‘Ser brasileiro era a questão’

julho 6, 2023

Itala Nandi fala do legado de Zé Celso Martinez Corrêa, que a dirigiu na histórica 'O Rei da Vela", nos anos 1960

 

Itala, Zé Celso e Renato Borghi em foto recente nas dependências do Oficina, em São Paulo

No dia 29 de setembro de 1967 estreou uma montagem teatral que provocaria uma série de outras revoluções na vida Cultural brasileira. A peça em questão era “O Rei da Vela”, de Oswald de Andrade (1890-1954), encenada pelo Teatro Oficina sob direção de José Celso Martinez Corrêa. A montagem, que valorizava diferentes aspectos da nossa Cultura, instauraria mudanças no nosso teatro e nas artes plásticas, fomentaria o Cinema Novo e inspiraria a Tropicália, movimento que mudou nossa música.

O Rei da Vela trazia Renato Borghi no papel-título e Itala Nandi como Heloísa de Lesbos. O processo de preparação do espetáculo também surpreenderia o elenco e a equipe envolvidos. Acostumados a ensaiar durante três, quatro meses, o grupo levantou a montagem em 30 dias. Itala conversou com NEW MAG na manhã desta quinta-feira (06), pouco depois de saber da partida de Zé Celso aos 86 anos. O diretor estava hospitalizado em São Paulo e não resistiu aos ferimentos provocados por um incêndio no apartamento onde vivia.

– Durante a preparação de “O Rei da Vela” o que mais nos surpreendeu foi a rapidez com que a peça foi montada. O teatro brasileiro trabalhava, na grande maioria das vezes, com uma dramaturgia importada da Europa ou dos EUA, e a montagem rompeu com isso – relembra Itala, por telefone, chamando atenção para a gana de Zé Celso: – A força pessoal dele foi fundamental para a realização daquele projeto. Ensaiávamos durante três, quatro meses, e a peça ficou pronta em 30 dias. Ela acabou entrando com muita força nas nossas vidas e nas de outros artistas, mudando o pensamento do pessoal do Cinema e da Música.

Oswald de Andrade, como representante do primeiro movimento do Modernismo no país, valorizava nossa cultura originária, instaurando o conceito da antropofagia, que, resgatado pelo diretor, norteou montagens do Oficina a partir do fim dos anos 1960. Para Itala um dos principais ensinamentos que ficarão de Zé Celso é o de olharmos para as bases da nossa Cultura sem que nunca deixemos de valorizá-la.

– O principal ensinamento do Zé que fica é o de valorizarmos o fato de sermos brasileiros e acreditarmos na nossa Cultura. A nossa Cultura é indígena e Negra e isso não pode ser esquecido – salienta ela, chamando atenção para outro ensinamento do mestre: – O Zé chamava muito nossa atenção para não sermos teleguiados por coisas de fora, destacando o fato de sermos sempre antropofágicos. Era o lema do Oswaldo (como refere-se a Oswald) no (poema) “Tupi or not Tupi”. Ser brasileiro era a questão.

Uma característica que o encenador trazia era o de ouvir as pessoas, sem distinção de classe social, como destaca a atriz:

– O Zé nos ensinou a não ter vergonha de sermos brasileiros. Nossa origem é brilhante, e ele sabia bem disso. Ele entendia de ser gente como ninguém.

Crédito das imagens: Acervo pessoal

Encontro histórico: Zé Celso, Tonia Carrero, Itala Nandi e Marília Pêra

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