O vandalismo praticado, na madrugada do último domingo (04), contra a estátua de Mãe Stella de Oxóssi (1925-2018), uma das mais respeitadas ialorixás da Bahia, não foi uma surpresa para o rabino Nilton Bonder. Um dos mais importantes líderes religiosos no país, Bonder vem combatendo a intolerância religiosa desde os anos 1980, quando presidiu o Instituto Superior dos Estudos da Religião (Iser). De lá para cá, as demonstrações de ódio, sobretudo com as religiões de matriz africana, só aumentaram. Em conversa com NEW MAG na manhã desta segunda-feira (05), o rabino sugere que seja promulgada lei com agravante àqueles que perpetram o crime de intolerância religiosa.
– Infelizmente isso não é uma surpresa. Venho acompanhando isso há décadas, nos anos 1980 ainda, como presidente do Instituto Superior dos Estudes da Religião (Iser), iniciamos um processo de denúncia e proteção contra essa guerra religiosa que vem sendo construída no Brasil. Deveria ser promulgada uma lei com agravante às pessoas que perpetram esse tipo de crime hediondo, de intolerância religiosa. Precisamos ser muito rigorosos com isso ou vamos continuar vendo o que acontece, literalmente por décadas, sem nunca termos tido nada eficaz para conter essa atitude inaceitável, essa barbárie que se perpetra aqui no Brasil – defende.
Bonder defende também que as religiões de matrizes africanas, chamadas por ele de “raízes fundamentais do Brasil”, deveriam ser protegidas como Patrimônio Cultural Brasileiro para que não sejam erradicadas a exemplo de outras culturas originárias brasileiras:
– Para nós, são raízes fundamentais do Brasil. O mínimo seria o respeito, mas isso não é também suficiente. São matrizes religiosas tradicionais que deveriam ser protegidas como patrimônio cultural brasileiro. E assim como perdemos tantas e tantas línguas dos povos originários brasileiros e culturas que foram extintas sem a preocupação sequencial dos governos do Brasil , estamos vendo isso acontecer.
Para o rabino, a gravidade do radicalismo da intolerância, que ganha cada vez mais vulto no Brasil, precisa ser acompanhada com atenção e severidade.
– A gente vê essas coisas acontecendo no Oriente Médio, como quando destruíram patrimônios da Humanidade no Deserto de Palmira (na Síria) e tudo mais. Ficamos chocados quando isso acontece no nosso bairro, na nossa cidade ou no nosso país com a mesma gravidade. Devemos agir com maior severidade em relação a isso –arremata ele.