São muitos os elos que unem Chico Buarque e o MPB4. O compositor e o quarteto vocal surgiram concomitantemente na cena musical brasileira, em meados dos anos 1960. E, naquele início de carreira, dividiram muitas vezes o palco – das pequenas boates aos estúdios de TV. Um desses encontros resultou na defesa de “Roda viva” no Festival da Record em 1967. O conjunto e o poeta continuariam a se (re)encontrar nos estúdios, em projetos de ambos, como a vez em que imortalizaram “Tango do covil” no LP “Ópera do malandro”, de Chico, lançado em 1979.
Chico volta agora a dividir os vocais com o quarteto, agora em nova formação (Magro e Ruy Faria, que já havia deixado o grupo, morreram em 2012). E a canção escolhida é “Angélica”, única parceria de Chico e Miltinho, feita em homenagem a Zuzu Angel (1921-1976). A faixa chega às plataformas nesta sexta-feira (17) antecipando-se ao álbum com que o conjunto celebra este ano suas seis décadas de existência.
“Angélica” tem também uma motivação política, assim como “Roda viva” e outras tantas canções de Chico gravadas ou mesmo lançadas pelo MPB4. Zuzu manteve-se aguerrida na busca pelo corpo do filho, Stuart, morto nos porões da ditadura em 1971, na gestão de Emílio Médici (1905-1985), até a morte da estilista, num acidente de carro suspeito, em 1976. Durante seu calvário, ela distribuiu aos amigos cartas com denúncias e uma delas foi deixada na casa de Chico, que gravaria a canção cinco anos depois da morte da amiga, no LP “Almanaque”.
Por isso os versos pungentes como “Quem é essa mulher\Que canta sempre esse estribilho?
Só queria embalar meu filho\ Que mora na escuridão do mar”. NEW MAG enviou a nova gravação à jornalista Hildegard Angel, filha de Zuzu, que se disse tocada pela nova versão:
– Nossa, estou emocionada… O coro pungente, como se fossem carpideiras. Bonito demais! — salientou a jornalista segurando a emoção.
Que a nova “Angélica” toque também as novas gerações, para que se conscientizem de que as liberdades conquistadas custaram as vidas daqueles que as precederam.
Créditos das imagens: Marcelo Cabañas (alto) e reprodução