Paranaense radicado em Portugal, Fernando Mariano construiu uma carreira multifacetada que une teatro musical, audiovisual e publicidade. Aos 10 anos, já atuava nos palcos; mais tarde, passou pelo teatro musical em montagens como “Rent”, “West Side Story” e “A Chorus Line” — esta última ao lado de Antonio Banderas —, e se tornou diretor criativo de campanhas para franquias globais como “Star Trek” e “Missão impossível”. Agora, ele brilha na série “Caso Jean Charles: um brasileiro morto por engano”, lançada recentemente pela Disney Plus, interpretando um dos amigos do brasileiro Jean Charles de Menezes, morto por engano pela polícia britânica em 2005.
O ator fala da alegria — e da angústia — ao ser escolhido para viver na série, que tem direção de Paul Andrew Williams.
— Inicialmente, fiz teste para o papel de Gesio, mas acabaram me chamando para um perfil físico mais próximo ao meu — recorda o ator, que completa — Demoraram um pouco a me dar uma posição, cheguei até a pensar que tinham escolhido outro ator para o meu papel. Até que recebi a ligação e chorei de alegria. Me atravessou, era urgente contar essa história com verdade.
Fernando conta que mergulhou em um trabalho intenso de pesquisa para o papel. Ele conheceu a família de Jean Charles — interpretado na série por Edison Alcaide —, e descreve essa aproximação como essencial para o processo:
— Foi uma conversa profunda, difícil, mas essencial. Todos nós do elenco seremos eternamente gratos por essa abertura. No dia da estreia, recebemos uma mensagem emocionante da família, agradecendo por darmos corpo a uma verdade que precisava ser contada com pureza. Foi o maior presente que poderíamos receber. Um sentimento de missão cumprida.
Nesta nova adaptação para o audiovisual da história de Jean Charles — que já havia sido levada ao cinema com Selton Mello no papel principal —, Fernando dá vida a uma síntese de personagens reais próximos ao protagonista.
— A série faz uma abordagem diferente. Comecei esmiuçando o roteiro, que era rico em detalhes. Passei dois meses em um trabalho intenso de pesquisa e preparação. No processo, me inspirei muito no Alex, primo do Jean. Eles emigraram juntos, viveram em São Paulo antes de seguirem para Londres, e essa cumplicidade era fundamental para mim.
Além de seu trabalho como ator e diretor, Fernando carrega em sua trajetória um lado importante: é ativista dos direitos LGBTQIA+. Filho de pastores, ele enfrentou terapia de conversão ainda adolescente e rompeu com a igreja.
— Foi muito duro. Aos 15 anos, não suportava mais a dor de não me aceitar. Saí de casa, deixei a igreja, e fui viver a minha vida. Meus pais, com quem fiquei anos sem contato, acabaram voltando para a minha vida. E abandonaram a igreja. Porque entenderam que religião deveria ser sobre amor e não sobre ódio. Amar não é pecado. Amar é humano.
Em breve, Fernando poderá ser visto no curta “Love lost“, dirigido pelo espanhol Pablo Saura, que lhe rendeu o prêmio de melhor ator no Festival de Greenwich, em Londres. Ele também atua no longa “Zeta”, filmado no Rio de Janeiro, com estreia prevista para o próximo ano na Amazon Prime Video. O ator ainda revela que sonha em atuar falando sua língua materna.
— Tenho muita vontade de atuar mais em português. Quando atuamos no nosso próprio idioma, acessamos nuances que se perdem em outras línguas. Cresci e estudei teatro em Portugal, onde sofri pressão para abandonar meu sotaque brasileiro. Era muito jovem, tinha 14 anos. Mudar meu sotaque significou, em muitos aspectos, perder parte da minha identidade — finaliza.
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