 anos e deixa um trabalho importante como Lacan e Leonilson, entre outros artistas norte-americanos vítimas das intempéries da epidemia. Trata-se de uma redescoberta cultural importantíssima, sobretudo à pintura. Uma revelação para o mundo – arremata a curadora.

E para os fãs de Jorge Guinle Filho, sobretudo.

Créditos: Christovam de Chevalier (texto) e Marco Rodrigues (imagem)

 

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