por Rodrigo Fonseca*
Assegurado já para o Festival do Rio 2023, que começa no próximo dia 05, a comédia “Puan”, egressa da Argentina (mas feita em parceria com o Brasil), parece ter mudado o placar de San Sebastián em prol de nossos Hermanos, a julgar por previsões e apostas da imprensa no norte da Espanha, onde o filme virou um ímã de elogios. Os principais comentários sobre o divertido longa-metragem de María Alché e Benjamín Naishtat envolvem o desempenho do ator Marcelo Subiotto, que pode dar a ele o prêmio de interpretação da maratona cinéfila espanhola.
Seus dois realizadores já foram premiados na cidade antes, em 2018. María foi laureada com o troféu Horizontes Latinos por “Família Submersa”, e Naishtat conquistou a láurea de Melhor Direção por “Vemelho Sol”. Estima-se que agora, filmando juntos, eles não saíram da Península Ibérica de mãos vazios.
Subiotto pode ajuda-los nessa. Sua atuação é impecável. Ele encarna Marcelo Pena, professor de Filosofia especializado na obra de Thomas Hobbes (1588-1679) e de Martin Heidegger (1889-1976) que tem a chance de assumir o posto deixado por seu antigo mestre. Sua vida afetiva anda confusa, mas suas ideias são brilhantes.
Porém, o retorno de um vaidoso colega de seu passado, Sujarchuck (Leonardo Sbaraglia, que dispara como favorito ao prêmio de coadjuvante), tira seus planos e sua paz do eixo. Na entrevista a seguir, Subiotto, que é conhecido no Brasil por filmes como “O crítico” (2013) e “Animal” (2018), fala sobre a construção de sua carreira.
Mais do que fazer rir com a disputa intelectual de seus personagens, “Puan” faz um painel da educação pública na América Latina, discutindo o descaso do governo com as universidades. Como avalia a posição que o filme toma em relação ao ensino universitário?
Não sinto que esse é o tema central do filme, mas ele se insere nesse contexto. Cursei toda a minha formação em ensino público. Só consegui o que tenho graças ao direito que tive de estudar. Mas a educação na Argentina passa por crises porque somos um país em crise.
É raro se encontrar uma comédia em destaque num festival de cinema, em competição, mas “Puan” defende o gênero com excelência. Qual é o desafio de se fazer humor em meio a todo o patrulhamento da correção política?
Há um DNA cômico forte no filme, ainda que o protagonista esteja diante de um processo de luto. Não é apenas a morte de seu colega mais velho, e mestre, que o abala, mas a percepção de que sua juventude passou, de que seu trabalho está em risco. Mas ele passa por uma série de situações engraçadas, sem necessariamente ter que fazer piada.
A partir do início dos anos 2000, cineastas como Lucrecia Martel, Pablo Trapero, Daniel Burman, Juan José Canpanella e mais uma leva de talentos iniciaram uma espécie de Nueva Onda Latina a partir da Argentina. Essa onda prossegue forte?
Sim, ela continua e já abraça novas gerações de cineastas. Temos uma tradição forte de filmes de autor. Na crise por que nós passamos, a arte exerceu um papel luminoso de reflexão. Como ator, o que tento fazer nessa história é seguir a minha vocação e tentar me conhecer mais, da melhor forma possível.
Quais são seus novos passos nas telas?
Estou fazendo a série “El Eternauta” (adaptação da mais famosa HQ da Argentina) e aferi a peça “Encuentros breves com hombres repulsivos”, de Daniel Veronese, nos palcos.
*enviado especial ao Festival de San Sebastián