Skarsgärd, um sueco que já é de casa

agosto 6, 2023

O ator Stellan Skarsgärd, homenageado no Festival de Locarno, falou com Rodrigo Fonseca, nosso correspondente

Onipresente no cinemão hollywoodiano, repleto de blockbusters como “Duna”, “Thor” e “Piratas do Caribe” no currículo, o sueco Stellan Skarsgärd viu o que a História da América do Sul teve de mais violento, sob o jugo colonial dos séculos XVI e XVII, ao filmar no Rio o épico “Vermelho Brasil”. O papel do conquistador Nicolas Durand de Villegagnon (1510-1571), que ele construiu durante uma série de filmagens no Rio de Janeiro, para o misto de série e telefilme de Sylvain Archambault, é um dos pontos altos de sua carreira. Essa sua trajetória de 51 anos de devoção ao cinema está sendo celebrada com uma série de eventos no Festival de Locarno, na Suíça, que confia a ele o troféu honorário Leopard Club pelo conjunto de seus feitos.

–  A colonização repleta de violências que marcou o Descobrimento do Brasil e sua constante invasão por europeus sedentos de riquezas naturais tinha de ser retratada com alerta, com muito cuidado, de modo a nunca glorificar seus conquistadores, dando um tom crítico a figuras como Villegagnon –  disse

Skarsgärd ao NEW MAG, em entrevista na Berlinale. –  Vivemos hoje tempos em que um artista pode ser cancelado por aquilo que ele pensa, pelo que está em sua cabeça. Mas não é isso o que nos imputa responsabilidade. Nós sempre devemos ser responsáveis pelas imagens que criamos.

Laureado com o Globo de Ouro de Melhor Ator Coadjuvante pela minissérie “Chernobyl”, da HBO, em 2020, Skarsgärd traz consigo um filme inédito para as telas de Locarno: o thriller “What remains”, de Ran Huang, sobre a investigação de uma série de crimes. O festival suíço revê ainda um dos maiores sucessos do astro: o drama “Gênio Indomável” (1997), de Gus Van Sant. São dois momentos distintos de sua travessia pelo audiovisual, porém ambos são marcados pelo cuidado que ele tem em ser econômico, nos gestos e nos verbos.

–  Em geral, diretores acreditam que palavras dão conta de tudo no cinema, supondo que é preciso explicar tudo o que vemos. No entanto,  sempre preferi deixar que meus olhos e meu corpo falassem por mim, expressando o que sinto e o que sei –  explica Skarsgärd, ator assinatura do diretor dinamarquês Lars von Trier, com quem trabalhou em cults como “Ondas do destino” (1996), “Dançando no escuro” (ganhador da Palma de Ouro de 2000) e “Dogville” (2003).  –  Busco sempre apostar em roteiros com diálogos bons o suficiente para que eu possa expor as fragilidades dos meus personagem pelas entrelinhas das falas.

Atualmente, Skarsgärd pode ser visto no streaming na série “Andor”, da Disney +. –  Sempre aposto na quietude –  diz o ator no festival, que segue até o dia 12 de agosto, quando o juri presidido pelo ator francês Lambert Wilson anunca o ganhador do Leopardo de Ouro.

* Enviado especial de NEW MAG a Locarno

 

Skarsgärd e Robim Williams numa cena de “Gênio indomável”, grande sucesso de bilheteria

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