Precisão preciosa

fevereiro 25, 2024

Monica Salmaso reafirma-se como grande cantora em estreia prestigiada por Simone, Joyce e por Chico Buarque

O Brasil é profícuo em grandes cantoras. Desde que o samba é samba é assim. Certas grandes cantoras são aptas a cantar de tudo – de tudo mesmo. Certas grandes cantoras ainda conseguem engrandecer aquilo que já é bonito. É o caso de Monica Salmaso. Isso ficou evidente na noite do último sábado (24), quando a cantora estreou o show “Minha casa” para um Vivo Rio atento e reverente à sua arte. E entre seus admiradores, grandes nomes da música como Chico Buarque, Dori Caymmi, Simone e Joyce Moreno, além de talentos de gerações mais recentes como Pedro Luís e João Cavalcanti.

A cantora voltou à casa de shows, no Centro do Rio de Janeiro, um ano depois de pisar ali na companhia de Chico Buarque, na estreia carioca do show “Que tal um samba?”. E nosso grande compositor, sabidamente avesso a badalações, cumprimentou a artista antes de ela entrar no palco. E foi, ao longo da apresentação, merecidamente reverenciado com quatro de suas joias: “A violeira” (com Tom Jobim), gravada por Salmaso no álbum “Voadeira”; “Valsinha” (com Vinicius de Moraes), “Assentamento” e “Beatriz”, esta com Edu Lobo e inclusa no bis.

Comumente afeita a teatros e salas de espetáculo, Salmaso fez jus ao nome do show. Ela estava em casa (mesmo). E ainda que tenha confessado, no início da apresentação,  certo nervosismo, isso não foi notado. O que o público tinha diante dos olhos era uma artista senhora de si e de sua arte, muito bem amparada por seis excelentes músicos sob a direção musical de Teco Cardoso, seu parceiro na música e na vida.

Há muito que Monica Salmaso não é mais a promessa  de uma grande cantora. Quase vinte anos depois de o filme “Vinicius”, de Miguel Faria Jr, reverberar em âmbito nacional seu timbre límpido, ela é o que podemos chamar de uma das nossas maiores cantoras, não deixando a desejar àquelas que a precederam, incluídas aí Elis Regina (1945-1982), Gal Costa (1945-2022) e Leny Andrade (1943-2023).

Monica Salmaso é daquelas intérpretes que tornam o belo sublime. E alguns exemplos são a supracitada “Valsinha”, “Violada” (Guinga\ Paulo César Pinheiro – gravada no magnífico álbum “Corpo de baile” –, “Santa voz” (Baden Powell e Paulo César Pinheiro) e “Morro velho”, de Milton Nascimento.

Se Monica tem o dom de engrandecer o que é belo, é generosa ao dar sua voz aos compositores de gerações mais recentes e das novíssimas. E eles estão muito presentes neste espetáculo: Teresa Cristina (“Acalanto”), Swami Jr (“Vou na vida”, esta com Virgínia Rosa),  Pedro Luís duplamente com “Noite Severina” (com Lula Queiroga) e “Tá?” (com Roberta Sá e Carlos Rennó). E, dos novíssimos, Chico Chico, de quem a artista conheceu “O tempo nunca mais firmou” numa rede social.

O Brasil é profícuo em grandes cantoras. E Monica Salmaso pode cantar o que bem quiser. E assim ela o faz por conseguir o equilíbrio exato entre técnica e emoção, entre entrega e contenção num resultado comovido e comovente. Ela mostra-nos que cantar pode ser algo preciso, sim, e também precioso.

Crédito das imagens: Christovam de Chevalier e  instagram (reprodução Carol Proner)

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