Tapa em Milei

fevereiro 18, 2025

O premiado ator Marcelo Subiotto promove no Festival de Berlim filme pautado pelo mistério e em nada omisso

por Rodrigo Fonseca*

Durante o primeiro encontro que teve com NEW MAG, em 2023, nos corredores do Festival de San Sebastián, na Espanha, Marcelo Subiotto ainda não dimensionava o tamanho do fantasma Javier Milei sobre a cultura de seu país, a Argentina, e nem havia saído em campo para rodar “El mensaje”, que o levou à Berlinale Palast, nesta terça-feira (18). Ele trouxe da mostra de outrora a láurea de Melhor Ator, conquistada por seu hilário desempenho em “Puan” (2023). Agora, ele volta mais silencioso, menos engraçado, porém doce.

– Venho de um país muito grande e uma parte dele está nesse novo filme –  disse o ator de 58 anos ao site, no hotel Hyatt, centro nervoso da maratona cinéfila germânica: – A grande parte da Argentina está além das paisagens citadinas e o que vemos em “El mensaje” é uma família envolta em mistério.

Forte candidato ao Urso de Prata de Melhor Direção, “El mensaje” chegou ao Festival de Berlim como um tapa na cara de Milei (e sua presidência de tons conservadores, avessa a pautas identitárias) ao propor um novo arranjo familiar na estrutura narrativa meticulosa do cineasta Iván Fund. Ele dá a Subiotto um papel que desconstrói o machismo estrutural latino, e amplia o prestígio de seu intérprete, hoje considerado um novo Ricardo Darín.

– Na crise pela qual  passamos, a arte exerceu um papel luminoso de reflexão. Como ator, o que tento fazer nessa história é seguir a minha vocação e tentar me conhecer mais, da melhor forma possível – disse Subiotto, antes de cair no set de “El mensaje” – então envolvido com a série (da Netflix) “El eternauta”, que tem Darín como protagonista.

No roteiro filmado em preto e branco por Fund, uma criança em fase de dentes de leite revela a capacidade de se comunicar com bichos, inclusive aqueles que estão na fronteira entre a vida e a morte. Um dos tutores da menina, Roger (papel de Subiotto) cuida dela como um tesouro, por razões sentimentais e profissionais. Roger agencia as consultas que a guria dá para quem anseia por contato com finados animaizinhos.

– Muito do que se vê no filme retrata diferentes províncias – diz Subiotto, que completa: – O silêncio de meu personagem é parte desse clima misterioso. 

A Berlinale termina no domingo (23), mas anuncia seus prêmios neste sábado (22), com base nas deliberações do júri presidido pelo diretor americano Todd Haynes. O favoritismo na corrida ao Urso de Ouro está com o Brasil, graças ao trabalho requintado do realizador pernambucano Gabriel Mascaro na aventura fluvial “O último azul”. A atriz Denise Weinberg arrebatou plateias no papel de uma septuagenária que foge rio adentro, na Amazônia, a fim de evitar sua detenção em um centro para idosos do governo. 

*enviado especial ao Festival de Berlim

Crédito da imagem: Rodrigo Fonseca

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