Era um, era dois, era três… Era um anfitrião, quatro convidados e oito dos mais competentes instrumentistas da nossa música. Eram 13 ao todo, e o número não poderia ser mais auspicioso. O anfitrião era um dos nossos mais importantes compositores: Edu Lobo. Seus convidados, quatro das mais belas vozes da nossa música: Monica Salmaso, Zé Renato, Ayrton Montarroyos e Vanessa Moreno. Já a banda era um time de craques cujo técnico era o maestro e arranjador Cristóvão Bastos. Esses talentos juntaram-se, na última quarta-feira (08), na Sala Cecília Meireles, Centro do Rio de Janeiro, em noite que marcou o lançamento de “Edu Lobo oitenta” (Biscoito Fino), álbum duplo que celebra as oito décadas do artista.
A noite foi aberta com “Casa forte”, e a escolha do tema instrumental veio bem a calhar. Afinal, a “casa” tinha como “vigas” mestres como, entre outros, Mauro Senise (sopros), Jorge Helder (baixo), Jurim Moreira (bateria), Marcelo Costa (percussão) e Kiko Horta (acordeom). A estava aberta e Edu Lobo, o grande nome da noite, entrou sem cerimônia.
Nos primeiros acordes de “Vento bravo”, o compositor mostrou que, aos 80 anos, ainda tem fôlego para resistir à voragem do tema. Se na gravação original, Edu esticava as vogais fechadas, agora é nas vogais abertas que ele se segura contra o “vento virador no clarão do mar”. Sim, o mestre deu a partida!
Vanessa Moreno, jovem cantora e instrumentista, foi a primeira convidada da noite. Se ficou mais comedida em “A dança do corrupião”, certamente em respeito às nuances melódicas, a partir de “Choro bandido”, em dueto com Edu, ela mostrou as credenciais que fazem dela aposta promissora da MPB. E, assim, manteve-se em números como “Ave rara” e “Primeira cantiga”, esta em dueto com Ayrton Montarroyos.
Ayrton teve a tarefa de defender temas emblemáticos para duas grandes vozes femininas. O primeiro deles, “O circo místico”, gravada por Zizi Possi no LP homônimo, de 1983, e também no seu LP “Pra sempre e mais um dia”. A segunda era “A moça do sonho”, interpretada por ele com muita suavidade num caminho oposto ao da densidade de Maria Bethânia. E o jovem saiu-se muito bem, fazendo valer o nome de campeão que tem.
Zé Renato ficou com duas pérolas mais obscuras: “Nego maluco”, samba de balanço joãobosconiano, e a pungente “Salmo”. Zé Renato é capaz de realçar sutilezas e belezas no que canta, e sua escolha para os dois temas não poderia ter sido mais assertiva.
Monica Salmaso, a última convidada da noite, foi calorosamente aplaudida pelo público. E ao interpretar “Canto triste” e “Veneta”, mostrou que é, de fato, uma das nossas maiores vozes femininas da atualidade. “Cantiga de acordar” foi apresentada por ela juntamente com Edu e Moreno, e o encontro entre as duas cantoras despertou possíveis corações (ainda) adormecidos.
À trinca juntaram-se Ayrton e Zé Renato mostrando que o grand finale se aproximava. E não poderiam ficar de fora canções emblemáticas como “Upa, neguinho” e “Ponteio’. No bis, um Edu e Salmaso reencontram-se em “Beatriz”, que teve recentemente uma palavra da letra modificada por Chico Buarque, fato comentado por Edu. “Essa canção, feita em 1983, levou então 40 anos para ficar pronta”, brincou.
E a noite encerrou-se com todos novamente reunidos em “Corrida de jangada”. E os festejos foram fechados com uma certeza: Edu Lobo é mestre e proeiro, segundo e primeiro na sua arte. E a noite só fez bem ao coração. E vamos simbora.
Crédito das imagens: Cristina Granato