por Jefferson Del Rios*
A potência dramática de Leilah Assunção, com um manto de ironia melancólica, está novamente em cena em “Mergulho no Mistério Dela”. A autora, que conquistou um espaço de honra no teatro brasileiro com o já clássico “Fala Baixo Senão Eu Grito” (1969), acerta, sempre, ao olhar o universo feminino. Não o geral, o que seria difícil dramaticamente ou, então, já no domínio da sócio-antropologia, e Leilah uma é a poeta do cotidiano. Traça o panorama de fundo memorialístico envolvendo mulheres de uma difusa classe média alta. Pessoas que viveram amores, complexas relações familiares, profissões, e que chegaram ao momento crítico da meia idade, ou um pouco mais. A “hora do lobo” quando os fantasmas aparecem.
Aqui, uma atriz e uma filósofa, ambas já aposentadas, dividem o mesmo apartamento e o vazio existencial que fazem emergir idiossincrasias, culpas. Ranzinzices em um duelo verbal entrelaçando inteligência e pequenas maldades. Há menções à Foucault, Hobbes e Simone de Beauvoir em um cotidiano que lembra Os Paralamas do Sucesso em “Lanterna dos Afogados”: (“Quando ‘tá’ escuro e ninguém te ouve/Eu ‘tô’ na lanterna dos afogados”).
Leilah, porém, em um belo risco de bordado, chega ao espetáculo Morte e Vida Severina (1965), que marcou a sua/nossa geração; um canto poético ao amanhã, que será melhor porque uma criança vai nascer.
O ponto final, surpreende e comove, no caloroso e inventivo espetáculo de Marcelo Drummond, que orquestrou com maestria, luz, som, imagens e as emotivas interpretações de Nicole Puzzi e Kate Hansen. Assim, o mergulho intimista de Leilah Assunção termina em luminosa canção.
*especial para o NEW MAG
Crédito das imagens: Eny Miranda