‘Sou muito grato ao Aguinaldo’

janeiro 24, 2025

Marcelo Serrado celebra a parceria com Heloísa Perissé no teatro, fala da volta à TV, encara com serenidade a passagem do tempo e reconhece a importância de Crô na sua trajetória

Um ator capaz de transitar pelos mais diferentes gêneros dramáticos e estilos de interpretação. A afirmação vem bem a calhar quando se trata de  Marcelo Serrado. E, assim, ele se mostra desde sua primeira aparição num folhetim de TV, “Corpo santo”,exibida pela hoje extinta TV Manchete. Ao longo de mais de quatro décadas de carreira, ele sempre fugiu do bom-mocismo e, conscientemente, arriscou-se, saindo vitorioso das investidas pelas quais passou. E, assim, ele segue. No teatro, brilha ao lado de Heloísa Perissé – sua amiga há tempos e com quem só trabalha agora – em “O avesso do avesso”. A comédia vem lotando o Teatro dos 4, no Rio de Janeiro. O ator poderá ser visto também na TV. Ele integra o elenco de “Beleza fatal”, primeira novela de Rapahel Montes (autor da aclamada “Bom dia, Verônica”), que será exibida, a partir de segunda (27), pela HBO Max. “O jogo cênico é como uma partida de frescobol”, defende ele, por telefone, nesta entrevista ao NEW MAG. Ou como uma “montanha-russa”, como se refere à parceria com Lolô, como Heloísa é chamada pelos amigos. O ator fala ainda da virada de chave dada com Crô, na novela “Fina estampa”, credita a José Celso Martinez Corrêa (1937-2023) parte importante de sua formação, lembra com carinho da mãe, a arquiteta Julinha Serrado (1949-2023), e diz estar de boa com a passagem do tempo.

Em março de 2024, Heloísa Perissé disse em entrevista ao site que gostaria de trabalhar contigo. Como está sendo essa experiência?

Nada com a Lolô fica numa coisa só.  Trabalhar com ela é como passear numa montanha russa. A gente sente aquele frio na barriga na subida e pensa “Meu Deus” porque sabe que o que virá será emocionante. E acaba sendo. Uma montanha-russa é algo perigoso e bom. Somos amigos há muitos anos e, trabalhando juntos, vejo que a gente combina muito. Os amigos brincam que sou ela de calças e que ela sou eu de saias. Um pouco por isso o título da peça: “O avesso do avesso”. Ela é a parceira ideal para darmos vida àqueles casais loucos…

E totalmente reais…

Sim! Porque os temas tratados são muito atuais.

O esquecimento provocado pelas facilidades tecnológicas…

Ghosting e gaslighting nas relações, entre outros. O espetáculo tem isso de muito interessante. Não é aquele tipo de comédia que te leva a ficar rindo o tempo todo.  A proposta é a de fazer rir e também a de levar à reflexão sobre aquilo tudo.

A tua capacidade de trabalhar as nuances dos personagens é algo que chama a atenção. Isso vem de algum método ou de algum diretor com quem trabalhou?

Isso vem muito do Zé Celso (Martinez Corrêa). Passei um tempo trabalhando com ele no Oficina, no início da carreira. Ele foi primordial na busca disso que chamo de inteligência cênica. Ele tinha essa capacidade de levar o ator por caminhos diferentes até porque a vida é feita de diferentes nuances. O ser humano tem diferentes camadas. Somos todos seres plurais.

Falando nisso, o Crô tinha uma certa petulância e caiu nas graças do público, chegando inclusive ao cinema. Em que momento percebeu que tinha feito um golaço?

Quando vi uma mudança no comportamento da equipe técnica. Os câmeras riam das cenas, o pessoal da limpeza parava o que estava fazendo para assistir à gravação e tudo isso serviu como termômetro para o que buscava. O personagem acabou homenageado por uma escola de samba e uma emoção muito grande foi a de ver 200 ritmistas vestidos como ele. E, claro, o mérito é também do Aguinaldo (Silva, autor da novela). Sem ele nada disso teria sido possível. Sou muito grato ao Aguinaldo.

Você viveu no teatro dois compositores-símbolos da nossa brasilidade: Noel Rosa e Tom Jobim. Que outro nome da vida cultural brasileira te fascina ou inspira?

Vou viver o Betinho (o sociólogo Herbert de Souza) num musical. É um personagem que vai me levar a outro lugar e isso é bem bacana. Ele foi um sociólogo extremamente atuante cuja relação com o país vai para  além do Natal Sem Fome. O Betinho teve um papel fundamental no processo de redemocratização do país. Ele foi uma figura muito importante para o Brasil.

Na tua tabelinha com o Fernando Caruso no Frankenstein era possível perceber ecos de O Mistério de Irma Vap. O que um colega precisa ter para te cativar?

Precisa ter duas coisas: inteligência cênica e generosidade. Falo no sentido de querer ver o outro brilhar e não somente você. O jogo cênico é como uma partida de frescobol: os dois estão lá, olho no olho, passando a bola um para o outro e ela não pode cair no chão.

E, falando em Irma Vap, quais suas principais influências no teatro?

O próprio Ney (Latorraca). Trabalhamos juntos na TV e isso nos aproximou a ponto de tornamo-nos amigos. A Marília Pêra também. Ela era outra gigante.

Sua mãe foi sinônimo de elegância e retidão. O que da Julinha você guarda contigo?

A vertente amorosa. O amor que ela demonstrava era comovente. . Ela sempre torceu muito por mim. O amor dela era muito grande assim como o meu por ela.

Qual autor ou qual personagem gostaria de levar para o palco e que ainda não foi possível?

Gostaria muito de voltar a fazer um Nelson (Rodrigues) no teatro. Outro autor que me encanta muito é o Harold Pinter.

A Maria Padilha disse ao site que mais importante do que bons papéis são as parcerias estabelecidas….

Fecho com a Maria. Quero aproveita muito dessa parceria com a Lolô. O público nos abraçou. Abrimos sessão extra aos sábados e todas estão lotadas.

E como estão as expectativas pelo lançamento da nova novela, “Beleza fatal”?

São as melhores possíveis. Esse trabalho é diferente de tudo o que já fiz na TV. O Raphael (Montes, autor do texto) vem da Literatura policial e tem toda uma sofisticação.Ele é um cara nota 10 e vai virar uma chave muito interessante com esse novo trabalho.

Você encara de boa a proximidade dos 60 anos?

Minha relação com o tempo é de serenidade. Até porque não hã o que fazer. Se você chegou neste lugar, então o jeito é viver da melhor forma possível.

Crédito da imagem: divulgação

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