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maio 20, 2024

Curiosidades do veto a "Calabar", peça de Chico Buarque e Ruy Guerra, são reveladas em livro sobre a relação da censura com o compositor

Novembro de 1973 ficou marcado nas vidas de Chico Buarque e Ruy Guerra. No dia 08 daquele mês estrearia, no Rio de Janeiro, o musical “Calabar – O elogio à traição”, que consumiu da dupla longos meses de trabalho por tratar de um fato histórico envolvendo Domingos Fernandes Calabar (1609-1635), o senhor de engenho que bandeou-se para o lado dos holandeses. No dia 1º de novembro daquele ano, a produção foi informada pelo Departamento de Polícia Federal que o ensaio geral não aconteceria. A autorização dependia do general Antonio Bandeira, então diretor do órgão, que, na ocasião, encontrava-se… de férias.

O episódio é detalhado pelo jornalista Marcio Pinheiro no livro “O que não tem censura nem nunca terá – Chico Buarque e a repressão artística durante a ditadura militar” (L&PM Edições), que chega às livrarias este mês. Na obra, o autor debruça-se sobre a produção artística de Chico entre os anos de 1966 e 1989, incluindo LPs, peças teatrais e projetos coletivos como o “Phono 73”, no qual Chico e Gilberto Gil tiveram seus microfones cortados durante a apresentação de “Cálice”, primeira parceria da dupla.

– O veto a “Calabar” não atingia apenas a peça como também o título – salienta Pinheiro, destacando outra das muitas medidas que prejudicaram o musical: – Num gesto absurdo de prepotência, o general ainda proibiu que a proibição fosse noticiada. Daí o silêncio dos jornais nos dias que antecederam a cancelada estreia.

De fato, Chico gravou o repertório composto com Ruy num LP que acabou intitulado como “Chico canta”, A capa fora impressa em branco por não poder reproduzir a arte na qual um muro trazia o nome de Calabar pintado.

“O que não tem censura nem nunca terá” levou um ano para ficar pronto, levando-se em conta o tempo dedicado às pesquisas e a escrita da obra propriamente dita. Durante a preparação, Marcio era figura manjada em bibliotecas e em arquivos públicos ou privados, onde teve acesso a materiais de TVs como Bandeirantes e da extinta Tupi:

– Li uma dezena de livros e mais de 700 páginas de entrevistas e matérias sobre o Chico e a censura. Esse material incluiu arquivos do Pasquim, JB, O Globo e do Estadão. Era uma época em que o Chico se manifestava muito e era muito procurado pelos veículos.

Crédito da imagem: Agência O Globo

 

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