De quando em quando, os bons ventos sopram e trazem à cena musical um grande talento da composição. E isso se dá com Bernardo Lobo. Talento surgido na virada entre o velho e o novo milênio, o artista celebra seus 50 anos com “Bons ventos” (Biscoito Fino), lançado no ano passado e que o traz de Portugal, onde mora há oito anos, para o show de lançamento do álbum, nesta quinta-feira (22), no Manouche, no Jardim Botânico, em noite que terá a participação de Maria Luiza Jobim.
Bena, como é chamado pelos amigos, cresceu ouvindo (e vendo) o que havia de melhor na cena musical. Neto do compositor e jornalista Fernando Lobo (1915-1996) e filho de um nome de primeira grandeza na música, Edu Lobo, com Wanda Sá, uma das cantoras-sínteses da bossa nova, Bernardo poderia ter se intimidado diante de tamanho background,. Desde sua estreia fonográfica, trilha um caminho próprio, cujo aprimoramento é evidenciado por “Bons ventos”, no qual sofisticação e simplicidade unem-se de forma sublime.
– Desde o início da minha carreira, busco essa equação entre a sofisticação e a simplicidade, dentro de uma brasilidade, além de uma verdade na minha música. E acho que esse disco traduz isso de uma forma bem precisa – reconhece ele em conversa com NEW MAG.
Bernardo teve o privilégio de provar da tal geleia geral brasileira e fez, a partir disso, uma receita personalíssima. Os ventos ecoam também as cirandas da Pernambuco de seu avô, caso da faixa que abre o álbum, “Do Rio de Janeiro”, e reverberam a batida do samba buarqueano em “Arrebentação”, parceria com Moyséis Marques.
Essa mistura de ritmos e estilos sempre esteve presente no trabalho (e na vida) do compositor, que chama atenção para a coerência que pautou suas incursões por tão diferentes estilos:
– Meu trabalho sempre teve essa característica também: a mistura de ritmos, uma liberdade para a criação, pautada sempre pela busca de uma coerência e de uma unidade, mesmo dentro dessas misturas.
Além da coerência outro nome foi crucial para a unidade encontrada: o compositor Marcelo Camelo. Morando também em Lisboa, Camelo assina a produção do álbum, gravado, inclusive, no estúdio montado por ele em casa.
– Ficamos um mês no estúdio, só nós dois, criando e gravando e, no mês seguinte, entraram os músicos e o coro – rememora Bena destacando a importância do olhar (e dos ouvidos) do amigo e produtor: – A escolha do Marcelo foi fundamental para o resultado final, pois ele captou a essência da minha música.
Essência a partir da qual ele abre um leque de possibilidades poéticas, transitando entre parceiros de gerações e, no caso deste álbum, com dois grandes poetas da canção: Nelson Motta, com quem fez uma deliciosa “D.R”, e Tiago Torres da Silva, letrista de três das oito faixas do projeto.
– Tenho parceiros da geração do meu pai, como: Paulo Cesar Pinheiro, Milton Nascimento e Ivan Lins, como tenho da minha. Isso também enriquece a minha música e me estimula – arremata ele.
Bernardo é um Lobo que não tem – e nunca teve – nada de bobo. Apurem os ouvidos aos bons ventos (bravos) trazidos por ele.