por Rodrigo Fonseca*
ASCONA, SUÍÇA – Fala-se muito de Cannes, Berlim e Veneza sempre que os maiores festivais de cinema do mundo são lembrados, mas há um quarto nome que vem se fazendo cada vez mais presente – e essencial – à qualquer tour pelo universo audiovisual: Locarno, cujo CEP fica na Suíça. Giona A. Nazzaro – atual diretor artístico do evento, iniciado em 1946, na fronteira com a Itália, a cerca de duas horas de Milão – repaginou essa grife estética da cena das grandes maratonas cinematográficas do mundo, a partir de sua entrada na curadoria, em 2021.
Desde então, uma festa de exibidores, distribuidores e poucos críticos passou a atrair Hollywood, flertando com Cate Blanchett, Brad Pitt, Matt Dillon, Jennifer Hudson, Ryan Reynolds e outras celebridades, ao mesmo tempo em que arrasta estrelas de toda a Europa. Este ano, Giona abriu as atividades na última quarta-feira (02), com “Dammi”, drama sobre imigração árabe para países do Velho Mundo, com a diva Isabelle Adjani e o ator e músico indicado ao Oscar Riz Ahmed. Mas o pacotão de atrações preparado pelo curador vai além do brilho de Madame Adjani.
– Minha ideia é fazer do recorte curatorial de uma mostra competitiva como a disputa pelo Leopardo de Ouro uma aventura, na qual o público não saiba o que vai ver e se surpreenda – disse Giona em entrevista à New Mag, deixando clara a proposta do festival: . – Não estamos aqui para fazer promoção de estreias de peso e, sim, para mostrar que títulos vão gerar discussões capazes de aquecer os motores do mercado e do pensamento cinematográfico.
A fim de alcançar esse objetivo, Giona preparou homenagens a medalhões da direção como o malaio radicado em taiwan Tsai Ming-liang (de “O Sabor da Melancia”). Ganham tributo também a produtora Marianne Slot, o ator sueco Stellan Skarsgård e o diretor Harmony Korine. Pôs Brasil na roda, na competição de curtas-metragens, ao escalar dois filmes de DNA verde e amarelo: “Du Bist So Wunderbar”, de Leandro Goddinho e Paulo Menezes (feito em coprodução com a Alemanha) e “Pássaro Memória”, de Leonardo Martinelli.
Ambos integram a competição Pardo di Domani. Martinelli saiu de lá premiado em 2021 pelo musical “Fantasma Neon” (um dos curtas mais laureados do país) e regressa este ano de volta ao mesmo filão. Ao lado deles, na seção Histoire(s) du Cinéma, vão estar em retrospectiva dois cults do catarinense Rogério Sganzerla (1946-2004), de quem Nazzaro é fã declarado: “Documentário” (1966) e “Abismu” (1977).
– Sganzerla foi um gigante que dirigiu um dos maiores filmes da História, que é ‘O Bandido da Luz Vermelha’, e seguiu realizando filmes importantes” – celebra Giona.
Até 12 de agosto, o júri de longas de Locarno, presidido pelo ator francês Lambert Wilson (de “Amores Parisienses”, vai se deliciar com trabalhos inéditos da portuguesa Leonor Teles (“Baan (Home)”), do filipino Lav Diaz (“Essential Truths Of The Lake”), e dois dínamos da irreverência: o romeno Radu Jude – o ganhador do Urso de Ouro de 2021, agora no páreo com “Do Not Expect Too Much Of The End Of The World” – e o francês Quentin Dupieux (concorrendo com “Yannick”). Vai ter EUA na disputa, com “Lousy Carter”, de Bob Byygton, uma comédia que promete ser abrasiva. Aliás, muitos dos filmes prometem humor.
Será entregue ainda um prêmio dedicado à formação de jovens cinéfilos ao documentarista Luc Jacquet. Dois longas de Cannes serão exibidos fora de concurso na Piazza Grande, espaço de integração pop do festival: o ganhador da Palma de Ouro, “Anatomie d’une Chute”, de Justine Triet, e “The Old Oak”, de Ken Loach.
*Enviado especial do NEW MAG a Locarno