‘Tenho vontade de fazer as mesmas loucuras’

julho 21, 2023

Susana Vieira volta aos palcos para festejar 81 anos e fala da dedicação à TV, pioneirismo, amadurecimento e das viradas no jogo da vida

Poucas atrizes brasileiras tocam tão profundamente o coração do público. Susana Vieira é uma delas. Ela é aquele tipo de artista que alavanca a audiência quando está na TV e lota teatros por onde passa. E isso se dá ao carisma que tem e à empatia estabelecida com o público ao longo de 60 anos de carreira, tendo dedicado grande parte desse tempo à TV. Foram 52 novelas e a atriz se deu conta do número, dia desses, em razão do livro que prepara. E boas histórias não faltarão. A atriz completa, em agosto, 81 anos e a celebração será no lugar onde nasceu para estar: o palco. Susana volta a apresentar no Rio de Janeiro o monólogo “Shirley Valentine”, de Willy Russell, com o qual aporta no Teatro Casa Grande, Zona Sul da cidade, no dia 29 de julho. Serão seis novas apresentações da peça, dirigida agora por Tadeu Aguiar a partir da adaptação de Miguel Falabella, com quem volta a trabalhar mais de 40 anos depois de “A partilha”. “Quando li, me apaixonei porque o Miguel aproximou essa personagem de todas nós”, revela Susana ao NEW MAG, nesta entrevista na qual faz um balanço da carreira, enaltece sua geração e fala das vezes em que virou o jogo da vida: “Sou uma mulher intensa”.

Você encara mais uma vez um monólogo, sendo que, desta vez, vive uma mulher madura que conversa com as paredes de casa para atenuar a solidão. O que te levou a querer interpretar Shirley Valentine?

Queria um texto do Miguel (Falabella), e ele pensou nessa peça e falou: “Vou fazer uma versão para você”.  Quando li, me apaixonei, porque o Miguel aproximou essa personagem de todas nós. Quando você vê, está brigando pela personagem, de tão emocionado. O Miguel tem esse dom, e eu sou da escola da mesma escola que ele. Então, me divirto o tempo todo, a plateia se diverte também. Há momentos mais delicados, que são um prato cheio para mim. Já viajei com a peça o Brasil todo e a levei a Portugal. É uma peça que, para onde eu for, ela se comunica com o público, ela toca as pessoas, com o humor do Miguel.

A personagem repensa a própria vida a partir de uma viagem à Grécia. Em algum momento precisou virar o jogo na sua vida? Quando isso se deu?

Sou uma mulher intensa, essa palavra me define. Então acho que viro o jogo o tempo todo, tudo que construí foi com o meu trabalho, com o meu esforço , nunca dependi de ninguém. Eu tenho essa força, que não sei de onde vem. Então eu viro o jogo o tempo todo.

Quando ainda não se falava em etarismo, você foi pioneira ao estrelar, em 2015, musical que tratava da chamada terceira idade. Muitos veteranos na TV verbalizam o desejo de terem mais oportunidades. Como você vê essa questão?

Vi essa palavra pela primeira vez outro dia, em uma entrevista de alguém. Eu não fico pensando muito nisso, não. Hoje, obviamente,  tenho mais dores que antigamente, mas eu quero viver, eu não reclamo de nada. Essa peça, por exemplo, não é fácil. Você levar a plateia contigo o tempo todo e eu tô lá, todos os dias, entro pra vencer e o que acontece é lindo, é gratificante. Obviamente, estamos em um país preconceituoso, quando alguém quer me xingar, logo me xingam de velha. Mas isso nas redes sociais. Ao vivo, nunca ninguém me fala isso. É uma pena que tenhamos essa mentalidade. Eu sou de uma geração absurda! Olha o Caetano como é maravilhoso e quantos outros! Então, acho que temos é que respeitar e mudar essa forma de pensar.

Na época, você declarou não se enquadrar em categoria nenhuma. A Susana de hoje está mais reservada? A maturidade mudou a forma como lida com o amor?

A maturidade não mudou nada em mim. É claro que temos mais vivência e experiência, mas ainda tenho vontade de fazer as mesmas loucuras. Fui fazer yoga outro dia pra ver se me acalmava um pouco (risos).

Você vem de um tempo em que a TV exigia uma dedicação sobre-humana dos atores, com 30 cenas sendo gravadas num mesmo dia. O trabalho na TV te levou a negligenciar a vida pessoal? Houve algum momento em que precisou fazer uma escolha de Sofia?

Isso me atormenta um pouco. Eu me deifiquei muito mais à minha carreira do que à minha vida, mas, ao mesmo tempo, fui a mãe que consegui ser. Às vezes, me arrependo sim. Queria ter ficado mais com meu filho, mais com a minha família, mas também, não teria feito tudo o que fiz. Sabe quantas novelas eu fiz? 52! Descobri outro dia, por conta do livro que vou lançar.

Você volta a trabalhar no teatro com Miguel Falabella, que assina a adaptação do texto e que, no fim dos anos 1980, te dirigiu na hoje histórica “A partilha”. O que houve de mais saboroso nesse reencontro?

Amo o Miguel, sou uma atriz da escola dele, tenho um pouco do humor, do jeito dele. Com o  Miguel é assim: numa hora você ri e, daqui a pouco, está chorando. “A Partilha” foi uma maravilha, nós fomos muito felizes e agora nesse reencontro com a Shirley. Ele dirigiu a primeira versão e, agora, a direção é do Tadeu Aguiar, mas em relação ao texto, ele sabia o que eu queria. Faço essa peça com um prazer, ele me deu de presente e o sabor só poderia ser esse, de alegria. Por onde passamos, a peça esgota , essa mistura funciona, é uma alegria! Saio elétrica do teatro.

Você celebra 60 anos de carreira. O que a Susana de hoje diria àquela atriz iniciante de seis décadas atrás?

Diria para ela ser feliz e dizer sim à vida, sim ao amor, à família. Ser feliz é fundamental hoje.

Crédito da imagem: Vinicius Mochizuki

 

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