‘Precisamos das manas vivas’

fevereiro 16, 2025

A atriz Shirley Cruz faz sucesso no Festival de Berlim com o filme "A melhor mãe do mundo", estrelado por ela

por Rodrigo Fonseca*

Além de ser respeitada pelo talento que tem na construção de figuras resilientes, a atriz Shirley Cruz traz consigo uma fama boa de bastidor: dizem que ela dá sorte aos filmes que faz. Tal folclore começou quando “Pacificado” (2019), do qual participa, tornou-se o único filme brasileiro a ganhar a Concha de Ouro do Festival de San Sebastián. Naquele mesmo ano, enquanto tomava a TV aberta de assalto com a Gláucia da novela “Bom sucesso”, ela estrelou “Alfazema”, de Sabrina Fidalgo – um ímã de prêmios.

“A melhor mãe do mundo”, seu trabalho mais recente nas telonas, não foi escalado para a mostra competitiva oficial da 75ª Berlinale, ganhando exibições na capital da Alemanha apenas fora de concurso. Apesar disso, a sina boa (e põe boa nisso) de sua estrela já se faz notar diante dos elogios colhidos pela produção, dirigida por Anna Muylaert. A diretora virou uma grife de excelência internacional após o êxito de “Que horas ela volta?”, há dez anos, em Sundance (em Park City, Utah, nos EUA) e no próprio Festival de Berlim.

– Eu tenho muito respeito por roteiro, coisa que a Anna cria muito bem, e qualquer atriz ou qualquer ator no nosso país é fascinado por ela, com quem eu já havia filmado “O Clube das Mulheres de Negócio” e com quem venho agora fazer um cinema de fé – disse Shirley, em papo com o NEW MAG, em terras germânicas.

Faz tempo que a Berlinale abre apoteoses para nossas intérpretes, vide Marcélia Cartaxo (“A hora da estrela”), Ana Beatriz Nogueira (“Vera”), Carla Ribas (“A casa de Alice”), Maria Ribeiro (“Como nossos pais”) e a diva das divas, Fernanda Montenegro, premiada lá, em 1998, com “Central do Brasil”. Shirley se junta a elas, num desempenho visceral. Sua personagem, Gal, é uma catadora de material reciclável que, na sequência de abertura de “A melhor mãe do mundo”, aparece numa delegacia, a fim de relatar a violência de que foi vítima em seu lar. Traz uma ferida no rosto que estampa a brutalidade do marido, o segurança Leandro (Seu Jorge). Bebeu demais, ele bate sempre nela. No empenho para fugir dele, ela coloca seus filhos pequenos, Rihanna e Benin (fãs da cantora Joelma e torcedores do Corinthians) em sua carroça e atravessa a cidade de São Paulo. Pelo caminho, enfrenta os perigos das ruas enquanto tenta convencer as crianças de que estão vivendo uma aventura em família.

– A gente poderia falar de flores, poderia falar de amores, mas, como mulher, como mulher preta, eu preciso dizer: “Parem de nos matar”. Precisamos das manas vivas – diz Shirley, que completa: – Fiz a Gal recém-parida. Tinha acabo de dar à luz e foi uma experiência diferente de tudo. Mãe tem força.

A Berlinale segue até o dia 23, e os resultados da disputa oficial saem na véspera. Neste domingo (16), foi projetado “O último azul”, de Gabriel Mascaro, que assegurou uma ovação para o Brasil, sobretudo por uma luminosa atuação de Denise Weinberg. Numa interpretação colossal, ela vive Tereza, funcionária de um centro de abate e de processamento de jacarés na Amazônia que, aos 77 anos, está destinada a ser confinada num abrigo para idosos. Inconformada com o destino, ela vai buscar uma saída pelos rios e tem a ajuda de um barqueiro vivido por Rodrigo Santoro.

*Enviado especial ao Festival de Berlim

Crédito das imagens: Divulgação (Berlinale) e Rodrigo Fonseca

Shirley Cruz e Anna Muylaert

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