Não por acaso o show com que Monica Salmaso viaja o país há um ano chama-se “Minha casa”. Após primorosos encontros em lives durante a pandemia e de realizar aclamada turnê com Chico Buarque, a cantora não viu alternativa senão a de olhar para o interior de si. E, nesses tempos de canções despejadas aos borbotões nas plataformas digitais, a artista mira-se no exemplo dos autores que fomentam seu trabalho de intérprete. “Os compositores são os cômodos dessa casa”, declarou ela, na noite da última sexta-feira (21), ao (re)abrir sua morada no mesmo Vivo Rio onde estreou um ano atrás.
Diante de um embevecido Francis Hime na primeira fila, a intérprete abriu seu canto preciso e precioso aos tais “Cômodos” ocupando-os com o que há de melhor na MPB, dos consagrados Dori Caymmi e Milton Nascimento a nomes como José Miguel Wismik, Pedro Luís e novíssimos como Chico Chico.
E por se tratar de uma casa, visitas são bem-vindas. E Teresa Cristina foi recebida com a devida pompa. Contemporâneas, as duas haviam cantado juntas nas supracitadas lives, sem ainda terem cantado juntas no palco, a segunda (não, não, a primeira) casa de ambas.
E o engajamento político – marca de Teresa – fez-se presente antes mesmo de ela adentrar o palco. Ao anunciar que faria algo diferente, Salmaso foi interrompida pelo grito “Sem anistia!” vindo da plateia. O brado encontrou eco na anfitriã, que repetiu a frase-protesto.
As manifestação contrárias à possível anistia concedida aos golpistas do 08 de janeiro vieram à baila trazidas por Teresa. Diante de um comentário de Monica de que o filtro delas estava quebrado, numa referência às lives, a sambista não perdeu a deixa:
– Queria ter um filtro para ver certo indivíduo preso.
Ao sair de cena, após dividir os vocais com Monica em “Acalanto” e em “Candeeiro”, ambas da lavra da sambista, Teresa despede-se com o alerta de “Sem anistia”. Antes, porém, fez uma recomendação:
– Aproveitem o show de uma das maiores vozes do Brasil.
O comentário não é mero afago numa colega de ofício. Monica Salmaso pegou para si o condão de “cantora-maestrina” de Elis Regina (1945-1982) ao equiparar técnica e emoção. E isso fica evidente em números como “Morro velho” (Milton Nascimento\Fernando Brant), “Valsinha” (Chico Buarque\Vinicius de Moraes” e em “Quebra-mar” (Dori Caymmi\Paulo César Pinheiro).
O canto de Monica Salmaso é de fato soberano. E, fazendo jus a um dos versos de “Quebra-mar”, “é bonito de se ver” – e arrebatador de se ouvir.
Créditos: Christovam de Chevalier (texto e imagem alto) e Ricardo Nunes (imagem)
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