Na adolescência, vivida em Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo da Bahia, Caetano Veloso queria ir ao cinema todas as noites. Na mesma época, alimentou o desejo de dedicar-se à sétima arte. Esse ofício não seria exercido somente como diretor, mas como pensador e crítico, e ele chegou a ter artigos e resenhas publicados pela imprensa baiana. Esses textos estão agora reunidos num livro. “Cine Subaé – Escritos sobre cinema (1960-2023)” traz 64 textos, sendo 46 deles inéditos em livro.
Fruto do empenho do jornalista Claudio Leal e do fotógrafo Rodrigo Sombra. A coletânea será lançada na próxima terça (21), e no palco, habitat natural do artista. Caetano participa, no Teatro Clara Nunes, no Shopping da Gávea, de conversa com os organizadores da edição, que sai pela Cia das Letras. O evento é organizado pela Janela Livraria juntamente com a editora e terá as vendas dos ingressos (que incluem o livro) revertidas à Ação 342 RS, em prol das vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul.
Os textos, publicados originalmente no santamarense Archote e espaçadamente pela imprensa da capital baiana, revelam o impacto provocado no jovem Caetano pelo Cinema Novo, o neorrealismo italiano, o existencialismo francês e, claro, por produções norte-americanas. O próprio Caetano assina a introdução da obra, cuja orelha A orelha ficou a cargo do cineasta Orlando Sena, editor das primeiras resenhas publicadas pelo artista na imprensa.
“O Cinema Santo Amaro ficava na praça da Purificação, bem perto da igreja de Nossa Senhora. Até a minha adolescência, esse era o único cinema da cidade. (…) As imagens movendo-se na tela me apaixonavam tanto quanto ou mais do que as ruas vistas da bicicleta, voando sobre paralelepípedos, beirando o rio Subaé. Eu queria ir todas as noites ao cinema”, revela Caetano, que dirigiu “O cinema falado” em 1986 e, três anos depois, voltaria à baila no clipe de “O estrangeiro”.
A coletânea traz 12 entrevistas realizadas por ele e é composta, em grande parte, por 76 fragmentos de textos, nos quais o compositor expõe opiniões sobre obras de cineastas como Federico Fellini (1920-1993), Glauber Rocha (1939-1981), Rogério Sganzerla (1946-2004) e, mais recentemente, sobre Kléber Mendonça Filho ou o espanhol Pedro Almodóvar.