Era 1975, e uma balada composta por Hyldon arrebataria corações naquele ano e (o que certamente ele não imaginava) nas décadas seguintes e até os dias de hoje. A canção arrasa-quarterão era “As dores do mundo”,uma das faixas de “Na rua, na chuva, na fazenda”, álbum que se tornaria um clássico por mostrar que,sim,era possível fazer um soul genuinamente brasileiro.
O que muita gente não imagina é que a inspiração para o hit vem da obra de um dos mais importantes pensadores da filosofia. O cara em questão é Arthur Schopenhauer (1788-1860). Foi a partir da leitura de “As dores do mundo”, do escritor alemão, que Hyldon teve a ideia para a canção, homônima à obra. E um fato, calcado na relação do escritor com a mãe, impactou em especial o compositor:
– Ela também era escritora, mas com 14 anos, ele já estava ganhando prêmios. E a mãe tinha muito ciúmes dele. Dizem que ela tentou matá-lo e acho que ele ficou traumatizado em relação à mulher, indo contra o amor romântico.
A declaração é uma das preciosidades de “As dores do mundo”. Dirigido por Emílio Domingos e Felipe David Rodrigues, o documentário coroa os 50 anos de lançamento do LP “Na rua,na chuva, na fazenda” e traz depoimentos de nomes como Sandra Sá, Seu Jorge, Liniker e Mano Brown, que enaltece o fato de o cancioneiro do autor ser genuíno e latente até hoje:
– É um Brasil que não tem mais. Hyldon cantava a paz, o amor. Era o auge do cara esperto da periferia, o cara que tinha bom gosto. Essas músicas continuam tão boas ou até mais do que antes.
O filme terá sua primeira exibição pública no domingo (15), no Cinesesc, em São Paulo, como parte da programação do In-Edit Brasil. A produção será exibida também na Cinemateca Brasileira, no dia 19, e, dois dias depois, no SPcine Olido, seguindo para outros festivais.
O tempo passa, e o compositor mantém-se fiel à música e a si mesmo, semdesistir daquilo que o motiva a criar e a perseverar na música: o amor.
– Sou um homem eternamente apaixonado – arremata.
E alguém duvidava disso?
Créditos: Christovam de Chevalier (texto) e João Müller Moura (imagens)
