No dia 29 de setembro de 1967 estreou uma montagem teatral que provocaria uma série de outras revoluções na vida Cultural brasileira. A peça em questão era “O Rei da Vela”, de Oswald de Andrade (1890-1954), encenada pelo Teatro Oficina sob direção de José Celso Martinez Corrêa. A montagem, que valorizava diferentes aspectos da nossa Cultura, instauraria mudanças no nosso teatro e nas artes plásticas, fomentaria o Cinema Novo e inspiraria a Tropicália, movimento que mudou nossa música.
O Rei da Vela trazia Renato Borghi no papel-título e Itala Nandi como Heloísa de Lesbos. O processo de preparação do espetáculo também surpreenderia o elenco e a equipe envolvidos. Acostumados a ensaiar durante três, quatro meses, o grupo levantou a montagem em 30 dias. Itala conversou com NEW MAG na manhã desta quinta-feira (06), pouco depois de saber da partida de Zé Celso aos 86 anos. O diretor estava hospitalizado em São Paulo e não resistiu aos ferimentos provocados por um incêndio no apartamento onde vivia.
– Durante a preparação de “O Rei da Vela” o que mais nos surpreendeu foi a rapidez com que a peça foi montada. O teatro brasileiro trabalhava, na grande maioria das vezes, com uma dramaturgia importada da Europa ou dos EUA, e a montagem rompeu com isso – relembra Itala, por telefone, chamando atenção para a gana de Zé Celso: – A força pessoal dele foi fundamental para a realização daquele projeto. Ensaiávamos durante três, quatro meses, e a peça ficou pronta em 30 dias. Ela acabou entrando com muita força nas nossas vidas e nas de outros artistas, mudando o pensamento do pessoal do Cinema e da Música.
Oswald de Andrade, como representante do primeiro movimento do Modernismo no país, valorizava nossa cultura originária, instaurando o conceito da antropofagia, que, resgatado pelo diretor, norteou montagens do Oficina a partir do fim dos anos 1960. Para Itala um dos principais ensinamentos que ficarão de Zé Celso é o de olharmos para as bases da nossa Cultura sem que nunca deixemos de valorizá-la.
– O principal ensinamento do Zé que fica é o de valorizarmos o fato de sermos brasileiros e acreditarmos na nossa Cultura. A nossa Cultura é indígena e Negra e isso não pode ser esquecido – salienta ela, chamando atenção para outro ensinamento do mestre: – O Zé chamava muito nossa atenção para não sermos teleguiados por coisas de fora, destacando o fato de sermos sempre antropofágicos. Era o lema do Oswaldo (como refere-se a Oswald) no (poema) “Tupi or not Tupi”. Ser brasileiro era a questão.
Uma característica que o encenador trazia era o de ouvir as pessoas, sem distinção de classe social, como destaca a atriz:
– O Zé nos ensinou a não ter vergonha de sermos brasileiros. Nossa origem é brilhante, e ele sabia bem disso. Ele entendia de ser gente como ninguém.
Crédito das imagens: Acervo pessoal